Dólar avança 1% com exterior e fiscal no radar, mas recua mais de 2% na semana

08/nov 18:36
Por Antonio Perez / Estadão

O dólar encerrou a sessão desta sexta-feira, 8, em alta firme no mercado doméstico, alinhado à onda de valorização da moeda americana no exterior. O dia foi marcado por tombo das commodities, após decepção com estímulos na China, e sinais de que o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, vai adotar uma agenda mais protecionista.

Ao quadro externo desfavorável a divisas emergentes somou-se a cautela diante da expectativa pelo pacote de gastos em gestação no governo Lula, em meio a uma nova rodada de conversas no Palácio do Planalto entre o presidente e ministros. Parece estar em curso uma queda de braço entre a equipe econômica e os titulares de pastas sociais.

A leitura acima das expectativas do IPCA de outubro engrossa o caldo das apostas em uma taxa Selic ainda mais restritiva no fim do atual ciclo de alta. Na última quarta-feira, 6, ao elevar os juros de 10,75% e 11,25%, o Comitê de Política Monetária (Copom) afirmou que “uma política fiscal crível”, com “medidas estruturais” contribuiria para ancoragem das expectativas e “redução de prêmios de risco de ativos financeiros”.

Com máxima a R$ 5,7908, em sintonia com o ambiente externo, o dólar à vista fechou o dia em alta de 1,07%, cotado a R$ 5,7359. Na semana, a moeda americana acumulou desvalorização de 2,27%, em aparente correção e ajustes após ter atingido na sexta-feira passada, 1º, o segundo maior nível histórico nominal no fechamento (R$ 5,8694).

Apesar dos ruídos internos, o real apresentou hoje queda inferior a de seus pares latino-americanos, como os pesos mexicano e chileno. A moeda brasileira também encerra a semana com ganhos superiores a de outras divisas da região. Termômetro do comportamento da moeda americana em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY subiu cerca de 0,50% e voltou a superar os 105,000 pontos, com máxima aos 105,208 pontos à tarde.

O aumento do estresse no mercado global de moedas ao longo da segunda etapa de negócios foi atribuído a relatos de que Trump convidou Robert Lighthizer para se representante do Comércio dos EUA em seu segundo mandato. Lighthizer é conhecido por sua linha protecionista comercial.

A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, ressalta que o dólar apresentou comportamento bem volátil no exterior ao longo desta semana, mas continua em níveis bem elevados mesmo após o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) cortar ontem os juros em 25 pontos-base, e uma reversão parcial das apostas especulativas pré-eleitorais.

“No cenário doméstico, o foco continua nas medidas relacionadas a corte de gastos. Até o momento não há uma resolução sólida, o que estressou o mercado”, afirma Damico, ponderando que, apesar disso, o real teve um desempenho superior a de seus pares, em parte pelo tom mais duro do Copom.

À tarde, o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, afirmou à CNN Brasil que Lula tem compromisso com o equilíbrio fiscal, mas não quer que os mais pobres arquem com o ajuste. “Para essa proteção social não faltará dinheiro”, disse Dias, que ontem, em nota, afirmou que não haveria cortes em “nenhum benefício” de quem tem direito ao Bolsa Família e ao Benefício de Prestação Continuada (BPC). A revisão no BPC é uma das medidas estudadas pela equipe econômica.

“Se esse pacote prometido pelo governo, que o mercado já vê com muita desconfiança, frustrar as expectativas, podemos ter novamente um dólar bem perto de R$ 5,90. Talvez o governo se veja obrigado a tomar medidas que descontentem sua própria base”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, para quem hoje o ambiente externo dominado pela decepção com o pacote chinês e a perspectiva de volta a guerra comercial com a presidência Trump prejudicou as divisas emergentes.

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