Dólar cai 0,91% com inflação nos EUA e encerra a semana em baixa de 1,60%

26/abr 17:51
Por Antonio Perez / Estadão

O dólar à vista apresentou queda firme no mercado doméstico de câmbio nesta sexta-feira, 26, e esboçou fechar no nível de R$ 5,10. Resultado dentro do esperado do índice de preços com gastos de (PCE, na sigla em inglês) nos EUA em março provocou leve baixa das taxas dos Treasuries longos, o que abriu espaço para uma recuperação de divisas emergentes. Por aqui, a leitura do IPCA-15 de abril não afasta a possibilidade de que o Banco Central desacelere o ritmo de corte de juros e mire taxa terminal perto de 10% em razão do cenário externo, o que sugere manutenção de um bom diferencial de juros.

O real também se beneficiou, segundo operadores, de uma conjunção de fatores locais favorável à diminuição de percepção de risco. Além da liberação de dividendos extraordinários da Petrobras, que se traduz em reforço de caixa do governo, dois pontos amenizam as preocupações com a questão fiscal no curto prazo: a sinalização do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de que a PEC do Quinquênio não vai avançar na Casa e a suspensão da desoneração da folha pelo ministro Supremo Tribunal Federal (STF) Cristiano Zanin.

Tirando uma alta pontual na abertura dos negócios, quando registrou máxima a R$ 5,1706, o dólar à vista trabalhou em queda ao longo do dia. Com mínima a R$ 5,1163 à tarde, em meio a máximas do Ibovespa, a moeda encerrou a sessão em baixa de 0,91%, cotada a R$ 5,1163, no menor valor de fechamento em cerca de 15 dias. A divisa termina a semana com desvalorização de 1,60%, mas ainda acumula alta de 2,01% em abril.

Operadores já notam também movimentos técnicos para rolagem de posições no segmento futuro na virada do mês e a disputa pela formação da última taxa ptax de abril na próxima terça-feira, 30. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para maio teve giro forte, acima de US$ 17 bilhões. Os estrangeiros seguem reduzindo posições compradas em derivativos cambiais (dólar futuro, mini contratos, cupom cambial e swaps), que superaram US$ 70 bilhões na semana passada, novo pico histórico.

As reiteradas declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de que não vai intervir no câmbio para amenizar alta do dólar provocada por mudanças de fundamentos – no caso, a reprecificação dos juros americanos – tiraram fôlego de movimentos especulativos em torno da moeda americana.

“Com diminuição do estresse no exterior, não há justificava para manter um estoque tão grande de posição comprada, porque o custo já não é viável. Estão aproveitando para realizar lucros nesta semana e voltar a aplicar na Bolsa, que tem papéis com preços interessantes”, afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo.

Lá fora, o índice DXY voltou a ultrapassar os 106,000 pontos nas máximas do dia, sobretudo por conta dos ganhos de mais de 1% da moeda americana em relação ao iene, atingindo o maior valor desde 1990. Mas o dólar caiu na comparação com as principais divisas emergentes pares do real (à exceção do peso chileno). As moedas latino-americanas se recuperam nesta semana, diminuindo as perdas em abril, com o real apresentando o melhor desempenho nos últimos dias.

“Embora o DXY tenha mantido certa estabilidade na semana em um patamar elevado neste ano, vimos uma diminuição do estresse no câmbio, com uma certa correção do exagero da semana passada. Mas não há mudança de vetores estruturais”, afirma a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, que não vê alívio adicional para o real daqui para a frente, uma vez que o quadro ainda é de dólar forte no mundo. “Estamos muito colados ao cenário externo, se o Fed vai cortar ou não a taxa de juros.”

O PCE e seu núcleo avançaram 0,3% em março em relação a fevereiro, ambos em linha com as projeções dos analistas. Após o PCE do primeiro trimestre, divulgado ontem junto com a primeira leitura do PIB americano, ter vindo acima do esperado, temia-se que a leitura de março viesse pressionada. Sem sustos no PCE de março, as chances de que o Fed promova um corte de juros em setembro avançaram, superando os 60%, segundo monitoramento do CME Group.

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