Do erudito ao popular: orquestras convidam artistas como Gil e Lulu Santos
Encontros de artistas populares com orquestras não são novidade. Entretanto, sempre que ocorrem, ganham um caráter especial. Nessas ocasiões, a música clássica se torna mais acessível para os ouvidos não acostumados aos concertos. Já a popular ganha novas texturas musicais, sobretudo com instrumentos que, muitas vezes, não estão nos arranjos originais das canções. Nesse segundo semestre, a Orquestra Ouro Petro, formada na cidade mineira de mesmo nome, e a Brasil Jazz Sinfônica, a big band paulista, trazem projetos especiais que contam com a participação de cantores e músicos de diversas vertentes.
Ao lado da Ouro Preto, se apresentam Fernanda Takai, Diogo Nogueira, Alceu Valença, Ana Carolina e Lulu Santos. Com a Jazz Sinfônica, há concertos com nomes como Gilberto Gil, Zeca Baleiro, Alcione, Martinho da Vila, Carlinhos Brown, Adriana Calcanhoto, Hermeto Pascoal, entre outros.
O projeto Orquestra Ouro Preto SulAmérica Sessions terá, além de música, outro atrativo: o cenário. A estreia neste domingo, dia 22, com a apresentação do espetáculo O Tom da Takai, com Fernanda Takai, foi gravado no estúdio Sonastério, na cidade de Nova Lima, em Minas Gerais. Do espaço, com paredes de vidro, é possível ver a paisagem, repleta de montanhas, que circunda a região.
O espetáculo que será apresentado pela orquestra e por Takai é baseado no álbum que a cantora lançou em 2018, só com composições de Tom Jobim – e já havia percorrido cidades do interior de Minas em 2019. “Quando o maestro (Rodrigo Toffolo) ouviu o disco, ele teve a percepção de que a orquestra poderia se encaixar perfeitamente nos arranjos escritos por Roberto Menescal e Marcos Valle. É um álbum tranquilo, calmo, com muito espaço para a minha voz”, diz Takai.
Os arranjos de cordas para a orquestra foram feitos pelo músico gaúcho Arthur de Faria. “Ele é um super apaixonado por Jobim, conhece tudo. Sabia que ele poderia fazer um trabalho bem bonito”, comenta Takai. Além dos músicos da Ouro Preto, a apresentação conta com Thiago Delegado (voz, violões e guitarra), Diego Mancini (baixo), Caio Plínio (bateria) Fernando Merlino (Piano).
De acordo com Takai, Toffolo preferiu que os músicos se juntassem à orquestra justamente para que a interação do popular com o erudito fosse feita por completo. A cantora diz que a combinação resultou “suave”. “Estou muito confortável. Há um diálogo que entende o meu canto. As músicas ganham novas cores. É sofisticado, mas popular. Isso, aliás, está no DNA do Jobim. Todo mundo assovia suas canções”, diz.
O álbum Tom da Takai é focado nas canções lado B de Jobim, aquelas menos conhecidas, como Olha Para o Céu, Samba Torto e Ai Quem Me Dera. Para a apresentação com a orquestra, foram feitas algumas concessões. Os sucessos Insensatez, Corcovado e Chega de Saudade. “É para as pessoas cantarem em casa”, diz Takai.
A apresentação foi gravada no final do mês de julho, em uma tarde, praticamente ao vivo. Takai cantou junto com a orquestra, cercada de todos os protocolos de higiene. Apenas ela e Thiago Delegado não usaram máscara. Em função do uso do acessório, os instrumentos de sopros ficaram de fora.
Além do encontro com Takai, a parceria com Ana Carolina, que será exibida no mês de outubro, também foi gravada no estúdio Sonastério. Já as apresentações com Diogo Nogueira, Lulu Santos e Alceu Valença serão gravadas em uma casa no bairro do Joá, no Rio de Janeiro, com vista, dessa vez, para o mar.
Alceu vai mostrar parte do álbum Valencianas, feito em parceria com a Ouro Preto, vencedor do 26ª Edição do Prêmio da Música Brasileira na categoria melhor álbum de MPB de 2014, além de números inéditos da segunda edição do projeto, previsto para ser lançado em 2022. Diogo Nogueira vai cantar músicas de seu repertório, além de composições de Cazuza, Ivan Lins e João Nogueira, acompanhado também por um regional de choro. Ana Carolina e Lulu Santos cantarão seus grandes hits de carreira.
“Esse projeto mostra o Brasil em todos os sentidos, não só a música, com cinco artistas de diferentes vertentes, mas um país diverso, de serra, de mar”, diz o maestro Rodrigo Toffolo.
Para Toffolo, a orquestra, criada há 21 anos, tem em sua característica esse olhar para a música popular. “É sempre um pêndulo. Quando gravamos Vivaldi, mostramos nossa excelência. Quando gravamos com Alceu Valença ou tocamos músicas dos Beatles, é a nossa versatilidade que aparece. Uma orquestra tem um poder ilimitado, pode acompanhar qualquer tipo de música”, diz.
No palco
Zeca BaleiroO projeto Encontros Históricos, da Brasil Jazz Sinfônica, que teve início em 2020, e, depois de uma interrupção por conta da pandemia de coronavírus, foram retomados no último dia 14, com uma apresentação que uniu João Bosco e Zizi Possi. As apresentações ocorrem no palco da Sala São Paulo, que, com o fim das restrições anunciadas pelo governador João Doria no último dia 17, passa a receber 638 pessoas.
Segundo o diretor-executivo da Fundação Osesp, idealizadora da série, Marcelo Lopes, Encontros Históricos nasceu em 2019, após uma conversa que teve com o ex-diretor da Jazz Sinfônica Antonio Ribeiro, quando foram apresentados os concertos Popular-Sinfônico no Festival de Inverno de Campos de Jordão. “Era um desejo de juntar as duas linguagens. Trouxemos para a Sala São Paulo, que é um palco muito querido para o público, um pouco mais incrementado, com dois artistas”, diz.
Neste sábado, dia 21, o encontro da orquestra será com Zeca Baleiro e Ná Ozetti. Sob a regência do maestro João Maurício Gallindo, eles interpretarão sucessos como Telegrama e Lenha, de Baleiro, e Sutil e Atração Fatal, de Ná.
O concerto será dividido em três partes, com solos e um set final com quatro canções em dueto. “A Ná propôs coisas curiosas como Babylon e Canção VI, do disco que fiz em parceria com a (poeta) Hilda Hilst. Eu sugeri Atração Fatal, reggae de Ná e do Luiz Tatit, e Tem Francesa no Morro, do Assis Valente, numa versão bem particular, que foge do samba tradicional”, conta Baleiro. “Os arranjos ficaram lindos, caprichadíssimos. Tenho certeza que será lindo”, completa.
No dia 28, será a vez da cantora Jane Duboc e do pianista e arranjador Gilson Peranzzetta dividiram o palco com a orquestra para interpretarem músicas de Tom Jobim, Edu Lobo, Lô Borges, Lenine, entre outros. Até dezembro serão outras 9 apresentações – além de uma excursão da Jazz Sinfônica para 14 concertos em Dubai, no mês de outubro.
Apesar de todo o trabalho e dos arranjos diversos a cada apresentação, escritos por 18 arranjadores, o maestro Ruriá Duprat, na Brasil Jazz Sinfônica desde novembro de 2020, diz que todos estão entusiasmados, sobretudo após meses de afastamento forçado dos palcos em razão da pandemia.
Ele cita, por exemplo, a apresentação de Edu Lobo e Mônica Salmaso, no dia 25 de setembro, ainda sem programa anunciado, e outro que juntará Hermeto Pascoal, Hamilton de Holanda e Arismar do Espírito Santo, em 4 de dezembro. “Pensei até em pedir que a Sala São Paulo tire as cadeiras para que a gente assista de joelhos, mas acho que não vai rolar”, brinca.
Assim como acontece com a Ouro Preto, a Brasil Jazz Sinfônica também sobe ao palco sem os sopros, ou seja, estão fora os trompetes, trombones e o saxofones – são 40 músicos no palco em vez dos 70 habituais. “Estamos sofrendo com isso, mas entendemos o cuidado. Os músicos de sopro estão abalados. Mas nosso protocolo é rígido. Fazemos teste toda segunda-feira, antes do primeiro ensaio”, afirma Duprat.
Esse cuidado poderá interferir nos concertos que encerarão a série, nos dias 18 e 19 de dezembro, com Gilberto Gil e o maestro e compositor italiano Aldo Brizzi como convidados. A ideia é que seja apresentada a ópera-canção Amor Azul, uma criação dos dois baseada no poema Gita Govinda – Cantiga do Negro Amor, escrito no século 12 por Jayadeva Goswami, sobre a história de Krishna, o deus do amor, e da camponesa Rhada.
“Estive olhando as partituras e com metade da orquestra no palco não dá. Tem muitos detalhes. Tem trompete com surdina, por exemplo. Mas é uma decisão mais para frente”, diz Duprat, que já tem um plano B: o tropicalismo, com arranjos escritor por seu tio, Rogério Duprat (1932-2006), para grande orquestra e jamais executados.
“A Jazz Sinfônica não faz concerto. Faz show. E bem para caramba. É para cima! Não estamos nos aproximando do pop. Nós somos pop. Esse é o babado”, diz o maestro, que escreve arranjos para a orquestra há 25 anos.
PROGRAME-SE
Brasil Jazz Sinfônica – Encontros Históricos
Sábado (21), 21h – Zeca Baleiro e Ná Ozetti
28 de agosto – Jane Duboc e Gilson Peranzzetta
4 de setembro – Chico César e Elba Ramalho
25 de setembro – Edu Lobo e Mônica Salmaso
9 de outubro – Geraldo Azevedo e Marcelo Jeneci
13 de novembro – Alcione e Martinho da Vila
27 de novembro – Adriana Calcanhoto e Maria Luiza Jobim
4 de dezembro – Hermeto Pascoal, Hamilton de Holanda e Arismar do Espírito Santos
11 de dezembro – Margareth Menezes e Carlinhos Brown
18 e 19 de dezembro – Gilberto Gil e Aldo Brizzi
Onde acompanhar: Sala São Paulo (R$ 50/R$ 180)
Orquestra Ouro Preto – SulAmérica Sessions
Dom. (22), 18h30 – Fernanda Takai
Setembro – Diogo Nogueira
Outubro – Ana Carolina
Novembro – Alceu Valença
Dezembro – Lulu Santos
Onde acompanhar: Canal 500 da Claro TV, Canal da Orquestra Ouro Preto no YouTube e rádio e app SulAmérica Paradiso