Dia Internacional da Mulher: Delegada Juliana Ziehe conta os desafios da carreira em uma classe com poucas mulheres no comando

08/mar 08:00
Por Maria Julia Souza

Prestes a completar 11 anos de carreira, a Delegada de Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, Juliana Ziehe, ocupou o cargo de titular e adjunta das duas delegacias de Petrópolis e foi a criadora do “Projeto Minha Aurora”, voltado para auxiliar as vítimas de violência sexual. Atualmente, ela é Delegada Adjunta da 110ª DP (Teresópolis) e trabalha mais com os crimes envolvendo violência doméstica.

“O papel de ser Delegada como mulher é uma forma de empoderamento feminino, isso eu não tenho dúvida. Porque a gente está em uma situação de poder, em uma classe que ainda é extremamente machista”, disse Juliana.

Juliana é Mestre em Processo e Efetivação da Justiça e dos Direitos Humanos pela Universidade Católica de Petrópolis. Pós-graduada em Gestão Estratégica, Processos e Projetos Integrados na área de Segurança Pública pela COPPEAD/Universidade Federal do Rio de Janeiro e Pós-graduada em Direito pela Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro. Ela ingressou na carreira de Delegada por se inspirar em seu pai, o também Delegado, Alexandre Ziehe. Além de ser sua inspiração para seguir na carreira, ele também foi um dos seus maiores incentivadores.

Situação constrangedora por exercer a profissão

Ela conta que no início da carreira, ao dar uma ordem para um policial, quase foi agredida pelo agente.

“Eu era muito jovem e era uma mulher jovem comandando um plantão dentro de uma delegacia e por isso [por ser mulher], eu já quase sofri agressão dentro de uma delegacia, por dar ordem para uma pessoa mais velha e homem, ao ponto de uma equipe ter que segurá-lo por conta disso”, contou.

Juliana explica ainda que além de passar por uma situação constrangedora dentro da equipe em que trabalhava, de uma forma geral, também recebeu respostas mais grosseiras e agressivas por ser mulher.

“Ainda tem muito desse desrespeito pela posição de mulher em uma situação de poder. Eu acho que isso é estrutural. A competência é de inúmeras outras mulheres para estarem na mesma situação, e existe uma raridade de encontrar em situação de comando, como diretores e como delegados titulares, outras mulheres. Ainda prevalece um machismo estrutural, que vem da sociedade mesmo”, explicou.

Trajetória

Logo no início da carreira, ela foi Delegada Adjunta da 105ª DP (Retiro) e da 106ª DP (Itaipava). Depois retornou as duas unidades como Titular, assumindo o comando por um ano em Itaipava e por cerca de oito meses no Retiro.

As outras passagens dela como Delegada – Adjunta e Titular – foram em outras delegacias do interior do Estado. Hoje, ela é Delegada Adjunta da 110ª DP (Teresópolis).

Casos marcantes

Juliana explica que o crime envolvendo violência contra a mulher sempre foi muito marcante para ela.

“Inclusive, hoje, em Teresópolis, os crimes que eu mais trabalho como Delegada Adjunta são os crimes de violência doméstica. E os crimes de violência sexual sempre me causaram uma necessidade de me envolver para tentar melhorar essa elucidação do caso, de dar muita atenção para a vítima. Então são crimes que me tocam, me causam preocupação, como mãe, como esposa e como mulher. São crimes que realmente me causam uma maior comoção, de alguma forma”, explicou Juliana.

Tese de Mestrado que virou livro

No ano passado, Juliana lançou o livro “Delegado de política: uma análise do fenômeno da politização da Polícia”, publicado pela editora Appris. Resultado de seu Mestrado em Processo e Efetivação da Justiça e dos Direitos Humanos pela Universidade Católica de Petrópolis, ela analisa, trazendo sua experiência profissional, a relação político-partidária entre os órgãos policiais com agentes políticos integrantes da alta cúpula do governo.

Foto: Arquivo Pessoal

Planos para o futuro

Juliana finaliza dizendo que pretende ingressar em um Doutorado, investindo mais no seu conhecimento.

“E quem sabe trabalhar um pouco mais para divulgar essa necessária visão de uma polícia mais integrada, de uma segurança pública mais integrada com outros setores, com outros agentes, menos politizada e sempre colocando o outro bem próximo das vítimas como uma meta de auxílio através do Inquérito Policial”, finalizou Juliana.

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