Em inferioridade numérica e Mobilização civil, Ucrânia resiste à invasão russa

27/02/2022 15:01
Por Redação, O Estado de S.Paulo / Estadão

Após um início avassalador, invadindo a Ucrânia em três frentes, tropas russas têm tido dificuldade para tomar as duas principais cidades do país, Kiev e Kharkiv, graças a resistência feroz do Exército ucraniano, ajudado por civis armados com fuzis e até mesmo bombas incendiárias.

Moscou bombardeia Kiev há três dias, mas não consegue tomar a cidade, que resiste em uma batalha urbana penosa para os russos, apesar de sua superioridade numérica. Em Kharkiv, a infantaria russa tenta tomar a cidade com incursões de infantaria, mas também ali a resistência é feroz. Com dificuldades, Putin, que no início da guerra destinou apenas 60 mil homens para a invasão já mais que dobrou esse efetivo. Hoje, 150 mil russos avançam em três frentes contra o governo de Volodmir Zelenski.

O líder ucraniano, que ficou em Kiev e rejeitou ser retirado da cidade com auxílio americano, pediu mais ajuda militar do Ocidente para conter os russos. Segundo analistas militares, o exército moscovita tem algumas dificuldades logísticas nas linhas, e não esperava uma batalha renhida em grandes centros urbanos.

Batalha dura

Em Kharkiv, onde as tropas russas entraram neste domingo, 27, foram registrados intensos combates de rua e disparos de foguetes. Tropas russas e veículos blindados ocuparam as ruas da cidade, chegando a menos de oito quilômetros do centro. O exército de Moscou explodiu um gasoduto na área, e moradores que não estivessem lutando foram orientados a permanecer em casa durante a “destruição completa do inimigo russo na cidade”. Na tarde deste domingo (horário local, manhã de domingo no Brasil), o governador Oleg Synyehubov anunciou que tropas russas se renderam e a cidade permanecia sob controle do governo.

O governo ucraniano também permaneceu no controle de Kiev, a capital, disse o Estado-Maior das Forças Armadas da Ucrânia em um comunicado divulgado às 6h deste domingo. A cidade esteve sob ataque durante a madrugada, registrando grandes explosões em um depósito de combustível ao sul da capital, ataques a unidades militares e combates perto da base aérea de Vasilkiv, no sudoeste. Uma base militar próxima ao aeroporto foi atingida por um projétil, e tiros foram registrados perto de prédios governamentais no centro da cidade ao amanhecer.

Com a ajuda de fileiras crescentes de soldados voluntários, o exército ucraniano também conseguiu retardar o avanço da Rússia ao causar estragos nas linhas de abastecimento de Moscou, disse o Estado-Maior. “As tropas inimigas, privadas de reabastecimento oportuno de combustível e munição, estão paradas”, diz o comunicado. “O pessoal das forças de ocupação, a grande maioria dos quais são jovens recrutas, está exausto por exercícios militares anteriores e tem o moral baixo.”

Os relatos das últimas horas destacam a resistência determinada que as tropas russas enfrentam ao tentar entrar nas maiores cidades da Ucrânia. Imagens que circulam nas redes sociais mostram veículos russos em chamas ou sendo saqueados por tropas ucranianas. Autoridades ucranianas disseram ter impedido um míssil de atingir a usina hidrelétrica de Kiev. Autoridades americanas e ucranianas informam que dois aviões russos de transporte militar Ilyushin Il-76 foram derrubados, e um vídeo gravado em uma rotatória perto da cidade de Ivankiv mostra um soldado ucraniano carregando o que parece ser um míssil NLAW no ombro, com dois veículos em chamas atrás. O Ministério da Defesa da Ucrânia tem promovido a filmagem no Facebook, dizendo: “Quem vier até nós com uma espada morrerá pela espada”.

Mobilização civil

Em inferioridade numérica, os ucranianos se ofereceram em massa para ajudar a defender a capital, Kiev, e outras cidades, pegando armas distribuídas pelas autoridades e preparando bombas incendiárias para combater as forças russas. Os ucranianos têm esperança de que a dinâmica – com muitos lutando com a determinação daqueles que protegem suas casas – ajude a equilibrar as forças com os russos.

Na quinta-feira, 24, primeiro dia da invasão, as Forças Armadas da Ucrânia divulgaram em comunicado que haviam recebido um número recorde de contatos de pessoas que queriam se voluntariar para a luta armada. O exército simplificou os procedimentos de adesão. Mais tarde, o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, convocou todos os civis a se alistarem, independentemente de critérios como gênero ou idade.

O governo da Ucrânia também está libertando prisioneiros com experiência militar que querem lutar pelo país, disse um funcionário do Ministério Público, Andriy Sinyuk, ao canal de TV Hromadske no domingo. Ele não especificou se a medida se aplica a prisioneiros condenados por todos os níveis de crimes.

As tropas russas estão “cada vez mais frustradas por sua falta de impulso” enquanto enfrentam forte resistência ucraniana, especialmente no norte do país, disse um oficial de alto escalão do Pentágono ao The New York Times no sábado, 26.

Dificuldades

Apesar de agora ter mais da metade de seu poder de combate dentro da Ucrânia, as tropas russas ainda não controlam nenhuma cidade, embora estejam se aproximando da capital Kiev e de outros centros urbanos, disse a autoridade. Os aviões de guerra russos também não controlam totalmente os céus sobre a Ucrânia, pois os caças ucranianos e as defesas aéreas continuam a engajar as forças russas.

O ataque russo por ar, terra e mar é rápido e extremamente fluido, no entanto, e apesar da resistência ucraniana, particularmente em torno de Kiev e Kharkiv, a maioria dos analistas americanos e ocidentais espera que os militares ucranianos desarmados sucumbam frente às forças russas nos próximos dias.

De fato, comandos de operações especiais e outras forças de reconhecimento russas se mudaram para Kiev, alguns carregando o que autoridades americanas dizem ser listas de políticos, acadêmicos e jornalistas ucranianos proeminentes para capturar ou matar, disseram autoridades dos EUA.

Desde que a invasão começou na quinta-feira, a Rússia também lançou mais de 250 mísseis, a maioria do tipo balístico de curto alcance, alguns dos quais atingiram áreas residenciais, disse o funcionário do Pentágono.

Autoridades americanas dizem que estão se juntando aos aliados europeus no envio de armas e equipamentos para a Ucrânia. O Pentágono disse em um comunicado no sábado que um adicional de US$ 350 milhões em assistência militar à Ucrânia que a Casa Branca anunciou na sexta-feira, 25, incluirá mísseis antitanque Javelin, bem como armas pequenas e munições, coletes à prova de balas e outros equipamentos.

Autoridades americanas disseram que as armas seriam retiradas dos estoques existentes do Pentágono, provavelmente na Alemanha, e enviadas para a Ucrânia o mais rápido possível, provavelmente por terra, via Polônia, dado o espaço aéreo contestado sobre a Ucrânia. O alto funcionário do Pentágono disse que armas e suprimentos de uma parcela anterior aprovada em dezembro chegaram nos últimos dias.

No sábado, 26, Zelenski convocou pessoas de todo o mundo a vir e ajudar a defender a Ucrânia. “Todos os amigos da Ucrânia que querem se juntar à defesa – venham. Nós lhe daremos uma arma”, disse Zelensky.

Até domingo, as tropas russas permaneciam nos arredores de Kharkiv, uma cidade de 1,4 milhão de habitantes a cerca de 20 quilômetros ao sul da fronteira com a Rússia, enquanto outras forças passavam para pressionar a ofensiva mais profundamente na Ucrânia. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

Últimas