Empresária acusa juiz de agressão física

05/07/2016 15:30

O juiz Ronald Pietri, da 2ª Vara Cível de Itaipava, foi acusado ontem (4) de agredir e ameaçar com uma arma a comerciante Manuela Carreira, de 52 anos, em meio a uma discussão em torno da ocupação de vaga de estacionamento, em um centro comercial localizado na Estrada União e Indústria. A PM foi chamada ao local do incidente e levou o magistrado e a comerciante para a 106ªDP, onde a ocorrência foi registrada. Na delegacia, Ronald Pietri disse ter sido agredido. Ele e Manuela Carreira aparecem como vítimas na ocorrência registrada pelos policiais.

A confusão começou por volta das 10h30. De acordo com Manuela, o juiz tirou o cone que demarcava a vaga de carga e descarga do Restaurante Senhora Serafina, pertencente a ela, para estacionar o seu carro. A discussão começou quando ela avisou que o lugar não poderia ser ocupado.

“Ele já começou a gritar perguntando se eu sabia com quem estava falando. Eu pedi calma e ele perdeu a compostura. Tentou me dar um soco que acertou a minha mão. Nessa hora, percebi que a situação tinha saído do controle e corri. Ainda assim, ele agarrou a minha blusa, que ficou ragada e conseguiu me acertar no ombro. A intenção era bater na minha cara”, disse Manuela.

A gritaria chamou a atenção de outras pessoas que estavam no local. “Vieram uns quatro homens tentar segurá-lo e não conseguiam. Ele gritava o tempo todo. Conseguiram colocá-lo dentro de uma academia e ainda assim ele saiu de lá correndo com uma arma de fogo. Foi uma gritaria só. Nessa hora, um dos meus funcionários gritou para eu me esconder e outro conseguiu contê-lo no meio do caminho”, contou a empresária.

A polícia foi chamada e encaminhou todos para a delegacia. “Na delegacia, meu depoimento foi colhido em uma sala e o juiz foi levado para outro ambiente”. Os envolvidos foram citados no documento como vítimas. O juiz também alega ter sido agredido pela comerciante. Ambos passaram por exame de corpo de delito. 

“Como estava sentindo muita dor, fui para o hospital”, contou Manuela que mostrou o laudo médico, onde as agressões foram descritas como “contusão no punho e ombro esquerdo. Precisando  do tratamento de crioterapia, para o ombro voltar para o lugar”.

O garçom André Lucas dos Santos, 27, afirmou ter acompanhado de perto toda a confusão. “Tentamos segurá-lo a todo custo, mas foi muito difícil. Assustadora a reação dele”.

A Tribuna tentou entrar em contato pessoalmente com o juiz Ronald Pietre, mas ele preferiu divulgar a sua posição através de um e-mail. Nele, o juiz conta sua versão e transcreve depoimentos de pessoas que teriam testemunhado o incidente e anexou a foto que seria de sua mão, com um machucado.

No texto, Ronald Pietre afirmou que “ao contrário do que está sendo veiculado nas redes sociais, em momento algum agredi a Sra. Maria Manuela e muito menos disse que era juiz de Direito e nem apontei arma de fogo, apesar de estar com uma dentro de minha pochete, na cintura. A suposta “vítima” somente ficou sabendo que eu era magistrado quando se deslocava para a Delegacia de Polícia, no interior da viatura da Polícia Militar. Conforme narro no meu depoimento, me identifiquei como magistrado apenas para o policial e de forma bem discreta, em virtude de estar com uma arma de fogo. O incidente ocorrido não passou de uma simples discussão acalorada entre duas pessoas por causa de uma vaga de estacionamento. Só isso! O fato da minha condição de magistrado é que está motivando essa suposta “vítima” a alardear o incidente nas redes sociais. Tudo que ela fala nas redes sociais não consta no depoimento que ela própria prestou na Delegacia! Também fui vítima de agressão dessa senhora, como se constata na foto da minha mão, em anexo. Esse machucado foi provocado pela unha dessa senhora. Fui também ao IML fazer exame de corpo de delito! Os cinco depoimentos representam a íntegra de todas as declarações prestadas em sede policial, logo após ao incidente. De todos os depoimentos, o mais importante é do farmacêutico Pablo, por ser a única pessoa inquirida realmente na condição de testemunha, por não ser parte envolvida e não ter qualquer vinculação, afetiva ou de subordinação profissional com os envolvidos”.

No depoimento citado pelo juiz Ronald Pietre, cujo texto foi enviado por ele, o farmacêutico Pablo, contou que a discussão se iniciou por causa da vaga de estacionamento e que foi a senhora que, muito exaltada, apontou o dedo no rosto dele, o qual afastou a mão dela, momento em que ela começou a gritar pedindo que chamassem a polícia. Ele disse ainda que a confusão se formou e os funcionários do restaurante saíram e quando o Dr. Ronald tentou falar com a empresária que não a estava agredindo verbalmente, tocando no ombro dela, o pano que estava no ombro de Manuela agarrou nas mãos dele e, ao tentar se desvencilhar do pano, acabou rasgando acidentalmente a roupa dela. Ele disse ainda que a mulher começou a gritar que iria matá-lo e tentou pegar um caixote de plástico para atirar na direção dele”.

Caso desconhecido na OAB

Como o caso ocorreu durante um episódio da vida privada do magistrado, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, OAB – 3ª Subseção Petrópolis, Marcelo Schaefer, disse que a entidade não tem motivos para se manifestar sobre o ocorrido. “O que aconteceu foi como cidadão, referente à vida privada dele. Nesses casos, a OAB não atua”. 

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