Em menos de uma semana, quatro gaviões feridos são resgatados na cidade; ocorrências podem ter relação com incêndios florestais

11/08/2020 09:50

Em menos de uma semana, bombeiros fizeram o resgate de quatro gaviões feridos ou impossibilitados de voar em diferentes localidades na cidade. Dois deles tinham ferimentos de queimaduras e outros dois possivelmente feridos por linha de pipa com cerol. Os resgates em um curto espaço de tempo chamou a atenção de protetores dos animais, já que as ocorrências podem ter ligação com as queimadas que ocorreram nas últimas semanas.  

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Na última quarta-feira, dia 05, os bombeiros resgataram três gaviões nas localidades do Carangola, Duarte da Silveira e Retiro. O primeiro era um Gavião Carcará, que foi recolhido no ponto final da Vila Manzani, no Carangola. Segundo Ana Cristina Ribeiro, na AnimaVida, que ajudou no encaminhamento do animal para a clínica veterinária, ele estava com uma das asas cortadas. De acordo com o laudo do médico veterinário, provavelmente o corte foi feito com linha de pipa com cerol ou linha chilena. O ferimento estava grave e ainda existe o risco de amputação de uma das asas. 

O segundo resgate, no Duarte da Silveira, o gavião estava enroscado em linha de pipa, preso em uma árvore. Assim que os bombeiros cortaram as linhas ele conseguiu voar e voltou sozinho para a mata. Já o terceiro resgate neste dia, foi mais grave. O gavião da espécia Carijó, foi recolhido na Rua Hermogênio Silva, no Retiro. Ele tinha queimadura nas patas e um ferimento já com míiase (bicheira). Segundo Ana Cristina, por causa da gravidade dos ferimentos, este também tinha risco de amputação de uma das patas. 

E neste domingo, foi feito o resgate de um outro carcará na região do Rincão Santa Cruz, em Araras. O animal está com uma queimadura em uma das patas e fratura em uma das asas. Segundo Ana Cristina, as queimaduras podem ter relação com as queimadas que ocorreram nas áreas de proteção da Rebio Araras e Parque Nacional da Serra dos Órgãos (Parnaso), nas últimas semanas.

“A probabilidade é grande para o carijó e para o carcará de Araras. Essas aves são oportunistas e no caso das queimadas ficam observando as tentativas de fuga dos animais terrestres e aí tentam capturá-los. Como o solo está muito quente, podem acabar se queimando quando vão pegar a presa”, disse Ana Cristina.

Segundo Vitor Ferreira, biólogo do Instituto Pé de Planta, as queimadas atrai esses animais que vem em busca de presas que estão fugindo do fogo. “Quando o fogo se inicia a bicharada começa a correr, e com isso alguns animais se deslocam buscando pontos de fuga e descendo a encosta, enquanto o fogo se alastra, principalmente para cima. As aves são as primeiras a fugir com alguma eficiência e para trás ficam os mamíferos e os répteis. Que muitas vezes queimados descem agonizando afetados principalmente por queimaduras e pela fumaça. E assim eles são capturados enquanto tentam se deslocar. Muitos não conseguem e acabam da mesma forma virando alimento dos gaviões. Isso causa dois efeitos. A descida de animais e o aumento da atividade dos gaviões. Além da perda do hábitat e da biodiversidade, obviamente”, explica o biólogo. 

Além disso, o biólogo explica que as queimadas acabam atraindo outras espécies para a área urbana. “Entre esses animais que descem, existem as cobras peçonhentas. As queimadas acabam promovendo uma descida delas e um maior contato da população, quando é esperado um número menor de casos de contatos ou acidentes por conta do frio. Assim as queimadas além de todos os malefícios já conhecidos ainda aumentam o risco de acidentes ofídicos nos centros urbanos circundados por florestas”, explica.

Frequentemente a AnimaVida é acionada pelos bombeiros para fazer o encaminhamento dos animais silvestres para as clínicas veterinárias. A Concer tem um programa de auxílio para a fauna silvestre e tem atendido também animais silvestres resgatados fora dos limites da área de concessão da empresa. Mas de acordo com Ana Cristina, há dificuldade em resgatar estes animais, porque os órgãos oficiais não tem se envolvido nos resgates. 

“A AnimaVida vem sendo acionada sempre. Os bombeiros recebem o pedido de ajuda, mas como não têm para onde enviar o animal, passam nosso telefone. Entramos no circuito para triangular esse encaminhamento, seja dentro do esquema da CONCER, seja por fora como ocorreu na semana passada”, explicou Ana Cristina.

Os animais resgatados pelor bombeiros, foram encaminhados pela AnimaVida para clínicas veterinárias na cidade e após se recuperarem serão encaminhados para o CETAS (Centro de Triagem de Animais Silvestres).

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