Especialista explica como cannabis medicinal pode auxiliar na saúde feminina
Com abordagem que alia ciência e cuidado humanizado, fisioterapeuta petropolitana destaca o impacto positivo da cannabis em condições que afetam diretamente o bem-estar e a saúde das mulheres
Para mulheres que enfrentam desafios de saúde como endometriose, menopausa, dismenorreia e outras condições ginecológicas debilitantes, o uso medicinal da cannabis emerge como uma alternativa promissora. Com o potencial de aliviar dores crônicas, estabilizar o humor e melhorar a qualidade do sono, essa planta tem despertado crescente interesse no campo da saúde feminina. Andrea Franco, fisioterapeuta integrativa e prescritora especializada, pioneira na região serrana, detalha como esse tratamento pode ser um aliado do público feminino.
Os efeitos da cannabis no sistema reprodutivo
A presença de receptores endocanabinoides em todo o trato reprodutivo feminino sugere que os fitocanabinoides da cannabis têm o potencial de influenciar positivamente vários aspectos da saúde reprodutiva, como fertilidade, gravidez e menopausa, como esclarece a fisioterapeuta. “Embora os fitocanabinoides sejam bem conhecidos pelos seus efeitos nos sistemas nervosos central e periférico, os receptores endocanabinoides também foram caracterizados em todo o trato reprodutivo feminino. Portanto, eles podem afetar muitos aspectos da saúde reprodutiva feminina”, explica.
Alívio dos sintomas da menopausa
A menopausa é um período desafiador para muitas mulheres, caracterizado por sintomas como ondas de calor, alterações no humor e problemas de sono. Andrea observa que a cannabis medicinal tem se mostrado eficaz no alívio desses sintomas. “Nos EUA, quase 80% das mulheres de meia-idade usam cannabis para aliviar certos sintomas da menopausa, como problemas de humor e dificuldade para dormir”, comenta. Ela acrescenta que o desequilíbrio no sistema endocanabinoide durante a menopausa pode ser mitigado pelos fitocanabinoides, proporcionando alívio significativo.
Endometriose
A endometriose, doença crônica na qual o tecido que normalmente reveste o útero, chamado endométrio, cresce fora do útero, é outra condição em que a cannabis medicinal tem mostrado resultados promissores. Andrea Franco explica que o CBD, um dos principais compostos da cannabis, ajuda a aliviar a dor pélvica e inibe a decidualização das células estromais do endométrio uterino. “Considerando que cerca de 10% da população mundial feminina em idade reprodutiva tem endometriose, a descoberta pode ter um impacto significativo no tratamento de 200 milhões de mulheres em todo o mundo”, afirma.
Além disso, a cannabis também tem sido utilizada em outras condições dolorosas, como dismenorreia e até em pequenas escalas para o alívio dos sintomas da menopausa. “Estamos começando a ter um impacto eficaz e responsável na saúde das mulheres modernas em todo o mundo”, complementa a fisioterapeuta.
Antes de iniciar qualquer tratamento com cannabis medicinal, é fundamental consultar profissionais de saúde qualificados. Andrea enfatiza a importância de um diagnóstico preciso e de um acompanhamento contínuo com exames clínicos e laboratoriais para garantir a segurança e eficácia do tratamento. “O tratamento de cannabis, na verdade, é como qualquer outro. Há necessidade de que seja feito um diagnóstico, o acompanhamento com exames clínicos e de laboratório, o acompanhamento de profissionais de saúde que tenham capacitação na área. Além disso, ele deve ser individualizado e mudanças de hábitos alimentares e a prática de exercícios também são essenciais para melhores resultados”, alerta.
Diferenças entre THC e CBD
A cannabis contém diversos compostos, mas os mais estudados são o THC e o CBD. A fisioterapeuta explica que, apesar de suas estruturas químicas semelhantes, eles têm efeitos diferentes no corpo. “A principal diferença é que o THC é psicoativo e pode afetar o funcionamento do cérebro, enquanto o CBD não é considerado psicoativo e não causa euforia, mesmo em grandes doses”, esclarece.
Essas substâncias têm mostrado potencial em várias funções essenciais do corpo, incluindo a regulação do sistema imunológico e a percepção da dor, o que pode ser particularmente benéfico para mulheres com condições dolorosas ou inflamatórias.
Regulamentação da cannabis no Brasil e preconceitos
Apesar dos avanços, a regulamentação da cannabis medicinal no Brasil ainda enfrenta desafios. Atualmente, a Anvisa autoriza a importação de mais de 200 fármacos derivados e a venda de mais de 20 produtos nas farmácias, mas o cultivo da planta no país é proibido, o que encarece os medicamentos. “Hoje, temos alguns municípios fornecendo a medicação pelo SUS e associações que, através de habeas corpus para plantio, facilitam o acesso ao medicamento”, comenta.
A petropolitana reconhece que o preconceito em relação à cannabis ainda é grande, mas acredita que a informação correta é a chave para superá-lo. “Hoje já temos no Brasil inúmeras pesquisas e estudos falando sobre os benefícios em várias patologias. Acredito que cada vez mais haverá conscientização e maior aproveitamento de seus resultados na saúde”, afirma.
Para as mulheres interessadas em explorar a cannabis medicinal como opção de tratamento, Andrea recomenda buscar profissionais com formação específica na prescrição de canabinoides. “Existem cursos de extensão que oferecem essa formação. Eu, por exemplo, fiz algumas formações na área e a de prescrição pelo próprio CREFITO”, diz Franco.
Para a especialista, a educação e a conscientização são essenciais para quebrar barreiras e preconceitos em relação à cannabis medicinal. “Informações corretas e sérias são fundamentais para que as mulheres possam conhecer as infinitas possibilidades que o tratamento traz”, afirma.
Ela cita iniciativas como cursos informativos e o trabalho de associações como o Instituto Santa Planta, do qual é presidente, como formas de educar a sociedade sobre os benefícios da cannabis medicinal.
Abordagem Integrativa
A fisioterapeuta defende uma abordagem integrativa para a saúde das mulheres, que considere não apenas os aspectos físicos, mas também os emocionais. “Mulheres devem buscar uma saúde integrativa com uma abordagem mais humanizada para que possam se sentir acolhidas em todas as suas possibilidades”, conclui.
Andrea Franco é fisioterapeuta integrativa (CREFITO 10323-F), prescritora de cannabis medicinal e presidente do Instituto Santa Planta, associação cannabica de Santa Catarina. Mais informações podem ser obtidas através das redes sociais: @fisionabica