Em busca da poesia

22/08/2016 12:00

Há muitos tenho falado que não vejo graça na vida sem Poesia. É preciso que se diga que esta não é exclusividade do verso. Existem várias manifestações artísticas que tocam a alma com linguagens diversas. Não tenho dúvida: a vida sem Arte seria monótona.  

Quando perguntaram a Carlos Drummond se gostava de poesia, ele respondeu: “Se eu gosto de poesia?/ Gosto de gente, bichos, plantas, lugares, chocolate, vinho, papos amenos, amizade, amor./ Acho que a poesia está contida nisso tudo.” Concordo com ele, porém acho que é preciso saber colher o que há de poesia nas coisas. Isso depende, é claro, do espírito desarmado de quem capta, da realidade, algo que o faça crescer interiormente. Isto, para mim, é a Poesia: aprender a alimentar o viver com a esperança de crescer não vegetativamente, mas como ser humano. 

Oswald de Andrade foi preciso quando disse que “há poesia/ na flor/ na dor/ no beija-flor/ no elevador.” A realidade é matéria-prima. O que chamam de inspiração, para mim, é apenas um estado de espírito que nos leva a traduzir o viver. Inflar versos com lirismo insípido, que nem fede, nem cheira, consiste em querer semear poesia artificial no vácuo. O que não passa pelos sentidos não chega ao coração, nem ao cérebro.  Ainda jovem, escrevi um poema com o título “Meu vício, Minha vida”:

“Tira-se Poesia de pedra./ O verso concreto inoxidável/ não enferruja no tempo,/ é como lâmina afiada,/ corta até a alma, / sangra a vida/ e deixa escorrer/ a essência humana./ A palavra só tem sentido/ quando traduz o homem./ O Poeta é transparente./ Através dele, o Leitor vê a realidade./ A translucidez da Poesia incandesce quem não está habituado a ver/ a vida de frente./ Eu, particularmente, confesso:/ sou dependente da Poesia (…).”

Lembrei-me desse poema quando li, em 13/08, neste jornal, uma crônica escrita por um amigo que me flagrou, em uma livraria, sedento de leitura. Ele, sem conhecer o poema citado, escreveu: 

“Aquele homem entrou livraria adentro com a avidez típica de um dependente em crise de abstinência. Era um adicto poético, atrás da injeção de uma rima, um cálice de metáfora. Vinha, em verdade, atrás de banhar o ser na bacia de um verso.”

Sou um leitor compulsivo. Quando entro em uma livraria, logo procuro a estante dos poetas, depois vou ao encontro dos romances. No citado dia, não foi diferente. Mas antes de chegar ao local em que poderiam estar os livros de poemas, o vendedor falou:

-Os livros de poesia não estão mais aí. Colocamos ali – apontou. Estavam na última prateleira de uma estante. Vendo a minha dificuldade de encontrá-los, deu-me um banquinho. Essa cena e o espaço em que colocaram a poesia, o amigo Denílson Araújo considerou “cronicável”. E “cronicou”. E, por e-mail, destacou a contramão em que andamos: neste período em que a moda é caçar Pokémon e ouvir Wesley Safadão, procuramos Poesia.

Comentei com ele que uma cidade como Petrópolis, com uma população em torno de 300 mil habitantes, não pode ter somente duas livrarias no Centro Histórico. E para os que gostam de garimpar livros usados, existem aqui só quatro sebos. Em um deles, esse amigo me flagrou também procurando Poesia. Mas sem episódio “cronicável”. Apenas nos cumprimentarmos e continuamos no silêncio que o momento de encontro com o livro exige.

Caro amigo, você já viu a quantidade de lojas que vendem capas de celular em Petrópolis?!  E as que vendem suplemento alimentar, o que popularmente chamam de bomba?! Ah! Se fossem livrarias…

-Malhar o cérebro com boas leituras faz bem à saúde mental.


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