Dream team dos cifrões?
Ainda que, para uma parcela expressiva da sociedade, a definição do impeachment da presidente Dilma Rousseff possa representar o fim de um ciclo e sinônimo de alguma inflexão, para o governo interino de Michel Temer o resultado importará pouco. Não vai além da assinatura, que apagará o fatídico “em exercício” nos documentos oficiais e matérias jornalísticas.
Fato é que não há governo na face da Terra que consiga realizar duras — e no caso do Brasil, necessárias! — reformas na Previdência Social e na Legislação Trabalhista, depois de flexibilizar, em dramático recuo, o controle de gastos de Estados e Municípios, descartar sumariamente uma ampla reforma institucional e de conceder reajustes salariais em montantes estratosféricos a categorias específicas, onde ululam polêmicas regalias, reluzentes penduricalhos e benefícios exclusivos, além do famigerado — e deturpado! — conceito de “direito adquirido”, que neste país quase nunca rima com “dever cumprido”.
Cumpre ressaltar: para os anos de 2016 e 2017, se somados, o rombo nos cofres públicos gerenciados pelo Governo Federal está estimado em mais de R$ 300 bilhões. Quando neste cálculo são incluídos os déficits de Estados e Municípios, a conta negativa ultrapassa R$ 1 trilhão.
Quem vai pagar a conta desse “cheque especial”? É certo que a fatura será entregue à parcela mais pobre do povo brasileiro, justamente aos que estão aceitando até redução de salário e perda de benefícios para manter seus empregos num país caótico que, neste momento, tem mais de 12 milhões de desempregados.
Como os “seletos grupos” sequer cogitam abrir mão de suas mordomias e exclusividades, a conta continuará “não fechando” e, desde já, o respeitável público é comunicado sobre a “possibilidade” de criação e aumento de impostos. E, quando o assunto é imposto — já vimos essa língua do “P” antes, né?! —, “possibilidade” é um “P” idêntico ao “provisório”, desavergonhadamente substituído por “permanente”.
Cansar-me-ei jamais em reiterar: não adianta montar uma superequipe econômica, um onírico “dream team dos cifrões”, se ela é incapaz de subjugar o pântano político e sindical e executar uma agenda fiscal austera e robusta, única saída real para uma crise sem precedentes em nossa História.
Aliás, de nada adianta ter o “time dos sonhos” no Ministério da Fazenda — e um “time pesadelo” nas demais pastas! —, quando um dos jogadores está de olho no cargo do técnico.
Que me perdoem os temeristas, mas o atual governo já mergulhou de cabeça na gestão temerária.