Educação no Brasil e em Portugal

É sempre um tanto constrangedor falar sobre educação no Brasil e ter que descomemorar nossa posição humilhante nos últimos lugares em leitura, matemática e ciências no PISA – Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, ensino básico (fundamental e médio), na faixa dos 15 anos. O recorde às avessas foi ficar 53º lugar entre 81 países pesquisados. Muitas são as tentativas de explicar um desempenho tão acachapante.

Situações como esta nos sugere sair em busca do sistema de incentivos que está por trás desse pífio posicionamento. Em artigo recente, de 16/12/2023, o colunista Carlos Alberto Sardenberg, em boa hora, resolveu comparar as notas das escolas do setor privado com as das escolas públicas. É fato que os resultados do PISA, em anos anteriores, já revelavam uma discrepância acentuada entre os dois setores.

O mérito do jornalista Sardenberg foi fazer um cotejo mais acurado entre os resultados da escola privada em comparação com os países desenvolvidos. Em leitura, as escolas privadas atingiram 500 pontos. E, agora, surpreenda-se! O espetacular é que elas conseguiram a proeza de ficar “em 11ª posição, ACIMA da média dos países ricos da OCDE, e à frente de nações como Reino Unido, Finlândia, Alemanha e França”, nas palavras de Sardenberg. E note que a Finlândia tem simplesmente a melhor educação do mundo na média global. Pelo menos aqui, temos muito a comemorar.

Em ciências, as escolas privadas atingiram 493 pontos e 20ª posição, que as colocaram acima das nações da OCDE, que reúne as economias mais desenvolvidas. Os alunos das públicas cravaram apenas 388 pontos nessa área. Esta pontuação as despachou para o 64º lugar. Ou seja, 24 pontos abaixo do que foi conseguido pelas instituições privadas.

O pior posicionamento para ambos os setores, privado e público, ficou na  matemática, como sempre. As públicas só atingiram 366 pontos (69ª posição) e as particulares, 456 pontos (38ª posição). Uma diferença de 90 posições entre as duas em prejuízo das públicas. Trata-se de uma situação que atinge toda a América Latina. Não é algum problema genético, mas algo bem prático que o método Kumon aplica no reforço de alunos que vão mal em matemática: fazer regularmente muitos exercícios dentre outras técnicas que garantem o sucesso.

Vamos, agora, ao caso interessante de Portugal. O Prof. Santana Castilho, que labuta no ensino superior português, publicou, no jornal “Público”, de Lisboa, em 20/12/2023, um artigo elucidativo intitulado “PISA 2022: os factos e o responsável”.  A situação deles foi bem diferente da nossa. Portugal vinha registrando melhoras significativas ao longo de vários anos. Nas palavras dele: “Testados 6793 alunos de 224 escolas portuguesas, o PISA de 2022 confrontou-nos com os piores resultados desde 2006”(…). “Os alunos portugueses com 15 anos de idade pioraram os resultados a Leitura, Ciências e Matemática, relativamente a anteriores avaliações”.

Ao compararmos a pontuação global entre Brasil e Portugal (neste não foi feita a comparação entre públicas e privadas), não nos saímos nada bem no geral. A pontuação em matemática em Portugal foi 472 contra 376 pontos nossos; em leitura, Portugal atingiu 477 contra 410 pontos nossos; e em ciências, 483 para eles e 403 pontos para nós.  Ainda temos uma boa caminhada para chegar ao mesmo patamar de Portugal.

Como entender então essa reviravolta para pior em Portugal? O Prof. Santana Castilho  nos informa em seu artigo que até 2015 Portugal vinha num crescendo. E foi exatamente o ano em que o sr. João Costa assumiu as funções de secretário de Estado, para nós ministro. Os resultados negativos foram devido a suas políticas bizantinas de destruição das escolas públicas.

Curiosamente tais políticas nos relembram a aprovação automática que ficou vigente por mais de duas décadas no Brasil, em especial no Rio de Janeiro, cidade que já teve a melhor escola pública do país. E deu no que deu. As bizantinices seriam a origem da descida ladeira abaixo. Basicamente, nas palavras de Castilho, “as nefastas políticas de flexibilidade curricular e pseudo-inclusão; abolição de avaliações rigorosas, internas e externas, e sucesso imposto, com passagens de ano praticamente obrigatórias”.

Similarmente ao que disse Raul Sonado, famoso humorista português, sobre a Revolução dos Cravos, que “o florista mandou a conta”, podemos afirmar que, agora, quem mandou a conta foi o PISA 2022. O sr. João Costa parece desconhecer o que aconteceu na França já faz algum tempo em que o afrouxamento dos elevados padrões exigidos dos alunos resultou num desempenho sofrível  deles no plano global da educação pública francesa. Rapidamente, a França se deu conta do estrago e voltou atrás.

Retomando as considerações feitas pelo colunista Sardenberg, cabe levar em conta as dimensões continentais do Brasil. É este fato que nos permite ter dentro do Brasil cerca de 50 milhões de pessoas, nas regiões mais desenvolvidas, que podem ser consideradas funcionalmente alfabetizadas. E as escolas particulares ter o padrão de desempenho surpreendente que ele nos revelou em maior detalhe.

O dramático no caso brasileiro é termos cerca de 150 milhões de pessoas que não tiveram a oportunidade de frequentar uma escola pública de boa qualidade em tempo integral. E que isto lhes deixou em grande desvantagem em relação à parte do país cujos resultados na área de educação foram muito melhores. A dura realidade é que o Brasil vem funcionando cerca de 3/4 abaixo de seu potencial. Até quando a irresponsabilidade da república brasileira permitirá que esse quadro desolador continue a nos envergonhar?              

Em latim, existem duas palavras para educação: educere e educare. Educere significa tirar de dentro, fazer sair, extrair, em que o aluno não é propriamente moldado. Ele é que se molda. Criatividade em primeiro plano. Educare é dar condições para que a criança cresça. O jardineiro não ensina a planta a crescer, mas ele cria condições para tal. A escola pública falha em ambos os conceitos. O setor privado, no Brasil, tem desempenho bem melhor.

Hora do setor público aprender o que está acontecendo com a educação de qualidade no setor privado. E já vai tarde.

“Dois Minutos com Gastão Reis: Fatores que levam ao sucesso”.