Escola, Educação e Inteligência

23/08/2023 08:00
Por José Aparecido Da Silva

O conhecimento humano acerca do cérebro provido pela neurociência, genética e cognição está mudando o mundo de forma contínua e substancial, já sendo possível analisar e modificar DNA para verificar várias doenças graves e tratá-las antes que elas ameacem a vida. Também já podemos saber, com precisão, quais áreas cerebrais são ativadas quando lemos, escrevemos e calculamos a partir de como o mesmo processa informações oriundas de diferentes órgãos sensoriais, integrando-as em processos cognitivos subjacentes à aprendizagem de leitura, escrita, matemática e ciência. De modo similar, muito também já se sabe sobre as bases neurais e cognitivas dos processos de aprendizagem. Todavia, Educação, até onde conhecemos, parece negligenciar e, até mesmo, omitir, o vasto conhecimento científico oriundo da genética, da neurociência e da psicologia cognitiva. Os educadores, de modo geral, também têm demonstrado não acreditar que os genes influenciam a aprendizagem, bem como, que o DNA das crianças interage com as experiências destas em casa e na escola, refletindo no processo de aprendizagem.

Um sistema educacional realista deve ser edificando tomando-se por base os conhecimentos que se tem acerca da interação entre cérebro, genes e comportamento. Neste contexto, o primeiro fato que os educadores devem saber é que o desempenho acadêmico e as habilidades cognitivas variam, parcialmente, por razões genéticas. Em outras palavras, se identificamos um escore médio na inteligência ou nos exames de leitura, escrita, matemática e ciência, 50% da população estudantil se situarão acima da média e 50% abaixo dela. Os achados que estas habilidades são normalmente distribuídas significam que as pessoas diferirão tanto para mais quanto para menos no escore médio de maneiras previsíveis. Aceitar, portanto, que o desempenho escolástico, ou a habilidade, variam, parcialmente por razões genéticas, tende a ser o princípio básico para um melhor sistema educacional.

O segundo fato é que nós nunca encontraremos um único gene que possa explicar a habilidade de uma pessoa, ou a falta desta, em leitura, escrita, matemática, ciência, esporte e em outros, como, depressão, obesidade, problemas de conduta ou asma. O comportamento humano é influenciado por muitos genes e experiências, com cada qual tendo um pequeno efeito sobre o mesmo. Combinados de maneiras variadas, atuam afetando quem somos e o que fazemos. O terceiro fato é que os genes afetando o desempenho escolástico ou a habilidade numa dada idade, digamos, sete anos, por exemplo, continuarão a afetar o desempenho ou a habilidade em outras idades também. Em princípio, isso significa que se os genes sozinhos estivessem envolvidos em tal, nós poderíamos habilmente tomar os resultados dos testes das crianças e prever com precisão as suas pontuações quando aplicados nas mesmas na adolescência e início da idade adulta. Na verdade, continuidade é fator genético e mudança fator ambiental.

O quarto fato é que os mesmos genes estão envolvidos numa ampla variabilidade cognitiva e de desempenho escolástico. Importante é que os educadores saibam que os genes são fatores generalistas e os ambientes são fatores especialistas. Os educadores, juntamente com os pais e os professores têm o poder de maximizar o potencial genético de suas crianças. O quinto fator nos faz entender que os ambientes são influenciados pelos genes. Estudos mostram que os ambientes de nossas crianças são herdáveis, permitindo que se preveja um entendimento dos processos de aprendizagem se entendermos melhor as interações entre genes e ambientes, resultando, como conseqüência, no enriquecimento da personalização das aprendizagens nas escolas.

O sexto fato trata dos ambientes que sendo importantes para as crianças, também o são objetivamente únicos para um indivíduo ou que podem ser compartilhada por irmãos crescendo na mesma família. Entendendo que os ambientes afetam diferentemente o processo de aprendizagem, podemos elevar o potencial da criança, personalizando o ambiente de aprendizagem de cada uma. Finalizando, o sétimo fato é que os educadores entendam dever manter em mente que a igualdade de oportunidades requer diversidade de oportunidades. Em outras palavras, ensinar todas as crianças igualmente e tratá-las como indivíduos iguais é uma utopia.

**Sobre o autor: Professor Colaborador da UCP-RJ e Professor Titular Sênior da USP-Ribeirão Preto

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