Despesas de saúde com pacientes de outros municípios chegam a R$ 4 milhões por ano em Petrópolis

25/01/2020 17:18

São 60 km de distância que separam a gestante Luzimar Rosa de sua família que mora em São João do Meriti, no Rio de Janeiro. A jovem, de 32 anos, está internada no Hospital Alcides Carneiro desde outubro do ano passado, fazendo acompanhamento por causa de uma gravidez de risco. A gestação está perto das 28 semanas, e Luzimar ficará internada em um dos leitos da maternidade do HAC até o nascimento do bebê. Esse caso não é raro, Luzimar está entre uma das mais de 900 gestantes que vêm de outras cidades em busca de atendimento na maternidade do HAC, por ano.

Única maternidade gerida pelo governo municipal, o HAC possui, atualmente, 43 leitos de maternidade e 20 leitos de UTI Neonatal e intermediárias. São cerca de três mil partos por ano – destes, 30% são de pacientes de fora do município. Gestantes de Magé, Itaboraí, Xerém, Três Rios, Sapucaia, Areal, Paraíba do Sul, quase todos os municípios que cercam Petrópolis. 

Luzimar veio à cidade a passeio, quando precisou buscar atendimento médico. Desde então segue internada. Além do atendimento clínico, recebe o acompanhamento psicológico também no hospital. “Não é que na minha cidade não tenha atendimento, mas não teria o que tenho aqui. Não penso em ter meu filho lá, tive medo de voltar, não sei como seria”, disse.

Luzimar Rosa, de Meriti: desde outubro internada no Alcides Carneiro, recebe acompanhamento durante a gravidez considerada de risco. Foto: Bruno Avellar/Tribuna de Petrópolis

Além das internações nos leitos de maternidade, os leitos de UTI Neonatal também atendem toda a região. A bebê Ávila Teresa está internada na UTI Neonatal deste o dia 12 de dezembro. A mãe, Ana Maria da Silva Messias, veio transferida do Hospital e Maternidade Santa Teresinha, em São José do Vale do Rio Preto, pouco antes de completar 28 semanas de gestação. Quando Ana Maria buscou atendimento na sua cidade, já sabia que teria que ser transferida para Petrópolis porque em São José não tem UTI Neonatal. “Nunca tinha vindo aqui no Alcides. Vim transferida de ambulância do Santa Teresinha, como talvez meu parto fosse prematuro, como foi, eles me transferiram para que minha filha ficasse na UTI ao nascer”, contou. 

Ana Maria teve alta no dia 25 de dezembro, e vem todos os dias ficar com a filha no HAC. São cerca de quatro horas de viagem por dia de coletivo. Há duas semanas, com a ajuda de amigos e a colaboração da comunidade católica  da qual participa em São José, conseguiu alugar uma kitnet próximo ao hospital e ficará até que a filha tenha alta médica. Além do atendimento clínico, a bebê ainda recebe atendimento da fonoaudiologia do hospital. A previsão é de que ela tenha alta nas próximas semanas. 

Casos como dessas duas famílias são comuns. E a conta está alta para o município, a soma chega a R$ 2 milhões por ano somente com pacientes de outras cidades.

UPA Centro e Pronto Socorro do Alto da Serra lideram o ranking de atendimento a pacientes de outros municípios

Nos últimos três meses, dos 15 mil atendimentos de clínica médica e pediátrica na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Centro, cerca de 10% são de pacientes vindos de outros municípios, como Duque de Caxias, Xerém, Fragoso e Magé. Ainda com o tempo de deslocamento, os pacientes relatam que em Petrópolis há a certeza de que serão atendidos. No Pronto Socorro Leônidas Sampaio, no Alto da Serra, o percentual de atendimento a outros munícipes chega a mais de 40% do total, mas a capacidade de atendimento do pronto socorro é menor, e os pacientes que não conseguem atendimento nesta unidade recorrem à UPA.

A UPA Itaipava, recém-inaugurada, também já recebeu pacientes de outras cidades. Nos primeiros cinco dias de atendimento, já operava com 100% da capacidade, cerca de 200 atendimentos por dia. Segundo o diretor-geral das UPAs, José Victor Caldeira Júnior, 85% dos atendimentos são de pacientes dos 3º, 4º e 5º distritos. Mas ainda teve pacientes de Anta, Sapucaia, Três Rios e Areal. Com a inauguração da nova unidade, a UPA Cascatinha, que absorvia os pacientes dos demais distritos, teve uma redução no número de atendimentos. 

A despesa está cada vez mais alta: além corpo clínico médico, há as despesas com laboratórios, exames e transferências. Pacientes que dão entrada na emergência e precisam de cirurgias, são transferidos para o município de origem em ambulâncias das unidades de saúde de Petrópolis. 

“Isso quer dizer que, a cada 30 dias, é como se as UPAs ficassem três dias fechadas para a população de Petrópolis atendendo somente pacientes de fora do município por 24 horas. Isso no custo das duas unidades, em termos de dinheiro, é uma conta de R$ 1,8 milhão por ano. Que nós não recebemos compensação de lugar nenhum. O município que banca essa despesa médica”, explica do diretor-geral. 

Para Caldeira, se houvesse algum tipo de acordo entre os municípios não haveria problema nos atendimentos a esses pacientes. “O custo com esses atendimentos nas duas UPAs e no HAC, chegamos a R$ 4 milhões por ano. Com esse valor seria possível fazer uma reforma anual em cada UPA e a duplicação da maternidade do Alcides”, exemplificou. “Não há o que fazer, nós não recusamos atendimento, e nem podemos. Todos os pacientes que chegam são atendidos nas unidades, independente de onde vêm”, disse. 

Segundo o diretor-geral, a Secretaria de Saúde fez reuniões junto ao Governo do Estado para apresentar e buscar soluções para a situação. E ainda reuniões setoriais com outros municípios, como Três Rios e Paraíba do Sul, para buscar algum tipo de compensação.

Somente em 2019, as duas UPAs atenderam cerca de 260 mil pacientes. A expectativa é que com a nova unidade em Itaipava os atendimentos ultrapassem 300 mil pacientes por ano. 

A Secretaria de Estado de Saúde e o Ministério da Saúde foram consultados sobre o repasse mensal feito às UPAs, e sobre as soluções que estão sendo buscadas para resolver o problema. A Secretaria de Estado de Saúde respondeu que em 2019 foi feito um repasse de R$ 7,6 milhões para as duas unidades, mas não respondeu sobre que soluções estão sendo estudadas para resolver o problema nos atendimentos. Já o Ministério da Saúde não enviou resposta até o fechamento desta reportagem.

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