Feliz você pra você

13/01/2018 13:30

Deste ano que chega, tão repleto de velharias como um ferro-velho, não dá pra dizer ano novo. Eu poderia, com uma lágrima, inventar palavra outra para descrevê-lo. Ano “desastroz”. Ou “pétruva”, ou “pragueril”. Afinal, ele nos remeterá a filmes vistos, velharias, como o decrépito ex-presidente messiânico e condenado que tenta fugir da cadeia pelas urnas. Ou o adulador de torturadores que vem salvador da pátria – triste a pátria que precisar de salvadores assim. E o atual ocupante do palácio, medíocre e quadrilheiro, que permanece alguém a temer. É mesmo um ano pragueril para todos nós que respiramos o triste ar brasileiro.

Também não poderia, talvez, dizer como em criança eu ouvia: ano bom. Não dizemos mais assim, porque os tempos têm sido ruins. Mas mesmo em anos trevosos podemos achar uma aurora. Os meninos do Tite podem nos dar um punhado de bons sorrisos. Sempre alguém vai casar e ser feliz. E uma criança virá com uma estrela de prata na mão. Então, eu poderia, com um sorriso, inventar vocábulo diferente para o ano que chega. Ano “félux”, “florança”, ou “alegriz”. Que haja alegriz pra você!

Mas se preciso criar palavras porque não posso carimbar na testa deste ano que engatinha nem “novo” nem “bom”, nada impede que eu relembre a lição ancestral. A vida é um jeito de olhar. Há esse velho ano geral e superficial, em que se computarão as guerras da Síria, as ameaças da Coreia do Norte, o topete do Trump e os imigrantes tristes vagando pela Europa. Esse velho ano em que Brasília continuará despejando esgotos morais país afora. Ano da crise de desemprego continuada. Um pragueril triste, sobre o qual eu e você, pequeninos, tão pouco podemos fazer e realizar. 

Mas existe esse ano particular e pessoal, profundo alegriz, em que se computarão as coisas que ocorrem debaixo da tenda de você, nos canteiros do seu coração. Ano em que você pode se tornar pessoa melhor e aprender uns trinta novos tipos de sorriso. Em que você pode praticar pelo menos sete das cinquenta formas de esperança. Em que você pode se aperfeiçoar em no mínimo cinco das cem formas de gratidão. Ano em que você pode aprimorar o gesto de atirar crianças ao céu para apará-las com sua gargalhada na segurança do colo dos teus melhores afetos. Ano em que você pode aprender a contar quem sabe umas dez piadas para alegrar a tarde do ancião que sente saudades e dores. Ano em que você pode domar a avidez dos desnecessários apetites e comprar menos, comer menos, beber menos, meditar mais, orar com maior profundidade.

Então, veja. Se o ano será dourado, cheio de pura alegriz ou chafurdado em sombrio pragueril, depende da perspectiva que você escolhe. Há coisas embutidas nos dias desse ano chegante, que só dependem de você. Você pode ser aquele que aprende a cantar no meio da tempestade, usando os trovões como percussão, marcas de ritmo que melhoram a canção e o sapateado. Você pode ser o que não se apavora com os relâmpagos, mas aproveita seus holofotes para iluminar o espetáculo da vida. 

Se um punhado de nós construir em cada mês do ano, em cada dia do mês, em cada hora do dia, em nós mesmos, um ser assim, mais completo e feliz, seremos capazes de dar as mãos e essas mãos unidas serão lâmpadas maiores que constelações. E elas podem levar chuvas de luz até a recantos obscuros como as mais tristes brasílias profundas. Então, em 2018, um feliz ano alegriz! Que, no fundo, só quer dizer: feliz você pra você!

 denilsoncdearaujo.blogspot.com

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