Dia da Consciência Negra

02/12/2017 11:01

Como prova de um racismo enraizado, foi instituído no Brasil, e comemorado recentemente, o dia da Consciência Negra. Isso é puro racismo. Consciência não tem cor, pois, se tivesse, teríamos o dia da consciência branca, amarela e vermelha. O que realmente tem que existir e predominar é a consciência humanitária. A lei áurea, assinada pela princesa Isabel, aboliu a escravidão no Brasil, mas não resolveu de todo o problema. Existe até hoje discriminação. Quando um negro consegue se projetar, em qualquer setor da vida pública, fora do futebol, é claro, surpreende.

 E surpreende porque para tal feito precisou derrubar certas barreiras. E o racismo é por vezes inconsciente. Abelardo Romero, meu pai, jornalista e historiador, declaradamente contra qualquer forma de racismo, certo dia me surpreendeu. Ao comentar com ele sobre uma jovem promessa futebolística que estava abafando nos treinos do Flamengo, ele me perguntou: – É branco, o é um negrinho? Surpreso com a pergunta, antes de responder, perguntei: – e isso faz diferença? Papai ficou desconcertado. O racismo é inconsciente. Parece que está em nosso sangue. É nos estados do Rio de Janeiro e da Bahia, onde a raça negra e mestiça é quase predominante, o racismo é bem mais disfarçado, mas existe. Das cidades que conheço nesse imenso Brasil, Recife, em Pernambuco, foi onde eu percebi mais racismo. Mamãe era pernambucana. 

Eu nasci e passei minha infância numa Rua do Rio de Janeiro, que em seu final desembocava num morro e esse morro abrigava uma grande favela. Muito de meus amiguinhos de infância, com quem eu brincava e jogava futebol, eram negros. Quando eu aparecia com um deles em minha casa, mamãe não gostava e isso me aborrecia. Só existe uma forma de o negro ser bem recebido na sociedade: se for rico e famoso. Pelé, por exemplo, não sabe o que é racismo. Entretanto, ele mesmo, Pelé, por via das dúvidas, preferiu casar com uma mulher branca. Ao deixar a adolescência, me apaixonei por uma mulher mulata e isso chegou a causar pânico no seio de minha família. Casaria com ela, se fosse o meu destino. 

Se hoje eu estou vivo, agradeço a um negro. Certa noite, ao brincar de “esconder e de pegar” no morro, cai num poço fundo de onde as lavadeiras costumavam pegar água para lavar roupa. Por sorte, agarrei-me numa moita de capim e comecei a gritar pó socorro. Um de meus amiguinhos se pele escura, que tinha grande deficiência física e por isso era sempre o último a chegar, foi quem me socorreu, pois quem me salvou foi Deus. Portanto, gente, vamos deixar dessa frescura de comemorar o dia da “‘Consciência Negra” e entender que somos todos iguais perante Deus. Salve essa infinidade de negros que superaram as diversas barreiras e impuseram seus nomes na história mundial. Salve o grande Machado de Assis, que é exemplo de boa literatura e que para gáudio, como descendente da raça negra, tornou-se eterno presidente da Academia Brasileira de Letras.  

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