Fechamento Juros: Taxas recuam com sinais de apoio do governo à agenda de revisão de gastos

13/jun 18:12
Por Denise Abarca / Estadão

Os juros futuros terminaram a sessão desta quinta-feira em baixa. Declarações de ministros do governo Lula em prol de ajuste nos gastos levaram o mercado a corrigir parte do expressivo avanço visto ontem pelo estresse gerado pela percepção de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, estava escanteado. Assim, conduzidas por uma pausa na tensão política, as taxas conseguiram se alinhar ao comportamento de baixa dos juros dos Treasuries, estes embalados pela deflação inesperada dos preços no atacado.

No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,645%, de 10,720% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 caía de 11,32% para 11,23%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 11,60%, de 11,70% ontem, enquanto a do DI para janeiro de 2029 marcava 12,03% (de 12,12%).

Na primeira etapa, o sinal de baixa era discreto. Apesar do alívio na curva dos Treasuries, pesavam sobre as taxas o desconforto com as declarações do presidente Lula relativas à área fiscal e as dúvidas sobre a permanência de Haddad no comando da Fazenda após o Senado devolver a MP do PIS/Cofins, visto como sinal de dificuldade na interlocução com o Congresso.

A partir do meio-dia, uma bateria de declarações de ministros e do próprio presidente Lula colocou as taxas em trajetória firme de baixa. Haddad disse que a agenda de revisão de gastos está ganhando tração, que o Congresso está disposto a encampá-la e que a Fazenda está “absolutamente” sintonizada com o Planejamento no chamado ‘spending review’. Sobre a Selic, disse confiar na qualidade técnica das decisões tomadas pelo Banco Central. A ministra do Planejamento, Simone Tebet, afirmou que, seja pela ótica da revisão ou do corte, a agenda de gastos está sendo intensificada. “Há margem para rever despesa”, disse.

Geraldo Alckmin, que está no exercício da Presidência enquanto Lula está na Europa, afirmou que o governo buscará ajustes pelo lado da receita mas também da despesa. Por fim, Lula saiu em defesa de Haddad – “é extraordinário” -, dizendo que o ministro tentou construir uma alternativa à desoneração da folha ainda que não tivesse essa responsabilidade.

O estrategista da Traad Leonardo Cappa diz que houve exagero na dose de alta das taxas e as declarações deram oportunidade para alguma correção. “Parte do mercado acredita que o governo já ‘dilmou’ e outra, que não, que o movimento de ontem foi excessivo. Há um exagero na precificação de Selic, ainda mais considerando que os dados americanos estão soando como música para o mercado”, afirmou, lembrando que os DIs projetam aposta, ainda que residual, de alta para a Selic já no Copom de junho.

Hoje, o Departamento de Trabalho dos EUA informou que os preços no atacado caíram 0,2% em maio, ante consenso de alta de 0,1%, e o núcleo ficou estável, contra estimativa de avanço de 0,3%. Os números reforçaram a aposta de corte de juro nos EUA em setembro, com chance em torno de 70%. A taxa da T-Note de dez anos chegava ao fim da sessão abaixo de 4,25%.

Por ora, o recuo das taxas é visto mais como um respiro do que como tendência, na medida em que o mercado quer ver ações concretas na área fiscal via gastos antes de montar posições firmes na ponta vendedora. Para o economista-chefe e sócio da JF Trust, Eduardo Velho, prepondera o viés de compra de juros, que pontualmente pode ter uma realização rápida. “O cenário de corte de gastos é inexistente e ainda temos a sequência de perdas de receitas fiscais pelo Congresso”, argumenta.

Por outro lado, diz, a precificação de uma elevação dos juros no curto prazo tem racionalidade de captar o prêmio de risco, com pouca probabilidade de se concretizar. “Não está ocorrendo uma saída descontrolada de recursos para fora do país que exija isso e a inflação projetada também não é um descalabro e ainda ao redor do teto da meta”, justifica.

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