EDUCAÇÃO, “NOBLESSSE OBLIGE”
Sei que sou antigo mas não sei se sou velho, idoso ou ultrapassado, apesar dos muitos conselhos que recebo para me modernizar. Como, na minha idade, poderia me desfazer de tudo que absorvi ao longo da trajetória da vida, junto com a educação de berço recebida, tão ausente hoje em dia?
Começa por pequenos detalhes que são indispensáveis no cotidiano – “bom dia, dá licença, por favor, muito obrigado, desculpe, ” – palavras que nada custam mas que indicam o principio mais comezinho da boa educação e que a “noblesse oblige”, isto é, a nobreza obriga, embora não haja necessidade de ser-se nobre para ser educado – pois nobreza, neste caso, não é pedantismo, mas uma necessidade de ser educado.
Como disse, são pequenos detalhes necessários, mesmo com toda a modernidade advinda. A mulher, por exemplo, por mais que tenha se libertado das algemas do passado, por mais que seja equiparada profissionalmente ao homem, por mais que tenha se modernizado e ser liberal em todos os sentidos – ainda merece atenção dos ditos “cavalheiros”, como determina não só a educação, mas também o bom senso.
Não é raro que um casal, ao descer do ônibus, ache que está sendo gentil deixando que a mulher desça na frente – barbaridade! Ele é que tem que descer na frente para ajudá-la – seja jovem ou, principalmente, idosa. Assim é com as crianças que descem sempre na frente e que custam a se equilibrar. Isto, no meu tempo de jovem, qualquer moça ou rapaz, por mais simples que fossem, sabiam de tais rituais. Na descida de uma escada, o homem deve sempre ir na frente para ampará-la caso se desequilibre, e na subida deve sempre deixá-la ir na frente pelo mesmo motivo – ampará-la caso tropece. Reconheço que esta atitude era sempre em função da mulher andar com sapatos Luiz XV, isto é, de salto alto – hoje, este hábito se diluiu em parte, mas não a boa educação que nunca poderá ser diluída.
Da mesma forma aprendi que, quando se sai com uma moça – seja conhecida, namorada ou mulher – deve-se andar sempre no lado de fora da calçada para proteger a acompanhante de qualquer imprevisto. No meu tempo dizia-se, de brincadeira, que, numa postura invertida, o homem estaria “vendendo” a mulher, principalmente se fosse namorada.
Esses pequenos detalhes que a modernidade vai jogando no lixo, desprezando o que é certo, como por exemplo, o tratamento respeitoso de “Senhor e Senhora”. Pode até ser um ranço da “etiqueta social” antiga, mas faço questão de assim agir – acho que é uma questão de respeito, mesmo considerando que, um determinado caso tenha ido parar na justiça e o juiz tenha dado ganho de causa ao porteiro que não tratava o morador por “senhor” mas, certamente, exigiria que todos o tratassem de “excelência ou meritíssimo” – portanto, dois pesos e duas medidas. Embora não faça questão desse modo formal para mim, não me sinto incomodado se assim me tratam, mas desprezo o espetáculo que sempre assistimos nas sessões do Congresso nacional, quando os ânimos estão acirrados (o que é normal e constante) que se tratam de “excelências” até para ofender e denegrir a honra alheia. É a falta de educação que deixa transparecer e que nunca devemos imitar para não nos igualarmos a eles, pois este tratamento, sim, está superado por estar deslocado da realidade.
Sei que sou de antigamente e hoje fui superado, se o tempo tudo muda – mas a “noblesse” sempre “oblige”.– jrobertogullino@gmail.com