Disparidade entre brancos e negros no acesso a crédito cresce no período da crise
Pesquisas realizadas pelo Sebrae, desde o início da pandemia do novo coronavírus, mostram que a diferença do acesso a crédito entre empresários negros e brancos ficou ainda mais acentuada. Apesar da melhoria do índice de sucesso de solicitação de empréstimos, os levantamentos apontam que os empresários brancos tiveram mais êxito na hora da aprovação do crédito. Entre a segunda quinzena de maio e o final de agosto, a proporção dos empreendedores que tentaram crédito em banco, e efetivamente conseguiram, passou de 5% para 8%, no caso dos negros; e, de 7% para 14%, no caso dos brancos.
O dado positivo foi que caiu a diferença entre os dois grupos quanto ao uso das redes sociais como ferramenta de vendas, bem como no nível de empresas endividadas. Participaram da última pesquisa 7.586 empreendedores de todos 26 estados e do DF.
A comparação entre os levantamentos realizados pelo Sebrae, mostrou que, no caso dos brancos, a proporção de empreendedores que buscaram empréstimo em banco, durante a pandemia, passou de 39% (maio) para 51% (agosto). Mas, apenas 17% dos que procuraram até maio e 27% dos que procuraram até agosto conseguiram.
No caso dos negros, a proporção de negócios que buscou empréstimo em banco, durante a pandemia, passou de 38% (maio) para 50% (agosto). Todavia, apenas 14% dos que procuraram até maio e 16% dos que procuraram até agosto conseguiram.
Ainda de acordo com os dados do Sebrae, 65% dos empreendedores negros que solicitaram empréstimos tiveram o crédito negado em agosto, contra 58% dos brancos.
O presidente do Sebrae, Carlos Melles, comenta que é preciso pensar políticas públicas que atendam às particularidades de alguns segmentos de empreendedores, como negros e mulheres, em especial na melhoria do acesso a empréstimos. Mas ele comemora o avanço registrado por empresários negros no uso das redes sociais ao longo dos últimos meses. “No levantamento feito em maio, 57% desses empreendedores usavam as mídias sociais para fazer negócio. Já na última pesquisa feita essa proporção cresceu para 66%. Essa evolução aproximou empreendedores negros e brancos, onde 69% usam essas ferramentas online”, analisa Melles.
Dívidas
A comparação entre as pesquisas do Sebrae mostrou redução no percentual de empresas com dívidas em atraso, para ambos os perfis. Entre maio e agosto, a proporção de negros com dívidas em atraso caiu de 46% para 37% (9 pontos). No caso dos brancos, a proporção caiu de 38% para 30% (8 pontos).
Desafios do empreendedorismo negro
Adriana Moreira é criadora da Feira Preta (evento que reúne empreendedores e consumidores majoritariamente negros). Ela comenta que, em 2019, foi realizado um estudo sobre as dores e amores do empreendedorismo negro no Brasil, que identificou a ausência de um número maior desses empreendedores nas áreas da tecnologia e da indústria, que têm a maior possibilidade de crescimento e escala. “Em função do contexto histórico da escravidão, a população negra teve menos acesso à educação e renda, ocasionando percentuais elevados de subemprego e de desemprego, fazendo também com que essas pessoas empreendessem principalmente motivadas pela necessidade, comenta Adriana.”
Taxa de desocupação no 2ª trimestre de 2020
Por raça ou cor
Pretos e pardos – 15,8%
Brancos – 10,4%
Por sexo
Mulheres – 14.9%
Homens – 12%
Outros números da pesquisa
Empresários negros estão trabalhando mais em casa (34%) do que os brancos (30%)
Empreendedores negros estão trabalhando mais com produtos e serviços essenciais (30%), contra 23% dos empresários brancos.
Empresários negros estão ligeiramente mais otimistas quanto ao tempo total para o retorno ao normal. Para empresários negros, a normalidade será retomada em 10,9 meses, contra 11,7 meses na opinião dos brancos.
Empreendedores pretos e pardos têm menos escolaridade que os brancos – 47% dos negros têm superior incompleto/completo contra 66% dos brancos.
Os empreendedores brancos utilizaram mais as medidas de suspensão de contrato de trabalho, redução de jornada/salários e férias coletivas.
Vale registrar que, segundo o GEM, maior pesquisa sobre empreendedorismo no Brasil, em 2019, 88% dos “Empreendedores Iniciais”, começaram um empreendimento devido à “escassez de empregos”. Este ano, isto vai aumentar, em especial entre jovens, mulheres e negros.
Empreendedores negros têm negócios menores, mais recentes, com menos infraestrutura e menos recursos.