É preciso falar sobre inatividade física das crianças na quarentena

07/05/2020 12:00

Vivemos tempo difíceis. Vivemos uma pandemia. Apesar de as crianças não estarem no grupo de risco da Covid-19, as famílias precisam estar com o alerta ligado. O tempo em casa, que era para ser inicialmente de 15 dias, está sendo ampliado de forma cautelosa pelos governos, sempre baseados nos riscos à saúde de toda a sociedade. Com isso, na medida em que fica reclusa, a garotada, na maioria das vezes, passa boa parte do tempo presa as telas, não se movimenta, não corre e não brinca. E quando falamos de inatividade física, precisamos pensar nas consequências para a saúde física e mental.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) há mais de 340 milhões de crianças acima do peso. No Brasil, mais da metade dos adolescentes brasileiros são inativos. E é nesta faixa etária que surgem os problemas da saúde adulta. Isso é uma preocupação porque a maioria das crianças obesas torna-se adultos obesos, com riscos significativos de desenvolver diabetes, hipertensão, câncer e doenças cardiovasculares. Por isso, movimentar-se é tão importante quanto acompanhar as aulas onlines das escolas.

O diabetes é outra doença crônica, muitas vezes silenciosa. O Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking das crianças com este tipo de comorbidade. Estudos realizados em diversas capitais apontam que a inatividade física agrava o risco de diabetes. O diabetes, atualmente, atinge cerca de 415 milhões de pessoas no mundo. Em relação às crianças e aos adolescentes, o número de diabéticos é superior a 1 milhão! Algo assustador.

Como professor de educação física, sempre me chamou a atenção o fato de meus alunos sentirem muita sede durante as aulas. É claro que a hidratação durante o exercício físico é essencial, porém sempre percebi uma sede excessiva. Comecei a ligar os fatos e realizei estudos, comparando as atividades físicas com os exames laboratoriais.  O que era teoria virou prática. Tenho inúmeros alunos diabéticos! Por isso, acredito que solicitar um exame de sangue no início do ano letivo deveria ser uma prática escolar.

Durante esta quarentena, os hábitos alimentares das crianças não são os mais adequados, com predomínio de alimentos ricos em gordura, açúcar, corantes e conservantes, além de baixo consumo de frutas e verduras. Muitas vezes, desembalar é mais fácil do que descascar. Com isso, o risco do surgimento de problemas de saúde é ainda maior.

Neste período em que é recomendado permanecer em casa, é importante que as crianças brinquem, joguem e se movimentem dentro de sua residência ou no quintal. Há diversas brincadeiras. Algumas bem simples, como piques, amarelinhas, pular corda, cabo de guerra e, até mesmo, dançar. Todas podem ser feitas dentro de casa. Basta querer.

Durante a quarentena, as famílias estão tendo a oportunidade de estarem mais próximas de seus filhos. Por isso, é importante limitar o tempo diante dos celulares, computadores e televisores. É uma tarefa difícil, tendo em vista o poder da tecnologia, porém é extremamente necessária e urgente.

O melhor exercício é aquele que pode ser feito regularmente. O dia possui 1.440 minutos e a OMS sugere que as crianças acumulem 60 minutos de exercício físico diariamente. Os benefícios são incontáveis, como por exemplo diminuição da gordura corporal, redução da pressão arterial, queda da glicose presente no sangue, fortalecimento ósseo e muscular, controle da ansiedade e menor concentração de triglicerídeos e colesterol.

É imprescindível que todos tenham consciência sobre a importância do estilo de vida ativo e saudável. A saúde do adulto depende do estilo de vida jovem. É possível construir um futuro mais saudável ainda hoje. Basta querer e movimentar-se.

 

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