Família diz que corpo de jovem desaparecido no Morro da Oficina já foi retirado do local e cobra respostas

14/03/2022 17:50

Quase um mês depois da maior tragédia socioambiental da história de Petrópolis, que resultou em 233 mortes, o Corpo de Bombeiros ainda faz buscas por quatro pessoas desaparecidas. Lucas Rufino, de 21 anos, é considerado desaparecido pelo Corpo de Bombeiros e pela Polícia Civil, no entanto a família afirma que, dois dias depois do desastre, o corpo do rapaz foi encontrado e reconhecido pelo pai ainda no local. A família cobra respostas, em meio às buscas no Morro da Oficina. 

Segundo o tio de Lucas, Ricardo Rufino, as buscas pelo corpo de Lucas começaram no dia seguinte ao temporal. “Meu irmão foi ao local onde o Lucas morava. Ele identificou o corpo do meu sobrinho. Eu também fui lá. Parte do rosto estava bastante machucado, mas ainda era possível identificá-lo. Nós o reconhecemos e tiramos o corpo do local”, conta o tio, que desse resgate guarda uma bermuda, com as marcas do sangue do rapaz.

Segundo Ricardo, o resgate contou com ajuda de outros quatro vizinhos. “Depois disso, veio uma equipe do Corpo de Bombeiros e levou meu sobrinho”, afirma o tio, que conta ainda que depois disso a família foi até o Instituto Médico Legal – IML, em Correas, mas não encontraram o corpo do rapaz.

No dia 27 do mês passado, 12 dias depois da tragédia, o Corpo de Bombeiros anunciou o encerramento das buscas no Morro da Oficina, e informou que todas as 93 pessoas que haviam sido dadas como desaparecidas foram retiradas dos escombros. Mas, no dia 3, quatro dias depois, os militares voltaram ao local em busca do Corpo de Lucas. “Meu sobrinho não está lá. Nós retiramos ele e a bermuda com o sangue é uma prova disso. O que a gente quer saber agora é onde ele está, para onde levaram o corpo dele?”, questiona.

Família cobra das autoridades uma resposta para o desaparecimento

A bermuda usada pelo tio servirá para que seja feita a coleta de material genético, o que pode servir como prova para a versão dada pela família.  No entanto, o tempo para que saia o resultado do exame pode levar até 90 dias. A Defensoria Pública já encaminhou, na última quarta-feira (9), material para um laboratório conveniado e pediu urgência.

“Já encaminhamos e esperamos que esse resultado saia bem antes do prazo de 90 dias. Não é uma coleta fácil, mas pode nos dar um indício importante nesse caso. Nos disseram que vão fazer o possível para extrair esse material genético. Oficiamos o Corpo de Bombeiros e também o IML de Três Rios e Teresópolis, porque parte outros corpos, que não eram relacionados às chuvas, nas últimas semanas, foram levados para essas cidades, em função da grande demanda que o IML de Petrópolis teve”, explica a defensora Luciana Lemos.

Ainda de acordo com a Defensoria Pública, a Polícia Civil afirma que o IML não registrou a chegada do corpo de Lucas. Já a família destaca que o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro – MPRJ informou que abriu inquérito para apurar o caso. “A Polícia Civil afirmou que não houve a entrada do corpo de Lucas IML e que um outro corpo parecido com o dele foi reconhecido, que houve mal entendido”, informa Ricardo, que diz ser impossível ter havido confusão no reconhecimento. “O meu sobrinho tinha 1,92 metros. A pessoa a que eles se referem nem tinha 1,70. E ele ainda tinha uma tatuagem no pescoço e no braço. Meu sobrinho não tinha nenhuma tatuagem. Impossível de confundir. Acredito na possibilidade de que houve algum erro e, como tiveram muitos enterros de caixão fechado, de que ele possa ter sido sepultado por engano no lugar de outra pessoa”, ressalta.

Nesta segunda-feira(14), em resposta à Tribuna, o MPRJ informou que não há novidade sobre o caso, e que as autoridades locais estão em busca do corpo, que não deu entrada no IML, conforme informações da Polícia Civil. 

Já a Polícia Civil, questionada pela reportagem, disse que, até o momento, não há confirmação da entrada do corpo de Lucas Rufino da Silva no Instituto Médico Legal (IML) de Petrópolis. “Um outro cadáver, com características físicas semelhantes às dele e que foi resgatado na mesma localidade, pode ser fruto do mal-entendido. Gilberto Martins foi reconhecido por meio de exame papiloscópico e liberado para a família. Inclusive foi coletado material para exame de DNA em um despojo que deu entrada no IML no mesmo dia em que parentes afirmam que o corpo de Lucas teria dado entrada”, informou a Polícia, por meio de nota.

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