Dificuldade de locomoção, de diálogo e divergências políticas: o balanço das operações na tragédia em Petrópolis

22/02/2022 15:47
Por Luana Motta

Na manhã de segunda-feira(21), o secretário de estado de Defesa Civil e comandante geral dos bombeiros, Leandro Monteiro, disse que a maior dificuldade em chegar aos locais para prestar socorro às vítimas e realizar as buscas está sendo a locomoção dentro da cidade. Além da dificuldade do acesso por causa de vias bloqueadas, houve resistência do prefeito Rubens Bomtempo em fechar perímetros e fazer barreiras nas entradas da cidade. Já o prefeito, em conversa ao telefone com a Tribuna, disse que o Estado promoveu, sem sua autorização, ações de assistência social no Alto da Serra, o que impediu que o bairro fosse fechado para a operação de resgate. 

Aos jornalistas, coronel Leandro disse que os bombeiros estão empenhados nas buscas e negou que haja falta de equipamentos para o trabalho. Em relação ao avanço nas operações, o comandante geral disse que encontraram “muitas dificuldades” nas tratativas com o governo municipal. “Pedi que fossem feitas barreiras nas entradas da cidade, e nos pontos onde possivelmente havia notícia de vítima soterrada seria feito uma restrição maior, onde só entraria equipe do Corpo de Bombeiros e nós não conseguimos isso”, disse. 

“Estamos aqui para auxiliar, o grande maestro dessa operação é o prefeito”, enfatizou coronel Leandro. (Foto: Alexandre Carius)

Ainda na coletiva, Leandro disse que a tentativa de articulação começou nas primeiras horas da manhã seguinte à tragédia. “Tentamos no segundo dia, no terceiro dia, conversando diariamente com as forças armadas, e as forças armadas não podem determinar o fechamento da cidade”, disse o secretário. “Estamos aqui para auxiliar, o grande maestro dessa operação é o prefeito”, enfatizou coronel Leandro. 

Mesmo após várias tentativas, o único bloqueio que foi determinado nas entradas da cidade é em relação aos donativos, todos estão sendo direcionados para o ponto de apoio montado em Itaipava. Outra mudança foi a transferência do ponto de apoio do Estado que estava montado no Colégio Estadual Rui Barbosa para o Colégio Estadual Princesa Isabel, no Quitandinha. 

Em conversa por telefone com a Tribuna, na tarde desta segunda-feira(21), o prefeito Rubens Bomtempo criticou a forma como o Estado atuou no Alto da Serra, e atribuiu a esses problemas o não fechamento do perímetro mais castigado pela tragédia. “O Governo do Estado tomou conta do Alto da Serra, fizeram um Poupa Tempo, cadastro do Aluguel Social, no Rui Barbosa”, disse o prefeito. Com o volume de pessoas indo até o Colégio para receber os serviços, o município ficou impossibilitado de fechar o perímetro, justificou o Prefeito. 

Bomtempo disse que disse que o Estado promoveu, sem sua autorização, ações de assistência social no Alto da Serra, o que impediu que o bairro fosse fechado para a operação de resgate. (Foto: Reprodução Redes Sociais) 

Na noite de domingo, Bomtempo gravou um vídeo comunicando a transferência do ponto de apoio do estado para o Quitandinha. Ao receberem a informação, pessoas que estão abrigadas no Colégio Rui Barbosa ficaram apreensivas com a possível transferência durante a noite. A Tribuna conversou com uma das pessoas abrigadas no local, que disse que houve briga e confusão, porque não havia nenhum representante da Assistência Social ou Defesa Civil do município para orientar as famílias. E os representantes do Governo do Estado diziam que não sabiam sobre a transferência dos desabrigados. 

À Tribuna, Bomtempo também criticou a forma como os trabalhos de assistência foram conduzidos no Alto da Serra. “Usaram a quadra da Praça Miguel Couto sem minha autorização”, destacando que o local recebeu donativos de roupas que poderiam ter sido encaminhados para o Centro de recolhimento e distribuição da Prefeitura. Desde o fim de semana circularam vídeos e fotos dos donativos amontoados no chão da quadra. O polo de assistência do Estado fica sob a coordenação da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, que tem como secretário Matheus Quintal.

Imagens que circularam nas redes sociais mostram roupas no chão da quadra no Alto da Serra. (Foto: Reprodução Redes Sociais)

A dificuldade no diálogo e tratativas entre os poderes têm prejudicado o avanço das ações. Outro episódio de confusão, foi relacionado ao prefeito. Durante uma visita ao Morro da Oficina, Bomtempo pediu que os trabalhadores que estavam nas máquinas cedidas pela Prefeitura de Magé parassem, segundo a assessoria de comunicação do governo, a solicitação foi para que o trabalho fosse organizado e pela segurança das pessoas, já que os locais que eles estavam atuando era um local de alto risco. Testemunhas ficaram revoltadas, e o prefeito Rubens Bomtempo teve que gravar um vídeo esclarecendo que não havia rejeitado a ajuda do município vizinho.

Ainda sobre a transferência das forças de trabalho para o Colégio Rui Barbosa, Bomtempo disse que foi uma medida acertada pelo Centro Integrado de Comando de Crise, que é composto por todos os órgãos que atuam nas frentes de trabalho pelo resgate às vítimas. 

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