Excalibur, a munição dos EUA que pode ajudar a Ucrânia contra blindados da Rússia

27/04/2022 17:00
Por Roberto Godoy / Estadão

No século 5, a “Excalibur”, a espada do rei Arthur, tinha o poder de queimar os olhos e cegar o inimigo no campo de batalha. Cerca de 1.600 anos depois, Excalibur, a munição de canhões pesados fornecida pelos EUA ao Exército da Ucrânia, pode mais. Pode cruzar o céu por até 40 km para destruir concentrações de blindados, um posto de comando ou um núcleo de tropas em movimento. É capaz de atingir depósitos de suprimentos e de levar o fogo aos tanques de estocagem de combustíveis.

Excalibur, o projétil de artilharia, faz magia tecnológica: disparado como uma granada de canhão, em seguida abre pequenas asas estabilizadoras, segue as coordenadas programadas no GPS de bordo e chega ao destino transformado em míssil.

Além do propelente químico convencional, usa um foguete miniaturizado para acelerar a 2.970 km/ hora no final da trajetória. Isso dura pouco. Mas é o tempo suficiente para ajustar a precisão.

O erro em relação ao ponto de impacto é inferior a 4 metros. Quase sempre não passa de 3 metros. É o diferencial: reduzir os danos colaterais.

O canhão entregue aos ucranianos é o M777, de 155 mm, o padrão do arsenal dos marines americanos. Até agora, já foram transferidos às forças de Kiev, 18 unidades com 40 mil projéteis. Entre as cerca de 2.200 munições simples destinadas a cada canhão, há perto de 150 cargas da classe Excalibur.

O preço dessas, por unidade, é de US$ 68 mil, segundo o setor de compras do Pentágono. O pacote todo é parte da ajuda de US$ 800 milhões dos EUA ao esforço de guerra da Ucrânia.

Os canhões obuseiros, pesam 4,2 toneladas, medem 10 metros e são operados por 8 artilheiros. As granadas comuns de 155mm tem abrangência de 23 km a 30 km. Pesam 45 kg com 22 kg de explosivos de alta potência. A cadência de tiro é de 2 a 4 disparos por minuto, sob controle de um computador.

Os M777 chegaram na semana passada, “em um terminal fora da Ucrânia”, de acordo com o Pentágono, entre os dias 19 e 20, a bordo de imensos cargueiros C-17.

Foram então levados para uma instalação, não revelada, onde um grupo de militares ucranianos está sendo treinado para operar o equipamento. São instrutores, que depois vão preparar um efetivo maior.

O ciclo exige apenas 56 horas de ensaios. A maior dificuldade é a mudança de especificação. A artilharia ucraniana usa obuses moveis russos MsTA com granadas de 152mm.

Na reunião do presidente Volodmir Zelensky com os secretários americanos de Estado, Antony Blinken, e da Defesa, general Lloyd Austin, o clima estava tenso. A viagem dos altos dirigentes foi cercada de sigilo e cuidados extremos. O voo só foi confirmado depois do pouso. Onde? Talvez na Polônia. Ou na Romênia.

Blinken disse que do avião até Kiev o percurso foi feito de trem. Austin comentou que o avião foi escoltado por caças em vários momentos.

A segurança dos secretários teria sido reforçada por um time dos supersoldados Seal, da Marinha dos Estados Unidos, um dos melhores grupos combatentes do mundo. Não houve confirmação. Nem desmentido.

O encontro discutiu o reforço de US$ 700 milhões em armamento e material variado. Acabou ficando em US$ 300 milhões. Mais adiante o restante será negociado.

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