‘É impossível uma mãe não sentir raiva’, diz Samara Felippo sobre racismo contra a filha

06/maio 12:39
Por Redação O Estado de S. Paulo / Estadão

A atriz Samara Felippo voltou a comentar sobre caso de racismo sofrido por uma de suas filhas na escola Vera Cruz, colégio particular na zona oeste de São Paulo. Ao Fantástico, da Globo, no domingo, 5, a atriz afirmou que a filha chorou compulsivamente por estragarem o trabalho dela. “É impossível uma mãe não sentir raiva nesse momento. Eu não quero ver minha filha chorando. Nenhuma mãe quer”, relatou Samara.

A atriz tem cobrado atitudes para garantir que a adolescente possa continuar a frequentar a escola em segurança, como a expulsão das estudantes envolvidas, ato que a escola se recusa.

“Eu gostaria que a minha filha não convivesse mais com as agressoras. Quando essas meninas voltarem ao ambiente escolar, se voltarem, a minha filha vai revisitar essa dor. Você entende? Eu não quero mal, eu não estou odiando ninguém”, disse Samara.

Em entrevista ao Estadão, a diretora pedagógica da Escola Vera Cruz, Regina Scarpa, afirmou que a expulsão não foi efetuada porque isso seria “a sanção mais extrema que pode ser adotada” quando se deixa de acreditar “na possibilidade de transformação dos sujeitos envolvidos ou na possibilidade de cura da vítima”. Mas que isso não quer dizer, segundo a educadora, que as alunas não tenham entendido a seriedade do que fizeram.

“Não estou aqui para apedrejar a escola. Imagina, recebeu o acolhimento. Achei que a primeira ação que eles fizeram foi importante para acharmos os responsáveis, mas ainda é um projeto antirracista falho”, destacou Samara durante o programa.

A escola reconheceu o ato como uma atitude racista grave e afirmou que as agressoras ficaram suspensas por tempo indeterminado. “Se a gente conseguisse identificar que as meninas fossem reincidentes, a gente chegaria provavelmente a uma situação de expulsão, não foi isso que a gente encontrou”, disse o coordenador da escola, Daniel Helene, ao programa.

Ao ser questionado sobre como lida com a questão sendo uma mãe branca de crianças negras, Samara ressaltou que ajuda sua filha estando engajada no letramento racial e levando a jovem para o convívio com pessoas negras. “Eu queria trazer para o centro desse debate as mães pretas, todos os dias essas mães precisam revisitar dores que elas viveram, coisas que eu não passei, e que nunca vou passar, mas vivo com minha filha”.

Relembre o caso

De acordo com relato feito por Samara em um grupo de pais no Whatsapp, ao qual o Estadão teve acesso, a filha mais velha, de 14 anos, fruto do relacionamento da atriz com o ex-jogador de basquete Leandrinho, teve o caderno furtado, folhas foram arrancadas e, em seguida, ele foi devolvido aos achados e perdidos da escola com uma ofensa de cunho racial escrita em uma das páginas. O caso ocorreu no dia 22.

O Vera Cruz reconheceu o caso e enviou um e-mail, obtido pelo Estadão, para os pais dos alunos do 9º ano, série que a filha de Samara está cursando. No comunicado, o coordenador Daniel Helene diz que a menina procurou a professora e a orientadora da série quando se deparou com as ofensas no caderno e foi acolhida.

“Desde o primeiro momento, mantivemos contato constante com a família da aluna vítima dessa agressão racista, assim como permanecemos atentos para que ela não fique demasiadamente exposta e seja vítima de novas agressões. Na circular enviada a todas as famílias no mesmo dia, solicitamos que todos conversassem com seus filhos sobre o ocorrido, e, na terça-feira, dia 23 de abril, duas alunas do 9º ano e suas famílias compareceram à escola, responsabilizando-se pelos atos”, explica o e-mail.

As alunas foram suspensas por tempo indeterminado e tiveram a participação em uma viagem da escola vetada. “Ressaltamos que outras medidas punitivas poderão ser tomadas, se assim julgarmos necessárias após nosso intenso debate educacional, considerando também o combate inequívoco ao racismo”, afirmou o coordenador.

No texto enviado ao grupo de pais, Samara diz que pediu a expulsão das alunas responsáveis e afirma que a escola tem conduta omissa diante de reiterados episódios de preconceito.

“Não é um caso isolado, que isso fique claro!!! Os atos hostis e excludentes vem sendo cada vez mais violentos e reincidentes. (Ela) só queria fazer parte de uma turma e era excluída de trabalhos, grupos, passeios, aceitava qualquer migalha e deboche feito pelas mesmas garotas, e seu nome sempre era jogado em fofocas, ‘disse me disse’ e culpada por atos que não cometia”, afirmou a atriz no grupo de pais.

Samara Felippo abriu um boletim de ocorrência e a Polícia Civil vai investigar o caso. O caso, registrado como “preconceito de raça ou de cor”, foi encaminhado ao 14° DP (Pinheiros).

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