Festa do cine italiano

17/06/2021 08:00
Por Luiz Carlos Merten, especial para o Estadão / Estadão

Mulheres em destaque na 8 ½ Festa do Cinema Italiano. O evento, que já se tornou tradicional no calendário artístico e cultural paulista, ganha versão online e gratuita na plataforma Looke, o que significa que este ano, por conta da pandemia, terá ressonância nacional. A Generali Seguros patrocina com apoio dos Institutos Italianos de Cultura de São Paulo e Rio, e do Instituto Luce Cinecittà. A organização geral é da Associação Il Sorpasso e Risdi Filmes Brasil.

Para marcar a abertura, nesta quinta, 17, o evento revisa, a partir das 9h, a obra da homenageada, a cineasta Alice Rohrwacher. Às 19 h, no canal da Festa no YouTube, Emma Dante realiza o debate de abertura. Vai falar sobre seu filme na programação, As Irmãs Macaluso, que estará disponível por 24 horas, e também sobre sua peculiar trajetória. Siciliana, dramaturga e escritora, Emma já esteve no Brasil, participando do Porto Alegre em Cena. Depois, viajou à Bahia. Ela deu entrevista ao Estadão explicando por que, depois dos 40 anos, se tornou cineasta.

“As Irmãs foi peça, representada com sucesso num palco vazio. Quando fiz meu primeiro filme, baseado no romance Via Castellana Bandiera, a nova linguagem terminou por absorver-me.” Duas mulheres na direção dos respectivos carros, numa via estreita, em sentidos contrários. Nenhuma delas quer recuar. Ninguém está certo, ninguém está errado. É uma frase de As Irmãs Macaluso. “No teatro, as irmãs habitavam um palco desnudo. Toda a expressão passava pela voz e pelo corpo das atrizes. O que eu fiz, no cinema, foi dar-lhes uma casa com objetos, fotos, tudo aquilo que caracteriza uma vida.”

O filme acompanha as irmãs da infância à idade madura e até a morte. Justamente a morte desempenha um papel essencial nas complicadas relações familiares – uma irmã morreu num dia que deveria ser feliz, na praia, e a vida das sobreviventes nunca mais foi a mesma. “Meu teatro alimenta-se do dialeto siciliano, mas é uma linguagem reinventada e adaptada à escrita das peças. E o silêncio é uma ferramenta tão importante e necessária como as palavras.” Outros diretores, os irmãos gêmeos Fabio e Damiano D’Innocenzo também conversaram com a reportagem do Estadão sobre seu longa Fábulas Sombrias, outra atração da Festa.

Poderia chamar-se I Bambini Ci Guardano, como o clássico de Vittorio De Sica, nos anos 1940, embora a pegada seja mais a do Marco Bellocchio de De Punhos Cerrados, sua obra-prima de 1965. Famílias disfuncionais, as crianças e seus pais. A violência das relações familiares. “Escrevemos o roteiro quando tínhamos 19 anos, mas só fizemos o filme aos 30. Nunca foi nossa intenção fazer um comentário sociológico sobre um período específico da sociedade italiana, mas, sim, esses pais e filhos são a consequência de mais de 20 anos de poder de (Silvio) Berlusconi em nosso país. As crianças são as maiores vítimas desses tempos.” Pais e filhos estão sempre transgredindo em Fábulas Sombrias. Elio Germano faz um pai machista, violento. Até as crianças são obcecadas pelo sexo.

“Tínhamos os pais delas no set, porque elas dizem coisas que nem entendem sobre o sexo, se bem que, na era da internet, as crianças talvez não sejam mais tão inocentes.” Como em As Irmãs Macaluso, a tragédia ronda as fábulas sombrias dos irmãos D’Innocenzo – Bad Tales em inglês.

Para contrapor a tanta desgraça, o público poderá (re)ver na Festa, numa homenagem a Alice Rohrwacher, o belo As Maravilhas, filme premiado pelo júri em Cannes e interpretado pela irmã da diretora, Alba Rohrwacher, e por Monica Bellucci. As Maravilhas conta a história de Gelsomina – o mesmo nome da felliniana palhaça de La Strada/A Estrada da Vida -, que sonha ser famosa, mesmo vivendo uma dura vida no campo. Maria Alexandra Lungu é quem faz o papel.

Em Cannes, Alice também foi premiada pelo roteiro de Lazzaro Felice. Ela ministra uma masterclass que ficará disponível durante toda a duração da Festa do Cinema Italiano de 2021. O já citado Elio Germano, que faz o pai machista de Fábulas Sombrias, também interpreta A Vida Solitária de Antonio Ligabue, de Giorgio Diritti, pelo qual foi melhor ator no Festival de Berlim do ano passado.

Mais uma atração da mostra: Rômulo e Remo – O Primeiro Rei. O longa de Matteo Rovere, falado em latim, recria a história dos gêmeos que foram amamentados por uma loba e viraram os heróis na origem de Roma. O antiépico. Rovere busca na história arcaica uma forma de refletir sobre o mundo contemporâneo, a exemplo do Pier Paolo Pasolini de Édipo Rei, Porcile e Medeia.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Últimas