Em busca da reinvenção da Rua Teresa

26/06/2016 07:00

Reinventar-se. Essa é a palavra de ordem para o segmento da moda, que vem passando por transformações nos últimos anos. Em Petrópolis, entidades se reúnem para resgatar a imagem dos principais Polos de Moda: Rua Teresa, Bingen e Feirinha de Itaipava. Para Cláudia Pacheco, coordenadora do Sebrae, no caso da Rua Teresa é preciso encontrar uma identidade e estabelecer o diferencial competitivo para voltar a atrair consumidores. Uma das ações que serão tomadas a curto prazo é a volta do Rua Teresa Fashion, um desfile para mostrar as principais tendências do setor. A Associação da Rua Teresa (Arte) está estudando também uma parceria com o estilista Ronaldo Fraga, que tem trabalhos de resgate de identidade de centro de moda em outras regiões do país. Outra proposta é a realização de uma feira multicultural no Palácio de Cristal. A ideia é que aconteçam desfiles e as lojas possam mostrar seus produtos naquele espaço. 

Entre 1990 e 2000, a Rua Teresa, considerada o maior shopping a céu aberto da América Latina, viveu seu tempo áureo, com 1.200 lojas abertas. A partir de 2000, o número caiu para cerca de 700, o que reflete a crise econômica que o país enfrenta, que fez com que muitos comerciantes desistissem dos negócios. O dado impacta diretamente no mercado de empregos no município, que refletiu na diminuição do consumo. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, entre janeiro e abril, a cidade perdeu 466 postos de trabalho no setor. O comércio, de uma maneira geral, emprega 17.614 pessoas no município. O problema é ainda mais grave se considerarmos a renda média do petropolitano. Segundo Marcelo Fiorini, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Petrópolis (Sicomércio), 50% dos trabalhadores ganham um salário-mínimo, ou seja, R$ 880,00. 

Para voltar a movimentar o setor, é preciso trazer consumidores para a cidade, mas também investir em algumas áreas que podem ser promissoras para quem trabalha no comércio. No início da semana passada, o Sebrae apresentou um estudo intitulado o Mapa da Moda em Petrópolis. O levantamento apontou deficiências em controle de vendas, estoques, capacitação de mão de obra, investimento em comércio eletrônico e em profissionais que trabalham com criação. Mostrou ainda que existem 1.300 estabelecimentos ligados ao segmento de moda na cidade, incluindo confecções e comércio. Desses, 354, cerca de 30%, participaram da pesquisa. 

Para Cláudia, a realidade do comércio de moda mudou completamente, assim como o perfil do consumidor. Por isso, é preciso repensar e voltar os esforços para o resgate dessa identidade. “Nós ouvimos as pessoas dizendo que a Rua Teresa vendia por atacado e conseguia bons resultados no faturamento. Mas, hoje, a realidade é outra, temos muito varejo”, comentou. Além disso, ela destaca o cenário global, que é completamente competitivo e de concorrência externa. Por isso, reforça que é preciso um diferencial. “O cliente tem que encontrar nos polos de moda de Petrópolis o que ele não acha em nenhum outro lugar”, disse, acrescentando que esse diferencial pode ser preço, produto e até mesmo o atendimento. “O que não pode é deixar morrer a identidade. Nós já temos um nome forte, que é Rua Teresa. A cidade já é reconhecida dentro e fora do país. Ou seja, o mais difícil, nós temos: a marca. O que precisamos é resgatar essa imagem positiva”, afirmou. 

Com relação ao preço, como diferencial competitivo, tanto a coordenadora do Sebrae, quanto o presidente do Sicomércio lembraram que, no passado, era possível ter um valor mais baixo, porque as confecções ligadas às lojas fabricavam as peças. Atualmente, a matéria-prima, em alguns casos, vem de outros países e muitas roupas são apenas revendidas no polo – não são produzidas aqui. Por isso, defende de forma enfática que o resgate da identidade é urgente, uma vez que a questão econômica, de crise, evidenciou o problema que o setor enfrenta, fazendo com que muitos empresários fechassem suas lojas. Ela acredita ainda que a parceria com o estilista Ronaldo Fraga pode ser muito interessante. “Ele esteve na cidade no ano passado e ficou encantado. O estilista adora essa questão histórica e adiantou que é possível fazer um trabalho integrado com a moda”.

Cláudia ressalta ainda que as entidades estão pensando em alternativas para o setor e, como economista, destaca que todo cenário de crise, tem seu ponto de declínio, mas depois começa a reagir. “Nem tudo que é ruim fica para sempre. Vai ter um momento em que as coisas vão se estabilizar”. Além disso, reforçou que existem pessoas empreendendo o tempo todo. “Boas ideias sempre serão bem-vindas e conseguirão um bom espaço. O difícil é apostar em um negócio que não seja inovador. O olhar está tão acentuado na crise que as pessoas acabam não olhando as oportunidades”.

Um dos receios das entidades é que a Rua Teresa perca a característica de Polo de Moda e que o espaço passe a ser ocupado por outros segmentos. Para Cláudia, é preciso que os empresários parem para pensar imediatamente e estabeleçam o foco do negócio, no sentido de decidir se atende ao varejo ou atacado, por exemplo. Isso porque, segundo ela, cada estilo envolve uma divulgação diferente e também horários de funcionamento diferentes. 


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