Entidades do agro repudiam declaração de Lula que associou setor ao fascismo

28/08/2022 20:58
Por Isadora Duarte / Estadão

Pelo menos sete entidades que representam produtores rurais repudiaram as declarações do ex-presidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em entrevista ao Jornal Nacional na última quinta-feira (25), na qual classificou parcela do setor como “fascista” e “direitista”.

As manifestações feitas pela Sociedade Rural Brasileira (SRB), Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) foram divulgadas em notas ao longo deste fim de semana.

Na sexta-feira, 26, a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) já havia publicado nota de repúdio semelhante.

A Aprosoja-MT disse que o surgimento do regime totalitário fascista na Itália representa uma “página triste” da história da humanidade. “Embora na falta de vocabulário ofensivo muitos lancem mão desse termo para atacar aqueles que com suas ideias não coadunam, a utilização indiscriminada da terminologia não altera o que ela de fato representa, mas apenas mera desonestidade argumentativa do emissor”, afirmou a entidade, que representa cerca de 7,5 mil produtores mato-grossenses de soja e milho.

A associação afirmou ainda que Lula em um “lapso de espontaneidade” fez uma “menção desonrosa” à parte dos produtores que não aderem ao seu projeto de governo.”Sobre este ataque vil e ofensivo, não há outra coisa a ser dita se não de que repudiamos veementemente e lastimamos que alguém que pense dessa forma sobre o seu próprio povo esteja postulando ao mais alto cargo da República. Muito embora ao ser interpelado pelos entrevistadores o candidato Lula tenha tentado relativizar o conteúdo desrespeitoso de sua fala, dizendo que se tratava de apenas uma parte do setor, ele sabe muito bem que esse tipo de ofensa recai sobre todos, à medida que a única menção elogiosa ao setor se deu por meio de citação nominal de um mega agricultor, seu amigo pessoal”, disse a Aprosoja, se referindo ao fato de Lula ter citado o ex-ministro da Agricultura e também produtor de grãos em Mato Grosso Blairo Maggi.

A entidade afirmou ainda que talvez a resposta do apoio de muitos produtores ao presidente Jair Bolsonaro esteja na defesa da liberdade econômica, do direito de propriedade e da segurança e criticou “ataques violentos” feitos aos produtores por “militantes” de Lula.

A SRB contestou as falas de Lula sobre as invasões do Movimento Sem Terra (MST) serem restritas a terras improdutivas e a associação do setor ao desmatamento. “O MST liderou invasões não apenas a propriedades rurais em diferentes regiões do Brasil, mas também a centros de pesquisa de empresas e instituições que são referências mundiais para o desenvolvimento da agropecuária. A SRB também repudia generalizações imputadas ao setor, classificando como antagônicas às políticas atuais de meio ambiente. Sabemos que o agro brasileiro vem avançando em práticas cada vez mais sustentáveis, se adequando a rigorosas leis ambientais, e não podemos deixar que os produtores rurais sejam confundidos com criminosos”, disse a entidade em nota.

Outras instituições

A Faesp afirmou que os produtores paulistas “estão longe do espectro fascista” e em prol da agropecuária sustentável. “A Faesp esclarece que os produtores demonstram – e continuam demonstrando – para toda a sociedade brasileira que defende a agropecuária sustentável, colocando em prática diversas ações e programas com esse objetivo”, mencionando a defesa pela própria entidade do Código Florestal Brasileiro e a contribuição para a segurança alimentar do País. “Acreditamos que as manifestações em contrário são fruto do desconhecimento a respeito do agronegócio brasileiro”, disse.

A Famasul descreveu a fala de Lula como uma qualificação “leviana” e “criminosa” do agronegócio brasileiro e que demonstra “completo desconhecimento” sobre o setor. “A Famasul subscreve as palavras do presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins que, durante o Encontro Nacional do Agro, afirmou que ‘não há mais espaço neste País para uma equipe corrupta e incompetente, e muito menos para o retorno de um candidato que foi processado e preso como ladrão'”, afirmou a entidade.

A Faec também repetiu a fala do presidente da CNA, João Martins. “Diferente do candidato, que nega o assalto aos cofres públicos da Nação quando esteve no poder – crime confessado por seus partidários -, os produtores rurais que fazem o agronegócio brasileiro são trabalhadores incansáveis. As palavras do candidato não mudarão a realidade. Ao mesmo tempo em que repudia suas declarações contra o Agronegócio, a Faec conclama o candidato a deixar quem quer produzir e gerar renda em paz!”, defendeu a entidade que representa os produtores rurais cearenses.

A Farsul criticou o uso do termo, afirmando que a fala ofendeu “milhões de produtores rurais, industriais, comerciantes, prestadores de serviços, colaboradores de fazendas e empresas do agronegócio”. “Não é o ataque que nos preocupa, mas a inaceitável demonstração de ódio para com elas. Teria sido mais importante para o país se propostas tivessem sido apresentadas, já que, durante o ciclo petista no poder, experimentamos a nova matriz econômica, que afundou o País na maior crise econômica dos últimos 100 anos. Ou, pelo menos, uma proposta clara de como evitar que os escândalos de corrupção que ocorreram no seu mandato se repitam”, refutou a entidade.

Na sexta, a ABCZ afirmou que as falas de Lula mostram sua falta de conhecimento sobre o setor. “Lula nominou como “fascista” o agronegócio brasileiro, demonstrando completa ignorância sobre a importância e a realidade do nosso setor. Mais do que sustentar o País economicamente, a pecuária e a agricultura brasileiras são reconhecidas pela importância fundamental para a segurança alimentar do mundo. Assim, este setor não pode ser taxado como violento e autoritário”, diz o presidente da ABCZ, Rivaldo Machado Borges Junior, também em nota.

Últimas