Duro e realista, filme relata luta pela sobrevivência após queda de avião nos andes

10/12/2023 08:00
Por Alina Dieste / Estadão

O jornalista e escritor uruguaio Pablo Vierci nunca se esquecerá do momento em que ouviu os 16 nomes. Estavam vivos, dois meses depois da queda de um avião nos Andes. Meio século mais tarde, um filme sobre a incrível epopeia homenageia também os 29 que morreram.

“Faltava contar a história global”, conta Vierci, produtor-associado de A Sociedade da Neve e autor do livro de mesmo nome, lançado em 2008, sobre o célebre acidente aéreo de um grupo de uruguaios na cordilheira entre Argentina e Chile em 1972.

“Tendemos a focar muito nos sobreviventes, porque era tão épico o que eles haviam conseguido. Mas os outros 29 ficaram nas sombras. Em um caso bastante atípico, o fato é que os 16 estão vivos graças ao fato de que houve mortos”, afirma Vierci, colega de escola e vizinho de muitos dos que viajaram no fatídico voo 571.

Doze pessoas morreram em 13 de outubro de 1972, quando um avião da Força Aérea Uruguaia, fretado para levar uma equipe de rúgbi amadora e seus amigos e familiares, caiu no Vale das Lágrimas, nos Andes argentinos, perto da fronteira chilena e a quase 4 mil metros de altitude. Outros 17 morreram depois, na montanha.

Ao final de uma odisseia heroica, dois sobreviventes conseguiram chegar ao Chile para pedir ajuda e os outros foram resgatados após 72 dias de frio extremo e serem obrigados a consumir a carne dos mortos. Esse “pacto de entrega mútua” na imensidão da neve comoveu o cineasta espanhol Juan Antonio Bayona, que leu o livro de Vierci enquanto filmava O Impossível, em 2011.

O longa de Bayona sobre o “milagre dos Andes”, ovacionado no Festival de Veneza, premiado no de San Sebastián e escolhido para representar a Espanha no Oscar, estreia dia 14 nos cinemas e em 4 de janeiro na Netflix.

ABRAÇO FINAL. A impactante história já foi tema do filme mexicano Sobreviventes dos Andes (1976), de René Cardona, e da produção hollywoodiana Vivos (1993), de Frank Marshall, com Ethan Hawke e Josh Hamilton. E inspirou documentários, como A Sociedade da Neve (2007), do uruguaio Gonzalo Arijón.

Mas o filme de Bayona, idealizado em 2016, é especial porque cumpre “várias premissas imprescindíveis”: conta com a anuência de todos os sobreviventes e enlutados, é falado em espanhol e mostra esse “não desistir” que é parte da idiossincrasia uruguaia, segundo Vierci.

Não é cinema de catástrofe, nem filme de aventura ou thriller. “É uma experiência emocional inspiradora, no limite entre a vida e a morte, e, não obstante, de esperança”, resume o escritor, de 73 anos.

Para seu amigo Daniel Fernández Strauch, que tinha 26 anos na época, o grande acerto do filme de Bayona é a autenticidade. “Nesse longa, as pessoas vão entender o que passamos”, afirma o hoje engenheiro-agrônomo aposentado de 77 anos.

“Até a sensação de frio volta. É de um realismo total. A história é bastante dura, mas está muito bem contada”, acrescenta Fernández Strauch, que, com os primos Eduardo e Adolfo, organizava o alimento, “a tarefa mais horrível de todas”.

As filmagens de A Sociedade da Neve levaram 141 dias, em locações na Argentina, Espanha, no Chile e Uruguai.

O mais inesquecível de tudo foi a sua projeção aos sobreviventes, no dia 1.º de setembro, em Montevidéu. Fernández diz, ao recordar esse momento: “O abraço final de todos era como se a cordilheira tivesse vindo para Montevidéu. Estávamos todos lá”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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