Ex-presidente da Fecomércio do Rio contratou Wassef para monitorar ex-mulher, diz Lava Jato
Na denúncia por peculato e lavagem de dinheiro apresentada nessa sexta-feira (25) contra o advogado Frederick Wassef, ex-defensor da família Bolsonaro, a força-tarefa da Operação Lava Jato afirma que ele foi contratado e pago com dinheiro desviado do Sistema S fluminense para monitorar a ex-mulher do então presidente da Federação do Comércio do Rio, Orlando Diniz.
Os pagamentos, segundo a denúncia, usaram um escritório de advocacia interposto para não chamar atenção ao contrato. Oficialmente, foi usada como justificativa a prestação de assessoria jurídica em sindicâncias administrativas para apurar vazamentos de informações. Mas, segundo a Lava Jato, o verdadeiro objeto dos serviços foi o monitoramento pessoal de Daniele Paraíso que, além de funcionária do Senac, era recém-separada de Orlando Diniz.
“(Daniele) havia recém se separado dele, pessoa a quem o colaborador (Orlando Diniz) imputava a pecha de persegui-lo, razão pela qual ele desejava responsabilizar por suspeitas de vazamentos”, sustenta a denúncia.
Em depoimento, o empresário Ivan Guimarães, pessoa próxima de Orlando Diniz, descreveu o ex-presidente da Fecomércio como alguém que imaginava conspirações e tinha uma ‘fixação muito grande na história da ex-mulher dele, Daniele’.
“A real intenção de Orlando Diniz ao firmar contratos com a empresa Corseque e com o escritório de Luiza Eluf era criminalizar condutas pessoais de Daniele Paraíso, algumas das quais sequer relacionadas a sua condição de funcionária do Sistema S (como, por exemplo, as relativas a guarda da filha comum do casal), e, para tanto, ele também contratou Frederick Wassef para defendê-lo – frise-se, defender Orlando – em processos criminais que desejava instaurar contra sua ex-esposa e demais funcionários que o colaborador “imaginava estar conspirando contra ele””, afirma a Lava Jato.
Ainda segundo Guimarães, Wassef foi contratado em razão do ‘talento incrível para lidar com escrivães de polícia’.
Denúncia
Além de Wassef, a Lava Jato do Rio apresentou denúncia contra a sócia dele, Marcia Zampiron, o empresário Marcelo Cazzo, a advogada Luiza Nagib Eluf e Orlando Diniz. Eles são acusados por peculato e lavagem de R$ 4,6 milhões supostamente desviados das seções fluminenses do Serviço Social do Comércio (Sesc), do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e da Fecomércio.
A denúncia foi apresentada no âmbito da Operação E$quema S, deflagrada no início do mês para investigar suspeitas de irregularidades na relação entre escritórios de advocacia e o Sistema S do Rio. Na ocasião, o juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, colocou 26 pessoas no banco dos réus por suposta participação no mesmo esquema, sendo 23 advogados.
Com a palavra, o advogado Frederick Wassef
“Estão criminalizando a advocacia no Brasil. Eu não tenho e nunca tive qualquer relação comercial com a FECOMERCIO, não fui contratado por eles, não recebi um único centavo desta entidade e jamais negociei com eles.
Fui contratado e prestei serviços advocatícios a um renomado escritório de advocacia criminal de São Paulo, em que a dona é uma famosa procuradora do Ministério Público de São Paulo, conhecida por ter dedicado toda sua vida e carreira a instituição Ministério Público e o combate ao crime, tratando-se de pessoa pública, íntegra, proba e de idoneidade inquestionável
Os serviços advocatícios foram devidamente prestados, os honorários foram declarados à receita federal e os impostos pagos.
Após dois anos de investigação da FECOMERCIO, jamais fui intimado ou convocado por qualquer autoridade a prestar qualquer esclarecimento. Desde o início da referida operação “esquema” não fui investigado e ao final não fui denunciado, pois sempre souberam que jamais participei de qualquer esquema.
Estranhamente após a denúncia de todos os advogados citados na referida operação sofri uma busca e apreensão em que nada foi apreendido por não terem encontrado qualquer irregularidade e mais estranhamente ainda resolveram oferecer uma denúncia relâmpago, isolada, baseada em absolutamente nada contra minha pessoa.
A denúncia do Ministério Público Federal é inepta e não descreve qualquer conduta praticada por mim ou mesmo qualquer crime, tendo se limitado a narrar simplesmente pagamentos de honorários advocatícios por serviços devidamente prestados, inovando no Brasil, transformando o regular exercício da advocacia em crime, de forma irresponsável e sem medir as consequências de dano de imagem e reputação a minha pessoa.
Nunca em minha vida respondi a qualquer processo ou fui investigado, sempre tive um nome limpo e sequer em 28 anos de advocacia tive uma única representação em meu desfavor perante a Ordem dos Advogados do Brasil.”
Defesa de Luiza Eluf
“A advogada Luiza Eluf recebeu com absoluta perplexidade a notícia do oferecimento da denúncia. Ela sempre trabalhou de forma correta e transparente, com atuação rígida nos termos da Lei. Repentinamente, é surpreendida com uma perseguição desvinculada da realidade. A defesa já havia feito contato com o Ministério Público Federal e solicitado que ela fosse ouvida presencialmente e aguardava que a data fosse marcada.
As advogadas Izabella Borges e Maíra Fernandes, que defendem Luiza Eluf, acreditam que a Justiça do espetáculo pode causar infinitos danos ao país! Luiza Eluf reforça que não praticou crime algum, que o serviço foi prestado conforme contrato, as notas emitidas, os tributos recolhidos, e sua inocência será comprovada.”
Defesa de Marcelo Cazzo
“A denúncia é absolutamente descabida. A defesa enfatiza que Marcelo Cazzo sempre esteve à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos, jamais praticou qualquer ilegalidade e fará prova da sua inocência durante a tramitação do processo.”
A reportagem busca contato com a defesa da advogada Márcia Zampiron. O espaço está aberto para manifestações.