Experiência na América do Sul e franquias levam México à decisão do Mundial

11/02/2021 09:30
Por Ciro Campos / Estadão

A presença do Tigres na final do Mundial de Clubes da Fifa levou o futebol do México a um patamar inédito e tem mostrado alguns acertos do diferente formato utilizado pelo país para gerir as equipes. O time da cidade de Monterrey desafia o poderoso Bayern de Munique ao confiar em uma proposta impensável para os padrões brasileiros. A manutenção do técnico por 11 anos e a administração liderada por empresas privadas são alguns exemplos.

O futebol mexicano chega pela primeira vez à final do Mundial após bater o Palmeiras e amargar nos últimos anos várias experiências de quem ficou no quase. Em 2019, por exemplo, o rival do Tigres, o Monterrey, perdeu para o Liverpool com um gol nos minutos finais. No âmbito continental, o México reina. Neste século, somente duas vezes o título da Liga dos Campeões da Concacaf não ficou com um time do país.

O domínio regional mexicano e a consequente chegada inédita à decisão do Mundial se explicam principalmente pelo poderio financeiro. As equipes são privadas e contam, portanto, com bastante dinheiro para investir em contratações. O Tigres pertence a uma universidade particular e a um poderoso grupo fabricante de cimento. Por isso, consegue contratar jogadores como o francês Gignac e o argentino Pizarro. De toda a elite do futebol local, somente o Pumas não tem um dono e é constituído por uma associação civil.

Com empresas grandes no comando, os clubes também ganham credibilidade para atrair mais patrocínios. “No mundo inteiro a razão para que clubes sejam obrigados a se estruturar empresarialmente é simples: é a única forma de receberem investimentos e se organizarem em um modelo de gestão e governança que dá mais segurança para desenvolver iniciativas de médio e longo prazo”, disse o advogado especialista em direito desportivo Pedro Trengrouse. O campeonato local tem exibição internacional para vários países e até mesmo transmissão nas redes sociais.

A forte presença de empresas privadas fazem o campeonato ter mais de 180 jogadores estrangeiros, cerca do triplo do Campeonato Brasileiro. Atletas sul-americanos são a maioria. “Os mexicanos pagam em dólar e a mudança do câmbio nos países sul-americanos aumentou a atratividade”, explicou o empresário Marcelo Robalinho, que atua no mercado de transferências há mais de 20 anos.

Do ponto de vista esportivo, a presença de estrangeiros também eleva o nível da competição. “Aqui, a maioria (dos jogadores) é convocado para as seleções de seus países. O futebol jogado aqui é muito rápido. Eu, particularmente, evoluí muito nesse quesito de jogar mais rápido. O Campeonato Brasileiro é um pouco mais lento. Aqui é mais rápido, jogam bastante com jogadores abertos, rápidos”, afirmou ao Estadão o volante Rafael Carioca, titular do Tigres.

Mas é claro que sempre a presença mexicana em torneios está associada à memória de times que ficaram no quase. Prova disso foram as seguidas decepções em Mundiais de Clubes anteriores, quando o representante das Américas do Norte e Central e do Caribe sequer chegou à semifinal. Porém, para o técnico do Tigres, o brasileiro Ricardo Ferretti, é justamente a experiência que tem possibilitado aos clubes do país irem cada vez mais longe.

“A evolução do futebol do México vem a partir do momento que começa a disputar como convidado a Copa América, a Sul-Americana e a Libertadores. Nossas equipes sempre tiveram qualidade, mas precisávamos de derrotar um Palmeiras ou outro time da América do Sul para sermos mais valorizados”, explicou Ferretti. O treinador está há 11 anos no Tigres e é um dos responsáveis pelo bom momento do time.

PONTOS NEGATIVOS – No entanto, o sistema mexicano de franquias e de clubes na mão de donos também tem graves falhas. A principal delas é o fato do futuro das equipes depender de proprietários que por vezes podem vender ou mudar o time de sede e de nome. O mais recente exemplo foi do Monarcas Morelia. O time com 70 anos de história vendeu a vaga na elite em 2020 para o Mazatlán, localizado em outra cidade e fundado com incentivos do governo estadual.

O mesmo se passou em anos anteriores com clubes bastante tradicionais. Necaxa e Atlante decidiram deixar a Cidade do México por escolha dos donos para atuarem em outras cidades. O Querétaro, que teve Ronaldinho Gaúcho no elenco entre 2014 e 2015, só chegou à elite após comprar o falido Zacatepec.

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