‘Distrito em que era governadora foi o último a cair’, diz refugiada

22/11/2021 08:16
Por Thaís Ferraz e Isabela Fleischmann, especial para o jornal O Estado de S. Paulo / Estadão

A afegã Guljan Samar, de 31 anos, estava trabalhando em uma das províncias remotas do Afeganistão, Daikundi, onde coordenava um grupo de empresas, quando foi nomeada governadora do distrito. Após a fuga do presidente Ashraf Ghani e a queda do Afeganistão, ela esteve na guerra contra o Taleban por dois dias. “O distrito em que fui governadora foi o último a cair. Fui a última a enfrentar o Taleban com as forças sob meu comando. Defendi meu salário e minha terra. Mas infelizmente tudo acabou”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo

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Ela conseguiu fugir com o marido, com ajuda de uma agência americana que trabalha para auxiliar afegãos em situações de vulnerabilidade. “Consegui escapar do cerco do Taleban usando roupas de homem. Fiquei cercada por três dias para chegar ao mais básico das minhas possibilidades. Eu não tinha comida. E consegui fugir a pé pelas montanhas com meu marido e meus cinco seguranças”, afirma Guljan.

Acampamento

Hoje, ela está em um acampamento para refugiados na Albânia enquanto aguarda para ser integrada ao país dos Bálcãs. Ela ainda não tem visto humanitário. Uma das mais jovens empreendedoras do Afeganistão, ela não tem permissão para trabalhar em seu novo país.

Além disso, teme pela segurança de sua família, que continua no Afeganistão. “Infelizmente, um de meus irmãos e dois seguranças foram capturados pelo Taleban. Não sei a informação exata, nem sei onde está o resto da minha família, meus irmãos e sobrinhos”, diz.

Ondas

Da década de 1970 para cá, a diáspora afegã passou por quatro fases. A primeira, iniciada com o golpe militar do Partido Democrático do Povo do Afeganistão contra o governo Daoud, teve início em 1978 e provocou uma fuga em massa de refugiados do grupo étnico pashtun, o maior do país. Eles eram em sua maioria camponeses pobres, agricultores de subsistência, pequenos proprietários de terras e clérigos.

Russos

Com a retirada das tropas soviéticas, entre 1986 e 1989, e a consequente intensificação dos combates entre os grupos mujahideen, uma segunda leva de afegãos deixou o país. Em contraste com a primeira, esses refugiados eram principalmente empresários e profissionais urbanos. Muitos se estabeleceram no acampamento Nasir Bagh, na Província de Peshawar, no Paquistão.

A terceira fase se deu quando o Taleban tomou o poder pela primeira vez, em 1996. Durante este período, cerca de 2 milhões de refugiados afegãos fugiram para o Paquistão e cerca de 1,5 milhão foi forçado a migrar para o Irã.

O grosso dos refugiados era formado principalmente de minorias religiosas e muçulmanos xiitas.

Ataque às torres

A quarta fase aconteceu logo após os atentado de 11 de setembro de 2001, quando o medo de retaliação dos EUA, o aumento da instabilidade e desastres ambientais geraram grandes êxodo – que, em sua maioria, acabaram voltando ao país nos anos seguintes.

Como consequência, o Afeganistão é hoje o terceiro país com mais refugiados pelo mundo.

De acordo com dados da UNHCR, 2,6 milhões de afegãos fugiram do país, número que perde apenas para a Síria (6,8 milhões) e Venezuela (4,1 milhões). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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