Felicidade, apenas felicidade

07/08/2019 10:00

O terreno de pouca metragem e a casa da família – mãe, pai e dois filhos – construída de “pau a pique”, simplória mas abrigando seus moradores que ali viviam muito unidos, todavia em situações de extremas dificuldades a serem enfrentadas, e o pior, superadas.

Contudo, o pai homem de grande sensibilidade espiritual cultivava as flores e cuidava das plantações, árduo defensor da natureza, ainda que simples e de poucas letras.

Planejava o dia a dia da família na medida em que o Pai lhe permitia; aposentado, e a esposa por conta dos afazeres domésticos e a casa situada quase à beira da rodovia, sendo que os deslocamentos de seus moradores, sob imenso sacrifício.

No terreno, sempre bem aproveitado, eram plantadas as mais diferentes hortaliças, afora um abacateiro que lá existia, possibilitando a venda dos mesmos e das hortaliças para os transeuntes – motoristas de automóveis – que trafegavam com seus veículos e a pagarem míseros reais pelas compras que faziam.

Entretanto, o xodó do sr. Chiquinho, chefe do clã, não se restringia somente ao abacateiro mas a outra árvore, que segundo ele deveria ser quase centenária, uma frondosa amendoeira cuja sombra proporcionava ao idoso momentos de descanso, justamente após o almoço com a família preparado pela esposa e ajudada pela filha, contudo dependente da mãe já que nascera com sérios problemas de saúde.

O filho, utilizando-se da bicicleta se locomovia diariamente para o trabalho uma vez que a fábrica onde labutava distava trinta minutos de sua moradia.

O pai “pelejando” no dia a dia e o salário recebido pelo filho entregue ao “velho” para suportar as despesas mensais.

Sr. Chiquinho sempre a reunir as forças que lhe sobravam para continuar na difícil caminhada e nunca desistindo de seus planos, é verdade que modestos. Levantava-se às seis horas, todavia, só adormecia tarde da noite; portanto, pouco descansava!

A esposa, ao contrário, demorava a se recolher e sempre muito preocupada com o estado de saúde, não só da filha mas, também, do marido que escondia seus males.

Já tendo completado setenta anos e sem o devido acompanhamento médico, a saúde a dar sinais de fraqueza além de outros sintomas preocupantes.

Costumeiramente, após o almoço recostava-se no tronco da árvore preferida, e segundo a esposa, ali até cochilava e ao acordar, sempre a negar o cochilo, partindo de imediato para cuidar do plantio das verduras e legumes.

Os abacates os recolhia nas épocas próprias e sob extremos cuidados.

Contudo, o destino, às vezes torna-se cruel e os menos aquinhoados de recursos acabam por sofrer consequências irreparáveis e dolorosas e foi, justamente, o que se deu com a família, já que o Sr. Chiquinho, como sempre, recostado ao tronco da árvore que tanto cuidava, após terminar o almoço preparado pela esposa, ali adormeceu para a eternidade já que Deus o levou sem que ninguém pudesse tomar qualquer providência com o objetivo de vir a socorrê-lo.

Pânico entre mãe e filhos porquanto faltara a figura principal.

Neste interregno a esposa, em razão de ter uma irmã residindo numa cidade situada em Minas Gerais, localidade e costumes bem diversos de onde residia, chamada pela mesma veio a aceitar o convite e para lá se transferiu com a filha já que o filho não poderia fazer o mesmo face o trabalho que detinha e o pior, o risco da simplória casa ser invadida.

A mudança, entretanto, durou pouco tempo, já que prevaleceram a saudade daquele que se fora, as boas recordações da modesta casa e tudo o mais que a rodeava, especialmente a amendoeira na qual se recostava diariamente o marido.

Diante de tal resolução, admito que d. Agostinha decidiu exatamente  como escreveu o poeta, ou seja:

“E’ na modesta choupana, / onde há pureza e humildade, / longe da vida mundana, / que mora a felicidade”.

Últimas