Em ação de ‘limpeza urbana’ moradores em situação de rua têm pertences levados pela Prefeitura

De acordo com a Assistência Social, a ‘grande operação’ garantiu limpeza urbana, assistência social, saúde e ordem pública na via

05/07/2022 16:38
Por Redação/ Tribuna de Petrópolis

No último sábado (2) uma ‘grande operação’ na Travessa Vereador Prudente Aguiar, no Centro, com a participação da Secretaria de Assistência Social e órgãos de segurança, recolheu os pertences das pessoas em situação de rua que dormiam na calçada naquele trecho. A Assistência disse que o objetivo era evitar ‘excessos da população de rua’. Parte das pessoas que alí viviam se dispersou, e não aceitou o acolhimento das equipes. A Assistência sofre uma carência em diversos equipamentos, desde medicamentos para tratamento de dependência química, profissional médico no Consultório na Rua, até falta de alojamento adequado para o acolhimento. 

Sem garantia de acesso a direitos básicos e com o aumento da extrema pobreza, devido à crise econômica agravada pela pandemia e as duas tragédias socioambientais que aconteceram neste ano, a população mais vulnerável aumentou, e padece nas ruas do Centro Histórico. A Tribuna noticiou há algumas semanas o aumento no número de pessoas se abrigando no Bosque do Imperador, local conhecido como Praça do Cenip, para onde as pessoas que tiveram seus pertences levados no último sábado, também buscaram abrigo. 

Em material divulgado à imprensa, nesta segunda-feira (04), a Prefeitura disse que na “ação garantiu limpeza urbana, assistência social, saúde e ordem pública na via”. Como justificativa, a Secretaria de Assistência Social disse que havia a percepção de que as pessoas em situação de rua que viviam na Prudente Aguiar “cometiam excessos: tanto no comportamento que adotavam na via pública, quanto na quantidade de objetos espalhados pela calçada”. 

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A operação da Assistência Social, Guarda Civil, Polícia Militar, Samu e Comdep, aconteceu dois dias depois da Tribuna noticiar o problema com tráfico e uso de drogas no mesmo local. No entanto, de acordo com os depoimentos colhidos pela reportagem da Tribuna, de comerciantes e moradores próximos ao local da operação, trata-se de um problema que não envolve apenas a população de rua, mas também a segurança pública.

A Tribuna perguntou à Polícia Militar se foi encontrado algo ilícito entre os abordados na Travessa Prudente Aguiar, mas a PM não respondeu a pergunta. Mas disse que os policiais realizam patrulhamento permanente, com foco na segurança pública, também naquele trecho. E atuam em operações integradas de ordenamento urbano em apoio a órgãos estaduais e municipais.

De acordo o secretário de Assistência Social, Fernando Araújo, foi uma operação pacífica, sem qualquer discussão, e a Comdep lavou a calçada após a saída das pessoas. Parte do grupo aceitou o acolhimento no Centro POP. Quem não aceitou deixou a Travessa Vereador Prudente Aguiar, se dispersou. A Tribuna apurou que parte do grupo buscou abrigo na Praça do Cenip. A Prefeitura não respondeu para onde os pertences foram levados e não disse quantas pessoas foram abordadas.

NIS do Alto da Serra continua interditado

Atualmente, quem aceita o acolhimento da Assistência Social é encaminhado para a UNAT (Unidade de Acolhimento Temporário), já que o NIS (Núcleo de Integração Social), no Alto da Serra, continua fechado, foi interditado após o terreno também ser atingido pelo desastre de 15 de fevereiro. A Prefeitura afirma que a utilização de parte da UNAT para a população de rua é temporária, mas não há prazo para a reabertura do NIS. 

A UNAT é uma casa mantida com verba do governo federal, para acolher moradores em situação de rua e idosos em vulnerabilidade social no período de pandemia. Segundo a Assistência, até o último sábado, havia apenas uma pessoa em isolamento devido à covid na unidade. 

Falta medicamento na Rede

Outro problema é a falta de medicamentos para dependentes químicos. Parte das pessoas que vivem em situação de rua são dependentes químicos, de álcool e/ou outras drogas. Ainda que haja o acolhimento, não há insumos para o tratamento adequado do transtorno. A Tribuna apurou que alguns assistidos que estavam sob tratamento e utilizam medicamentos como a carbamazepina – que está em falta – estão voltando ao uso de drogas, porque não há medicação na rede. A Secretaria de Saúde disse que o medicamento já foi comprado, mas ainda aguarda a entrega pelo fornecedor. 

Consultório na Rua sem médico

O Consultório na Rua, serviço itinerante de atenção à saúde básica da população de rua, está sem profissional médico há quase um mês. A médica responsável entrou de férias e só retorna dia 13 de julho, e a Saúde não colocou outro profissional para atender na unidade móvel. A Saúde disse que os pacientes não ficaram sem atendimento médico. Se preciso for, eles são levados para as unidades de atenção básica ou de urgência. De acordo com a Saúde, o programa conta também com outros profissionais como enfermeiro, psicólogo, assistência social e dentista.

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