Há 40 anos nascia o I Festival Germânico sob a égide do Instituto Histórico de Petrópolis
*Maria de Fátima Moraes Argon e Marisa Guadalupe Cardoso Plum, associadas titulares do IHP
Há exatos 40 anos foi realizado o I Festival Germânico, no parque do Palácio de Cristal, com danças típicas, artesanato e culinária alemã, que teve como “finalidade congregar os descendentes dos colonos alemães e incentivá-los a conservar as tradições de seus antepassados”.
A ideia apresentada na sessão do Instituto Histórico de Petrópolis pelo associado Carlos Grandmasson Rheingantz, estudioso dedicado à pesquisa genealógica dos colonos germânicos de Petrópolis, recebeu imediata adesão não só da presidente do IHP, Ruth Boucault Judice, como de outras pessoas e instituições.
O Instituto Histórico de Petrópolis, principal promotor e gestor do evento, obteve a colaboração de Raul Lopes para a elaboração da marca do I Festival Germânico.
A história da comunicação da humanidade revela as primeiras atividades publicitárias registradas nas tabuletas de Pompéia divulgando, ora as lutas entre os gladiadores, ora as casas de banho, ou mesmo, as mercadorias anunciadas oralmente até a Idade Média pelos mercadores e comerciantes, conforme aponta Eloá Muniz. Segundo ela, nesta época quando não havia numeração nas casas e nem ruas nomeadas, uma “cabra indicaria uma leiteria”, deu-se a evolução dos símbolos que se tornaram “emblemas de marca e logotipos” na modernidade.
A invenção de Gutenberg, a máquina de impressão em papel, provocou uma enorme revolução com o surgimento dos panfletos, volantes e cartazes, e posteriormente, os anúncios em jornais, sendo o primeiro no periódico inglês Mercurius Britannicus em 1625. Daí por diante, as profundas transformações socioeconômicas, culturais e políticas mundiais trazem a propaganda como estratégia indutora e estimulante para uma sociedade de consumo e suas interelações.
Segundo Marcondes, “a propaganda incorpora os avanços e as conquistas da sociedade, e os coloca a serviço da comunicação comercial.” Nesta perspectiva, os elementos heráldicos medievais são ainda utilizados na contemporaneidade em brasões e escudos, como linguagem de comunicação através de ícones simbólicos e a marca é o produto desta construção.
Raul Lopes, como exímio design gráfico, inspirou-se nas tradições germânicas criando a arte final do logotipo do I Festival Germânico usado como a marca do evento. De acordo com documento datado de abril de 1982, Raul Lopes apresentou a descrição do chamado “escudo/símbolo”, iniciando pela coroa mural de cinco torres, a mesma presente no brasão de Petrópolis. A coroa em prata determina o status de cidade, pois a de ouro é para as capitais, segundo as regras da heráldica brasileira. É de se esclarecer que a coroa pelo seu formato possui oito torres, sendo cinco frontais visíveis, as duas das extremidades vistas pela metade, dando a impressão de que suas outras metades e as outras estariam dando a volta na parte de trás da coroa.
A cruz latina ou crux immissa, obedecendo a simetria dos desenhos possui a trave vertical acima da trave, o braço superior mais curto, o inferior mais longo e aparece frequentemente em brasões de armas e similares. Especificamente sobre a “cruz negra”, remete à cristandade e às Cruzadas, quando cada cor representava uma nação, sendo que a cor negra, o povo alemão.
Outro elemento da criação é a “roda”, segundo Raul Lopes, “símbolo das regiões de origem dos colonos que vieram para a Colônia Imperial”. Tal se dá por ser usada regularmente na heráldica pela cidade de Mainz e região historicamente ligadas, localizadas na Renânia-Palatinado.
A origem da “roda de Mainz” é inconclusiva, permeada por várias hipóteses, como a visão do profeta Ezequiel “ olhei, eis que um vento tempestuoso vinha do Norte, e uma grande nuvem com fogo a revolver-se, e resplendor ao redor dela, e no meio disto, uma coisa como metal brilhante, que saía do meio do fogo”; que remete-se ao Arcebispo Willigis fomentador da construção da Catedral de São Martinho em Mainz, cujo pai era um fabricante de rodas; ou ainda, ao cristograma XP (Chi-Ro) na roda, até mesmo, ao deus do sol celta.
Raul Lopes, associado titular do IHP, dedicou-se incessantemente ao trabalho de divulgação da instituição. Por longo tempo, foi o editor responsável pela coluna na Tribuna de Petrópolis e pelo Boletim Informativo. O confrade Joaquim Eloy dos Santos o descreve como um artista, detentor de uma criatividade ilimitada, “sensível, observador, minucioso” e completou:
experimentou passagens memoráveis em sua vida e em cada momento aprendeu e aprimorou seu saber e sua arte. No jornal Tribuna da Imprensa, onde trabalhou com Carlos Lacerda, Stefan Baciu, Cavaca e outros luminares do jornalismo brasileiro, apurou seu gosto pela criação gráfica e aprendeu as primeiras lições de fotografia. Quando chegou a Petrópolis, sua bagagem artística e cultural foi deitada às artes gráficas nas Vozes de Petrópolis. Apaixonou-se pela fotografia, tornando-se um dos melhores e mais procurados e respeitados de Petrópolis, abrindo atelier onde realizava todas as etapas da esplendida arte.
(Iluminador da Vida. Tribuna de Petrópolis, 12 e 15/09/2010).
A Carta de São Paulo produzida em maio de 1982 durante o 28º Congresso Mundial de Propaganda no Brasil declara que “A propaganda é uma força que estimula as pessoas a participarem dos frutos do progresso e do desenvolvimento”. E foi o que se deu com o I Festival Germânico! O escudo criado por Raul Lopes e as significativas peças publicitárias: anúncios da programação publicados em diversas edições do jornal Tribuna de Petrópolis; distribuição de panfletos impressos; canecos de cerâmica, camisetas e plásticos adesivos, motivaram os descendentes dos colonos germânicos e o povo de Petrópolis a participarem da festa embrionária que deu os frutos ora colhidos.
Referências
Argon, Maria de Fátima Moraes & Plum, Marisa Guadalupe Cardoso. O papel do Instituto Histórico de Petrópolis no I Festival Germânico, em 1982. Disponível em:http://ihp.org.br/?p=8145. Acesso em: 15 jun. 2022.
Malanga, Eugênio. Publicidade: uma introdução. São Paulo: Atlas, 1979.
Marcondes, Pyr. Uma História da Propaganda Brasileira. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.
Muniz, Eloá. Publicidade e propaganda. Origens históricas. Disponível em:https://www.eloamuniz.com.br/arquivos/1188171156.pdf. Acesso em: 30 maio 2022.
Sandmann, Antônio. A linguagem da propaganda. São Paulo: Contexto, 1993.