Ela foi uma perfeita dama
Ela possuía a doçura em seu sorriso, a beleza em sua simpatia. Maria da Glória Vieira de Rezende, depois, o Rattes, era, somente, Glorinha Rattes. Uma perfeita Dama, na acepção da palavra, por toda beleza física e interior, que a todos se referia com olhar maternal, nunca vendo defeito nos semelhantes. Uma eterna apaziguadora, desprovida daquele lado negativo que todos, inconscientemente, carregamos em nosso bojo. Foi uma batalhadora na vida, superando e vencendo todos obstáculos que surgiam em seu caminho, sempre com total resignação como bem mostrava em suas trovas: “Quem é bom já nasce feito / já vem com bagagem e saga; / sua luz tem tanto efeito / que nenhuma inveja apaga”. Possuía grandes valores – tanto moral, como intelectual que, por seu peso inquestionável, mas não recebeu o reconhecimento nem foi descoberta pela mídia, porque sua simplicidade não se preocupava com brilhos – era somente ela e não o que muitos gostariam de ser, sem poder, como transmitiu no trova acima.
De origem modesta mas, como boa mineira, soube alcançar seu espaço na vida com serenidade, quase completando uma trajetória digna de 91 anos, com total lucidez, agregando sempre alguma trova em seu caminhar, como assim definiu: “Quem de nós que não viveu / altos e baixos na vida?/ O quanto o corpo sofreu / fica a alma engrandecida!”. E ao se referir à sua filha, portadora de necessidades especiais, assim externou: “Teu caminho, minha crença, / minha vida, minha luz…/ Era assim, sem diferença: / nunca foste minha cruz!”.
Fez muitas incursões pelo estado do Espirito Santo, sempre levando o nome de nossa cidade e de nossa Academia de Poesia. São eventos que ocorrem anualmente em cidades do estado – uma trovadora dedicada e persistente, apesar das locomoções cansativas – mas nunca esmoreceu, participando até o ano de 2015, na cidade de Guarapari, acompanhada por um de seus filhos. Nesses eventos, onde era respeitada e bem acolhida por todos, foi galgada à condição de “Rainha dos Trovadores”, título que se tornou vitalício, apesar de ser anual, recebendo por fim, em 1989, o título (aí sim, vitalício) de “Comendadora dos Trovadores”.
Conheci Da. Glorinha em 1995, no Clube de Poesia do Petropolitano – o que agradeço à vida. Muito me ajudou a galgar meu caminho nesta seara da poesia, sempre me incentivando e, por fim, como minha madrinha, galguei os primeiros degraus da Casa de Raul de Leone, transformado-se numa amizade muito sólida na qual nunca esmoreci, visitando-a mensalmente, pelo menos, uma vez. Fez questão, mesmo acamada e sob meus protestos, de comparecer à minha posse, no dia 28.10, na APL. Foi seu último ato da grande amizade que mantínhamos mutuamente.
Mesmo que o tempo passe, a saudade permanecerá, por isto, encerro com mais duas de suas trovas : “A ternura da amizade, / que a trova enlaça e seduz, / tem um quê de divindade: / união, afeto e luz!” – “Venham amigos queridos / festejar nossa amizade! / Que nossos tempos vencidos / sejam rastros de saudade!”
jrobertogullino@gmail.,com