Doenças renais em gatos: entenda os riscos, sintomas e cuidados essenciais
As doenças renais são uma das principais preocupações para os tutores de gatos, especialmente à medida que os felinos envelhecem. Em entrevista à Tribuna de Petrópolis, a médica-veterinária Priscila Mesiano, especialista em clínica de felinos, alerta que essas condições, que podem afetar um ou ambos os rins, são uma das maiores causas de mortalidade entre os felinos geriátricos, perdendo apenas para as neoplasias. “A diminuição da função renal pode ocorrer de forma aguda, através de episódios únicos ou repetidos, ou pode evoluir para uma condição crônica, impactando severamente a qualidade de vida do animal”, explica.
Os primeiros sinais de que algo está errado, segundo Mesiano, podem ser facilmente negligenciados pelos tutores, já que muitas vezes são sutis e inespecíficos. “É comum observar um aumento na sede e na quantidade de urina, que muitas vezes são acompanhados por sintomas gastrointestinais, como náuseas, vômitos e perda de peso. Mudanças no hálito também são indicativos de que a função renal do gato pode estar comprometida”, ressalta. Identificar esses sinais precocemente é crucial, pois permite a intervenção antes que a condição se agrave.
A importância da prevenção
Prevenir o desenvolvimento de doenças renais em gatos é possível, e a chave está na realização de check-ups periódicos e na manutenção de uma rotina saudável. “Exames regulares podem identificar os primeiros sinais de insuficiência renal, permitindo que medidas preventivas sejam tomadas de forma antecipada”, afirma Mesiano. Ela destaca que a dieta e a hidratação desempenham um papel essencial na saúde renal dos felinos. “Gatos são conhecidos por sua baixa ingestão de água, o que os predispõe a problemas renais. É importante que os tutores incentivem essa ingestão, distribuindo potes pela casa e até mesmo utilizando fontes. Dietas secas, especialmente aquelas ricas em fósforo, podem ser prejudiciais, especialmente em gatos predispostos. Gatos de raças como Persa, Himalaio e Maine Coon, por exemplo, têm uma predisposição genética para desenvolver doenças renais. Para esses felinos, uma alimentação balanceada e o incentivo à ingestão de água são fundamentais”, orienta a veterinária.
O fator envelhecimento
Conforme os gatos envelhecem, os riscos de desenvolver problemas renais aumentam significativamente. “Os felinos começam a perder néfrons funcionais – as unidades de filtragem do rim – o que os torna mais suscetíveis a doenças renais. Além disso, gatos idosos frequentemente sofrem de dores articulares que os desestimulam a se movimentar, reduzindo ainda mais a ingestão de água”, explica Mesiano. Ela reforça a importância de um cuidado especial com gatos geriátricos, ajustando a dieta, o manejo e o ambiente para favorecer a hidratação e prevenir a desidratação, que pode acelerar a progressão da doença.
Diagnóstico e tratamento
Quando se trata de doenças renais, o diagnóstico precoce é um fator decisivo para o tratamento eficaz. “Exames de função renal, como análise sanguínea e de urina, juntamente com ultrassonografia, são fundamentais para identificar a condição. Uma vez diagnosticada, a doença deve ser estadiada, o que significa determinar em que estágio ela se encontra para orientar o tratamento mais adequado”, orienta Mesiano. Ela enfatiza que o monitoramento contínuo da saúde do animal é essencial para evitar a progressão da doença.
O tratamento das doenças renais em gatos é personalizado, levando em consideração o estágio da doença e os sintomas clínicos. “O tratamento pode incluir desde ajustes na dieta até o uso de medicamentos para controlar sintomas como náusea e perda de apetite. Em casos mais avançados, terapias de substituição renal, como diálise e hemodiálise, podem ser necessárias”, detalha a veterinária. Mesiano também menciona o uso de nutracêuticos – suplementos alimentares com propriedades medicinais – que têm mostrado resultados promissores na gestão da doença renal em felinos.
A influência da genética
Além dos cuidados preventivos e do tratamento, Mesiano destaca o papel da genética no desenvolvimento das doenças renais. “Algumas condições renais, como a doença renal policística, são hereditárias e particularmente comuns em raças como Persa e Himalaio. Embora os sinais clínicos possam não se manifestar até anos após o nascimento, a predisposição genética já está presente desde o início da vida do animal”, explica. Ela também menciona outras doenças hereditárias, como a amiloidose e a displasia renal, embora sejam menos comuns.
A veterinária ressalta que, embora a expectativa de vida de um gato com doença renal crônica varie de acordo com o estágio da doença, o manejo adequado e a intervenção precoce podem fazer toda a diferença na longevidade e bem-estar do felino. Por este motivo, focar na medicina preventiva e realizar check-ups precoces são as melhores formas de detectar e controlar a doença renal em gatos. “Quanto mais cedo for diagnosticada, melhor será a resposta ao tratamento e a qualidade de vida do animal”, conclui.
Priscila Mesiano é médica-veterinária na Clínica Amigo Bicho, em Petrópolis, especializada em felinos. Ela também possui mestrado em Diagnóstico Clínico e é membro da Associação Brasileira de Clínica de Felinos, da International Society of Feline Medicine e da American Association of Feline Practitioners.