Família de bebê de 1 ano que engasgou em creche cobra esclarecimentos

Segundo relatos de testemunhas e da própria Prefeitura, acidente ocorreu por volta das 14h, mas criança só deu entrada na unidade de saúde às 14h39

24/05/2022 20:41
Por João Vitor Brum

A morte da pequena Maria Thereza, de apenas um ano e três meses, após a criança engasgar com um pedaço de maçã em um Centro de Educação Infantil da Prefeitura, levantou um grande debate sobre a necessidade de protocolos de segurança em unidades escolares e também de que profissionais que atuam em escolas e creches sejam treinados para situações de emergência. A família do bebê denuncia que houve negligência por parte da escola, já que Maria Thereza só deu entrada na Upa cerca de 40 minutos após engasgar, mesmo com a creche a menos de 2 km da unidade de saúde, e busca respostas sobre o que aconteceu no dia.

Uma testemunha, que não quer se identificar, relata que chegou ao CEI às 14h, quando encontrou Maria Thereza já inconsciente e sendo socorrida pelos profissionais da creche. Já em material enviado à imprensa pela Prefeitura, no último domingo, o governo municipal destaca que a criança engasgou por volta das 14h de sexta-feira.

Mesmo com os relatos, o boletim de atendimento médico da Upa Cascatinha mostra que Maria Thereza deu entrada na unidade às 14:39, quase quarenta minutos após os primeiros relatos do engasgo. Porém, o documento da unidade de saúde diz que o quadro da criança teria tido início há 20 minutos, segundo relato da funcionária que levou o bebê para a Upa.

A unidade escolar fica, de acordo com sistemas de GPS, a 1,3 km da Upa Cascatinha, de carro, com tempo de viagem aproximado em 3 minutos. Indo a pé, o trajeto seria concluído em aproximadamente 13 minutos. Para o pai da criança, o que causou a morte de Maria Thereza foi a demora em levar o bebê para a unidade.

“Preciso que o mundo saiba que ela poderia estar com a maçã inteira na garganta, mas se fosse socorrida corretamente, teria sobrevivido. Houve omissão, negligência, e isso não pode ficar impune. Se uma criança tem um problema na minha frente e eu não sei resolver, coloco no primeiro carro que passar e levo a um hospital. O tempo que ela ficou sem oxigênio foi crucial”, desabafou Carlos Eduardo Ribeiro, pai da Maria Thereza, relatando, ainda, que as funcionárias do CEI teriam mentido para a família.

“As colaboradoras da creche mentiram na nossa cara e tiveram a cara de pau de nos abraçar enquanto minha filha partia. Ao serem questionadas sobre as câmeras por minha esposa, mentiram, (dizendo) que não tinha o circuito interno. São profissionais, uma equipe inteira errou? Não deixei minha filha com uma vizinha ou algo do tipo, eu mesmo a levei para a creche”, disse o pai da menina.

A criança voltou a apresentar pulso 35 minutos depois do início da reanimação, de acordo com o boletim médico que a Tribuna teve acesso, e foi transferida para a UTI pediátrica do Hospital Alcides Carneiro às 17h30, quando a paciente apresentou estabilidade clínica. Já na manhã de domingo, Maria Thereza faleceu.

A família fez Registro de Ocorrência na 105ª Delegacia, onde o caso está sendo investigado. O Ministério Público também está atuando no caso, para averiguar os fatos, e a Prefeitura informou que abriu sindicância para apurar as circunstancias do acidente.

De acordo com a Polícia Civil, os agentes ouviram vários depoimentos, entre funcionários da unidade e testemunhas. O corpo da criança foi exumado na segunda-feira (23). O resultado do laudo de necropsia está previsto para a próxima semana.

Equipes das secretarias de Saúde e de Educação se mobilizaram para prestar apoio psicológico aos familiares. Na quarta-feira (25), equipe fará uma roda de conversa com a equipe do CEI Carolina Amorim, promovendo atendimento psicológico para os servidores da unidade. Já na quinta (26), haverá reunião com os pais. Em respeito ao luto, as atividades serão retomadas após quatro dias. 

A direção do Centro de Educação Infantil (CEI) Carolina Amorim informou que fez treinamento de noções de primeiros socorros com a Defesa Civil (DC) e as equipes dos PSFs Machado Fagundes e Boa Vista, sendo o último, por iniciativa própria, em 2018. Desde 2020, não foram realizadas capacitações das equipes na rede municipal, nem mesmo de forma remota (online).

  A Prefeitura foi questionada se algum serviço de urgência foi acionado pela equipe da escola, se há alguma informação sobre a demora em levar a criança para a unidade de saúde e sobre o número de profissionais que atuam na unidade, mas não respondeu.

Protocolo de emergência em escolas e creches é determinado após morte da aluna 

O prefeito Rubens Bomtempo determinou, nesta segunda-feira (23), a criação de um  grupo de trabalho para criar protocolos de atendimentos em casos de urgência e emergência no atendimento aos alunos da rede municipal de ensino, um dia após a morte de Maria Thereza.

A Prefeitura informou que já havia iniciado contato com o curso de Enfermagem da Universidade Estácio de Sá com o objetivo de realizar uma parceria de capacitação dos profissionais da Educação, efetivando a Lei Lucas – que trata dos primeiros-socorros para estudantes. O município também trabalha na regulamentação e consolidação da lei federal. 

O grupo de trabalho vai contar com as secretarias de Educação, Saúde, Assistência Social e Defesa Civil, além da Procuradoria-Geral do Município e da CPTrans.

Últimas