Entrevista: personal trainer fala da prevenção do suicídio através do esporte

01/10/2019 11:30

Luiz Carlos de Moraes, um experiente Personal Trainer há 50 anos, diz na entrevista que os exercícios físicos regulares são extremamente benéficos no tratamento da depressão, mas são adjuvantes ao tratamento clínico e à psicoterapia. Ele também fala sobre como os exercícios melhoram a auto-estima, a sensação de bem estar e a ansiedade, atuando na ressocialização.

TRIBUNA – Nesse mês estamos encerrando a campanha brasileira setembro amarelo de prevenção ao suicídio iniciada em 2015 pelo Centro de Valorização da Vida, do Conselho Federal de Medicina e da Associação Brasileira de Psiquiatria. Como o esporte pode contribuir nesse contexto?

MORAES – É sabido que o esporte e a atividade física como um todo ajuda bastante na prevenção da depressão que é o caminho para o suicídio porque o princípio ativo dos medicamentos mais usados são a noropinefrina e a serotonina, hormônio que agem nos neurotransmissores implicados nos transtornos mentais que são também estimulados nos exercícios físicos.

TRIBUNA – A depressão é o caminho para o suicídio?

MORAES – Em princípio sim. É importante esclarecer que a depressão ainda é cercada de muito preconceito e não é uma “frescura” como se lê em textos leigos. É uma doença que tem tratamento e controle com médicos psicoterapeutas. O maior problema além do preconceito é a dificuldade da abordagem quando o paciente não admite a doença e/ou a falta de preparo das pessoas mais próximas. Também é importante deixar claro a diferença entre do nada a gente acordar triste. Acordar triste é normal… tristeza que não passa é doença e pode levar à depressão.

TRIBUNA-É possível identificar ou suspeitar que uma pessoa possa cometer o suicídio?

MORAES – “Sim. As pessoas mais próximas que se dispõe a ajudar, precisam estar atentas a comportamentos suicidas que passam desapercebidos: frases como “não aguento mais”, ´eu queria sumir´. Mudança brusca de comportamento ou quem já tentou ou pensou em suicídio precisa de ajuda. Outro comportamento é a simulação de melhora repentina. Ou seja, uma pessoa que está em depressão e em tratamento de repente diz que está ´numa boa´ sorrindo para todo mundo querendo passar um final de semana na praia ou participar de eventos esportivos, pode estar preparando o suicídio fazendoas pessoas em volta relaxar a guarda e a atenção. Outro fato é que estatisticamente os homens são mais efetivos do que as mulheres sem chance nenhuma de escapar com vida”.

TRIBUNA – Uma pessoa que esteja medicada e começa a fazer exercício físico como corrida, CrosFit, ou natação passando a se sentir bem pode abandonar os medicamentos?

MORAES – “Não. Em primeiro lugar quem está usando antidepressivo está sob orientação médica e esses medicamentos são controlados cuja receita médica que fica retida. É consenso na literatura que os exercícios físicos regulares são extremamente benéficos no tratamento da depressão, mas são adjuvantes ao tratamento clínico e a psicoterapia levando-se em conta a liberação das endorfinas. Sabidamente os exercícios melhoram a auto-estima, a sensação de bem estar, a ansiedade atuando na ressocialização. Não significa que só porque começou a correr, por exemplo, que pode interromper a medicação e pronto. Á medida em que o paciente começa a sair da depressão por conta do exercício, a medicação pode ser retirada aos poucos a critério médico, procedimento conhecido como ´desmame´. Portanto, praticar qualquer exercício físico é bom, mas não é a solução de todos os problemas. Precisa ser profissionalmente orientado.

TRIBUNA – Como o profissional de Educação Física pode ajudar nesse contexto? Precisa fazer algum curso?

MORAES – “Não necessariamente um curso. Precisa ter bom senso e conhecimento do assunto. É comum principalmente quem faz trabalho personalizado criar-se uma empatia entre o profissional e o cliente. O profissional precisa ser discreto, saber ouvir sem julgar e estimular o desabafo do cliente. Ou seja, despertar a confiança do cliente. O que entra pelo ouvido não sai pela boca. Só isso já é uma grande ajuda”.

TRIBUNA– Um atleta pode entrar em depressão ou até cometer um suicídio?

MORAES – “Sim. A depressão em atletas é mais comum do que se imagina nos excessivamente competitivos. O excesso de competição, de treinos fortes e/ ou cobrança pode levar à ansiedade exagerada e à depressão diante de decepções e/ou lesões. Se esse processo não for tratado pode levar ao suicídio. Eu participei de prova há dois anos em que houve um caso de suicídio dentro da competição”.

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