É preciso ver o óbvio

09/06/2019 07:00

Às vezes, ficamos pasmados ao ver o esforço dos que pretendem “tapar o sol com a peneira”. Estes, diante do insucesso da vã tentativa, apelam para as cortinas de fumaça. Mas estas, o vento se encarrega de dissipá-las. Quando o Sol raia nas manhãs em que a liberdade tremula no mastro da esperança, os meninos vão às ruas para dizer que o rei está nu, despido de propostas que possam atender aos anseios do povo. Tentam vesti-lo com teorias e/ ou revesti-lo com aparatos bélicos. 

Quando o rei é avesso ao diálogo, não gosta de quem gosta de versos, nem de quem questiona os reversos da vida. Vive cercado de segurança pela insegurança que o cerca. 

O óbvio se torna distante de quem não se aproxima da História. Os passos do presente não são tão largos. Embora não haja estacionamento para o tempo, o passado não passa como um raio. Sobre a memória do povo, não há peneira que impeça a luz do Sol. O amanhã vem após a travessia da noite. A fé sabe temperar a paciência. Para ruminar, basta uma sobra. O pensamento que se constrói no silêncio ajuda a manter os pés no chão. Atravessa-se um deserto para se respirar o ar da liberdade na outra margem.  A Terra prometida é a Pátria Livre. 

O espelho é também um retrovisor. Vê-se no presente sem deixar de olhar para trás. Quando o rei está nu, a bandeira é o primeiro tecido que colocam sobre ele. Mas esquecem que a Pátria é o povo. Dele, emana “todo o poder”, reza a Constituição. “Dar a César o que é de César”; não, o que é do povo. O que é deste não é daquele. 

O óbvio caminha pelas ruas com o nome de realidade. A palavra fome pode ser classificada como um substantivo abstrato, mas a sua concretude está na população que vive abaixo da linha da pobreza, naqueles que sentem o calo apertar. E calados, calejados caminham, apertam o cinto, não por questão estética, mas como consequência de um estado recessivo. Há os que desistiram de procurar emprego, há os que “se viram” e se veem na informalidade, sem carteira assinada, há também agora os que se sentem ameaçados com a perda da possibilidade de qualificar-se melhor para o mercado de trabalho, diante dos cortes de verba na educação. É triste ver as grandes filas quando surgem oportunidades de emprego. A falência tornou-se freguesa no comércio.

 No campo e nas construções, lavradores, operários conhecem bem o peso da caneta. Os cegos de consciência não enxergam as consequências da miséria. A teoria de barriga cheia é prolixa, basta um copo de uísque para ignorar a prática.

 O curso da história registrada na memória do povo explica o medo da guerra fria. O queijo desejado pelos ratos de duas patas está no erário. Andam de colarinho branco, não querem saber da vida do carvoeiro, nem da mata de onde foi tirada a lenha, só querem puxar a brasa para a sua sardinha, mesmo sem saber quem a pescou. 

“Estudar para ser alguém na vida” – quantos pais disseram isso a seus filhos? O estudo não pode deixar de ser o alicerce da busca de uma vida melhor. Como um povo pode evoluir sem educação?

Chamam de concorrência o “salve-se quem puder”. A farinha está pouca, por isso que a briga é para ter o pirão primeiro. E, para tal “conquista”, muitos são treinados. Mas como competir sem competência? Nessa competição, é dente por dente, olho por olho. Ninguém enxerga as mãos estendidas. A solidariedade é o ponto fora da curva. No mundo dos negócios, as regras são maquiavelizadas politicamente para que os fins justifiquem os meios sem deixar peso na consciência. E assim, o óbvio continua ululando.

Últimas