‘Hachiko’ é um filme de emoções e muitas lágrimas

21/jul 18:28
Por Luiz Zanin Oricchio, especial para o Estadão / Estadão

Hachiko é uma instituição nacional japonesa, com vocação universal. A história do cão que esperou por dez anos a volta do seu dono, já falecido, se tornou poderoso símbolo de devoção e fidelidade que, por contraste, tende a prosperar neste mundo construído em torno do culto a si mesmo e desprezo pelos outros.

A história, verdadeira, passou-se nos anos 1920. No Japão, ergueram uma estátua ao cão da raça Akita em frente à estação de trem onde ele esperava diariamente pela chegada do seu dono, um professor universitário. Inspirou livros e mangás, e um primeiro filme, de 1987, com direção de Seijiro Koyama, foi sucesso não apenas no Japão mas no exterior.

O roteiro é assinado pelo grande escritor e cineasta Kaneto Shindô (de A Ilha Nua e Onibaba), que imprime certo caráter social à obra, com a amizade desinteressada do animal contrastando com a frieza de uma sociedade de ares polidos, porém pouco solidária.

Houve depois uma versão norte-americana, de 2009, do sueco Lasse Hallström (de Minha Vida de Cachorro e Gilbert Grape), estrelada por Richard Gere na parte humana, intitulada Sempre ao Seu Lado. Está disponível nas plataformas de streaming Prime Video e Globoplay.

A versão que chegou na quinta, 18, ao circuito é chinesa, dirigida por Ang Xu. A base da história continua a mesma. Um professor de meia-idade, Chen (Feng Xiaogang), numa viagem com colegas, encontra e se apaixona por um filhote de cão abandonado. Como a mulher do professor é traumatizada com cachorros, por ter sido mordida na infância, Chen introduz o filhote em casa de maneira clandestina. Até que as gracinhas do animal acabam por vencer as resistências iniciais.

Não se exige qualquer esforço de interpretação para filme tão simples e ostensivamente destinado ao grande público, em qualquer latitude ou longitude. Em um mundo conturbado e complexo como o nosso, o procedimento é não quebrar o encanto com complicações inúteis.

As cenas alternam-se entre o cotidiano do professor e sua família, e as fofuras e habilidades do cão – um verdadeiro prodígio que, todo dia, por exemplo, leva para casa um jornal comprado pelo professor numa banca em frente da estação do teleférico da cidade onde morava. Essa habilidade terá importância no desfecho emocional da história.

E o teleférico é quase outro personagem, pois no início a família, de visita à cidade, comenta que ele havia sido substituído pelas pontes e agora funcionava apenas como atração turística. No entanto, em seu tempo, o professor Chen o usava todo dia para lecionar no outro lado do rio.

FLASHBACK

Hachiko – Para Sempre é um filme modesto e honesto naquilo que promete e entrega ao espectador. Não apresenta qualquer dificuldade em criar empatia e sua única e simples variação de linearidade é a maneira como começa. A mulher, já de idade, e seus dois filhos adultos, visitam a cidade de onde se mudaram e, para sua surpresa, se deparam com um personagem que não viam havia muito tempo – adivinhem quem. O que se segue é um longo flashback destinado a contar o caso desde o início.

Hachiko, em qualquer das versões, é um filme de emoções e esse remake chinês não é diferente. Um espírito crítico mais exigente poderia fazer ressalvas a alguns excessos melodramáticos, em particular nas partes finais. Mas nem isso compromete o filme em seu diálogo fácil com o público, talvez pelo contrário. A experiência de quem viu os outros dois pode se reproduzir com o atual. Depoimentos desses espectadores falam em cascatas, mares e oceanos de lágrimas derramadas. Portanto, prepare a caixa de lencinhos de papel e também um bom estoque de água mineral para prevenir a desidratação.

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