‘Gabigol da torcida’ vira jogador e sonha em enfrentar ídolo no Maracanã

19/10/2022 10:44
Por Estadão

Com presença confirmada nos dois jogos da final da Copa do Brasil e também na decisão da Copa Libertadores, Jeferson Thiago Rosário Sales, o torcedor que é sósia do atacante Gabriel Barbosa, vem tendo a chance de realizar um outro sonho: o de ser jogador profissional. Com 37 anos, 1,80m e 96 quilos, ele integra o elenco do Nova Cidade, time de Nilópolis, que está na série B1 do Campeonato Carioca e busca o acesso. É a terceira divisão do Estado.

Contratado como ação de marketing pelo clube da Baixada Fluminense, a torcida agora fica pela volta do time à elite do Estadual do Rio. O caminho é longo. “O Nova Cidade é o time que me abraçou e abriu as portas para eu realizar o sonho de jogar profissionalmente aos 37 anos. Quem sabe subir e ter a chance de jogar contra Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo. Imagina: dois Gabigols em campo, vai ser muito engraçado.”

Em conversa com a reportagem do Estadão, Jeferson deu o tom da irreverência e bom humor ao falar do personagem que mudou a sua vida. “Costumo dizer que não sou gordo, a câmera é que me engorda um pouquinho. Essa é a verdade que precisa ser dita”, diverte-se toda vez que é chamado de “Gabigordo”.

Longe do glamour que cerca os atletas de ponta no futebol brasileiro, Jeferson tem uma trajetória pautada na dificuldade. Morador do bairro de Paciência, na zona oeste do Rio de Janeiro, encarou, desde muito cedo, a realidade de uma vida com poucos recursos financeiros.

“Aos 11 anos, perdi minha mãe. Meu pai sempre foi ausente e precisei morar com meus avós. Comecei a trabalhar com 14 anos como servente de pedreiro e pegava trem às cinco horas da manhã. Fiquei um bom tempo mexendo com obra”, contou à reportagem. O futebol sempre foi sua paixão.

Ter sido criado em meio a uma vida desestruturada trouxe lições que provocaram cicatrizes. Fortalecer a base familiar é uma consequência desse aprendizado. “Tenho três filhos. O Pedro, de 16 anos, é fruto de outro relacionamento e vive com a mãe. Comigo moram a Maria Eduarda, 13 anos, e Heitor, o caçula, de cinco. Procuro dar a eles o que eu posso em termos de carinho, atenção e orientação.”

SUCESSO DE GABIGOL E MUDANÇA DE PATAMAR

O sucesso e a exposição tanto na mídia quanto nas redes sociais trouxeram uma mudança de rumo. “Em 2019, eu trabalhava na Ambev, era cervejeiro e tinha 12 anos de empresa. Quando estourou o Gabigol da Torcida, aproveitei a chance de conhecer pessoas e lugares que nunca imaginei visitar. Virou um trabalho.”

Atualmente, Jeferson faz ações e eventos de marketing para grandes empresas como a Brahma e a Gillette, por exemplo. “Meu salário triplicou. Antes tinha de cumprir um turno de nove horas, começando às seis da manhã. Agora, trabalho livre, viajando. É totalmente diferente.”

Com a popularidade em alta também veio a chance de atuar em outras frentes. Tentou uma vaga na Assembleia Legislativa do Rio pelo PTB nas eleições deste ano. Com 1.842 votos, porém, o sonho de ser deputado estadual acabou não acontecendo.

ATRAÇÃO DO NOVA CIDADE

“O Jeferson entrou no ano passado. No que diz respeito ao futebol, é esforçado e faz tudo para entrar em forma. Em 2021, fez dois jogos, mas teve uma lesão na coxa e precisou parar. É centroavante, atua com a 9, mas ainda não fez gol pelo clube”, informou Leandro.

Em 2022, em função das obrigações de campanha por conta das eleições, ele quase não treinou e não defendeu o Nova Cidade em nenhum jogo. No entanto, está sempre presente no clube e interagindo com o elenco. “O Jeferson já arrumou até pares de chuteiras para os garotos da base. Está sempre com o pessoal, deixa o ambiente agradável, e adora uma confraternização”, comentou o analista.

CAMPEONATO

“É feito um sorteio que forma uma equipe com torcedores para uma disputa de pênaltis. O adversário muitas vezes é um time de sósias de atletas do Flamengo liderado pelo Gabigol da Torcida. Durante o jogo, muitos torcedores que estão na arquibancada pedem para tirar fotos. E todos são atendidos”, afirma Leandro.

Em Nilópolis, a sua popularidade pode ser comparada com a de jogadores de ponta do futebol brasileiro. “Eu esqueço até o meu nome. Saio nas ruas e as crianças já me rodeiam querendo foto. Gravo vídeo, converso e fico feliz com esse carinho”, disse Jeferson sobre o seu lado “celebridade.”

TÃO PERTO, TÃO LONGE

Uma das possíveis causas, segundo Jeferson, pode ser uma gafe produzida por um jornal português nos tempos em que o Flamengo tentava a sua aquisição em definitivo junto à Inter de Milão. “O Gabigol estava em fim de contrato e noticiaram que o Flamengo pagaria 22 milhões euros. Só que na edição, colocaram a minha foto ao invés da dele. O jornalista deu mole. Mas não tenho nada com isso.”

Feliz com essa mudança de vida, ainda mais por ser vinculada ao time do coração, o Gabigol da Torcida agora torce para que outubro dê ao Flamengo o desfecho que todos os rubro-negros esperam. “Queremos os dois títulos, e se for com gol do Gabigol, melhor ainda. Quero todo mundo feliz e com faixa de campeão”, disse Jeferson que não vê a hora de os jogos começarem.

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