‘Disco Boy’: filme de guerra tem soldado no limite e ecos de ‘Apocalypse Now’ e ‘Nascido Para Matar’

09/08/2023 13:57
Por Matheus Mans / Estadão

Por mais que Disco Boy seja o primeiro longa-metragem do franco-italiano Giacomo Abbruzzese, não é exagero dizer que este é o filme de sua vida. Independentemente do que vem a seguir, a produção que está em cartaz no Brasil levou 10 anos para ser concluída. Os bastidores das gravações poderiam deixar Francis Ford Coppola orgulhoso – afinal, é difícil não traçar paralelos com bastidores de Apocalypse Now.

“O filme era muito caro no começo. Diziam que era impossível fazer um longa assim com um diretor de primeira viagem. A solução foi ter quatro produtores diferentes em quatro países. Troquei três vezes de produtor francês para encontrar o certo”, conta Giacomo, em entrevista ao Estadão.

Ele acabou arrecadando cerca de US$ 3 milhões em orçamento, mas ainda encontrou resistência na produção – diziam que ele precisa de mais dinheiro para bancar 40 ou 45 dias de filmagem no mínimo. No final, acabou gravando Disco Boy em 32 dias.

“Perdi sete quilos durante as filmagens. Foi como correr uma maratona”, diz o diretor. “Gosto de coisas que podem ultrapassar a linha entre o possível e o impossível. Me interesso por jogar com o limite. Fazer um filme é ficar na corda bamba. Sentia que precisava salvar o filme todos os dias por conta de desafios no planejamento.”

Filme tem semelhanças com Kubrick e Coppola

A história, afinal, é complexa por si só. O longa acompanha Aleksei (Franz Rogowski), um imigrante que foge da Bielorrússia em busca de refúgio e que sonha morar na França. Após uma dolorosa viagem pela Europa, ele chega a Paris e se junta à Legião Estrangeira – ramo do serviço militar do Exército Francês que recruta estrangeiros -, com a promessa de conseguir sua permanência. É durante seu período no exército que ele tem um “encontro de almas” com Jomo (Morr Ndiaye), um guerrilheiro no Delta do Níger que vive na luta armada.

De um lado, há essa história de Aleksei começando um treinamento pesado no exército francês e que lembra, em essência, Nascido para Matar. Do outro, enquanto isso, há toda a parte que se passa na selva do Níger e que, em determinado momento, tem lá as suas semelhanças com Apocalypse Now – ainda que nunca chegue à genialidade do filme de Kubrick, nem de Coppola. Ainda assim, dá para perceber como é uma produção difícil.

Set digno da Torre de Babel

Abbruzzese precisou lidar com um elenco falando cinco línguas diferentes – o protagonista Franz Rogowski, apesar de interpretar um bielorusso, é alemão, por exemplo. “Não quis limitar minha escolha de elenco ao idioma que eles falam. Não é um documentário”, comenta o diretor, sobre essa complexidade no trato de um elenco tão diverso. A ideia, assim, era primeiro escolher os melhores personagens para cada papel e só depois resolver os problemas envolvendo idioma, origem e outras coisas que surgiram.

Mas há, também, algo de simbólico nisso: mesmo sendo uma história envolvendo Bielorússia e Níger, Disco Boy quer ir além. “O filme já chegou a mais de 30 países. Há algo de universal aqui”, contextualiza o diretor. “Eu acho que, de certa forma, esse tipo de trabalho ajuda a chegar a uma verdade mais profunda. Porque é um filme sobre seres humanos, não sobre uma situação específica em algum lugar do mundo, sabe? Isso porque a humanidade é a mesma em todos os lugares. E acho que é isso que estamos tentando fazer em nossa vida. Encontrar uma solução para o que parece ser uma contradição.”

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