Família fala em crime de ódio no caso de jovem morto após marcar encontro por aplicativo

15/jun 19:49
Por José Maria Tomazela / Estadão

Familiares do jovem de Leonardo Rodrigues Nunes, de 24 anos, que foi baleado e morto após ir a encontro marcado através de um aplicativo de relacionamento, na madrugada de quinta-feira, 13, em São Paulo, vão pedir à polícia que apure possível crime de ódio. De acordo com o pai, Aurélio Nunes, seu filho Leonardo morreu porque era gay. “Estamos vivendo em um mundo em que o ódio é direcionado para pessoas que são pretas, pobres e gays. Meu filho é mais uma vítima”, disse.

De acordo com informações do boletim de ocorrência da Polícia Civil, Leonardo teria conversado com um homem através de um aplicativo de relacionamento e saído de casa, no bairro Cambuci, por volta das 23 horas da quarta-feira, 12. Segundo a amiga Evelyn Miranda, talvez porque já temesse algo, ele compartilhou sua localização com um amigo e informou que deveria estar de volta às 2 horas da manhã.

Como o rapaz não voltou no horário informado e não passou nenhum aviso, os amigos procuraram algum contato no perfil do homem com quem o rapaz se encontraria. Viram, então, que o perfil havia sido removido do aplicativo. Evelyn conta que Leo era tutor de três gatos e não costumava passar a noite fora de casa. “As horas passavam, a gente ligava, dava caixa postal e começamos a ficar preocupados. Foi quando vimos que a pessoa com quem ele estava falando apagou o perfil no aplicativo”, disse.

Os jovens registraram boletim de ocorrência por desaparecimento na 5ª Delegacia de Pessoas Desaparecidas do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e tentaram localizar o paradeiro de Nunes a partir da última localização do seu celular, a favela Heliópolis, no distrito de Sacomã, na zona sul.

Na busca em hospitais da região, eles foram informados de que um rapaz tinha dado entrada com ferimentos à bala no pronto-socorro do Hospital Ipiranga, mas acabou morrendo. Eles reconheceram o corpo de Leonardo pelas fotos e avisaram a família do rapaz. Segundo Evelyn, ele estava sem os documentos e o celular, provavelmente roubados pelo autor do crime.

Clima de comoção

O corpo de Leonardo foi velado e sepultado no início da tarde deste sábado, 15, no Cemitério Parque dos Pinheiros, na Vila Nova Galvão, na zona norte da capital. Em clima de comoção, amigos e familiares pediram justiça. De acordo com Evelyn, ele era natural de Minas Gerais, mas vivia na capital. “Ele era meu melhor amigo, uma pessoa querida, do bem, a melhor pessoa do mundo. Estamos sem entender de onde vem tanta violência, tanto ódio”, disse.

Evelyn conhecia Leo, como ele era chamado, há quase dois anos. Ela conta que os pais moram em Minas Gerais, mas o filho se mudou para São Paulo para estudar. “O Leo trabalhava com atendimento, fazia faculdade ligada à área de psicologia, estava cheio de sonhos.”

Segundo a jovem, Leonardo estava conversando com o homem pelo aplicativo de relacionamentos, no dia 12, dia dos namorados. “O aplicativo pelo qual ele foi pego era um chat de namoro gay. E tem acontecido muitos casos ultimamente no mesmo aplicativo.”

Para ela, o rapaz pode ter sido vítima de crime de ódio por ser gay. “Sim, porque se fosse roubo, roubava e deixava ele ir, não é? Por que matar? Um celular não vale uma vida”, disse.

Em seu perfil no X (antigo Twitter), a mãe de Leonardo, Adriana Nunes, postou um desabafo: “Justiça por Leo. Meu coração sangra de receber uma notícia monstruosa dessa. Meu filho era uma pessoa maravilhosa. Um ser humano iluminado, incapaz de fazer maldade a qualquer pessoa ou animal. Essa luta agora é minha, aliás é nossa. Comunidade LGBT, vamos pra cima”, escreveu.

Em outra postagem, ao lado de uma foto do filho, Adriana escreveu: “Está doendo demais. Hoje não recebi sua mensagem de bom dia! Por que, meu Deus. Por quê?”, questionou.

Conforme a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), a Polícia Civil requisitou exames ao Instituto de Criminalística e ao Instituto Médico Legal (IML). Os laudos são aguardados para definir a causa da morte e o rumo do inquérito. Segundo a pasta, o caso está em investigação pela Polícia Civil.

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