Dólar cai 1,46% com tom duro da ata do Copom e menor aversão a risco

06/ago 17:48
Por Antonio Perez / Estadão

A recuperação do apetite ao risco no exterior e o tom duro da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) derrubaram o dólar no mercado doméstico na sessão desta terça-feira, 6. Em baixa desde a abertura dos negócios e com mínima a R$ 5,6313 no início da tarde, a moeda americana fechou cotada a R$ 5,6574, em queda de 1,46%. Ontem, no auge do estresse lá fora, o dólar havia superado pontualmente os R$ 5,85, atingindo os maiores níveis desde março de 2021.

Com a diminuição dos temores de recessão nos EUA, investidores abandonaram o refúgio dos Treasuries e voltaram aos mercados acionários. As bolsas asiáticas se recuperaram e os índices em Nova subiram mais de 1%. O iene caiu cerca de 0,60% em relação ao dólar – o que aliviou a pressão sobre divisas de países de juros altos, abaladas nos últimos dias pelo desmonte das operações de carry trade financiadas na moeda japonesa.

O real ostentou o melhor desempenho entre as principais divisas globais. Além de uma correção técnica, a moeda brasileira foi beneficiada pela sinalização do Banco Central de que pode elevar a taxa Selic. Além de eventual ampliação do diferencial de juros interno e externo, uma vez que o Federal Reserve deve cortar a taxa básica americana em setembro, há um ganho de credibilidade da política monetária com o discurso uníssono do Copom.

O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, observa que a moeda brasileira se beneficiou hoje de uma melhora do ambiente externo, com recuperação das bolsas e avanço das taxas dos Treasuries, o que mostra menor aversão ao risco.

“Mais o ponto principal foi a ata do Copom bem mais dura, sugerindo que houve um debate sobre alta dos juros. Essa mudança no tom da política monetária provocou o fortalecimento maior da nossa moeda”, afirma Lima.

Divulgada pela manhã, a ata do Copom trouxe um recado claro de que há possibilidade de elevação da taxa Selic em breve, algo que não identificado por analistas no comunicado de quarta-feira passada, 31, quando o colegiado decidiu manter a taxa Selic em 10,50% ao ano.

Após do alerta para o “cenário é marcado por projeções mais elevadas e mais riscos para a alta da inflação”, a ata traz um trecho claro de que os integrantes do Copom estão alinhados em torno de seus próximos passos: “o Comitê, unanimemente, reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”.

Para o economista da Western, caso os próximos indicadores mostrem que não há um quadro de desaceleração aguda da economia americana, amparando uma estratégia de redução gradual dos juros pelo Fed a partir de setembro, é possível que o Banco Central brasileiro opte por uma elevação da taxa Selic. Isso porque o quadro doméstico é de crescimento acima do esperado, mercado de trabalho aquecido e expectativas desancoradas, como pontuado pelo Copom na ata.

“O real está muito depreciado e pode se recuperar. Mas é preciso lembrar que diferencial de taxa de juros é um elemento e não necessariamente o mais importante. Precisamos de uma retomada da credibilidade da política fiscal, além de um cenário externo de menor aversão ao risco”, diz Lima.

O economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, ressalta que um corte de juros nos EUA e a continuidade do movimento de “correção” das ações de big techs podem ser positivos para os ativos domésticos. Ele afirma que tanto as taxas americanas elevadas quanto o apetite por ações de tecnologia estavam drenando recursos de países emergentes.

“O Brasil continua sendo uma alternativa boa e barata. A moeda brasileira se valoriza bastante hoje”, diz Gala, acrescentando que a ata do Copom mostra que o país “está no limite” de entrar em um ciclo de alta da Selic. “Este Copom que está aí não vai ter dúvida em subir os juros. O Brasil cresce mais do que se imaginava, graças às transferências sociais, que estão gigantes”.

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