Helena, filha de Camilla e Wesmair: alento e terapia

15/03/2021 08:02
Por Júlia Marques / Estadão

Para conquistar Camilla, Wesmair fez curso de escrita, colocou carta na caixinha do correio, virou poeta. De uma amizade apaixonada, achou uma brecha para pedir a moça em namoro. Meses depois, o namoro virou casamento. Demorou sete anos até que Camilla, enfim, engravidasse.

O resultado do teste de farmácia veio em 17 de março de 2020 – dia do aniversário de 31 anos de Camilla Graciano. A pandemia estava apenas começando no Brasil e o casal vivia um “lapso de felicidade”. Tinham casa reformada, em Anápolis (GO), tinham carro. A sogra havia melhorado de um câncer grave, Camilla ganhava novos trabalhos e Helena estava por vir.

“Essa felicidade intensa se transformou em uma calamidade”, conta Wesmair Graciano, de 36 anos. Em agosto, aos 7 meses de gravidez, Camilla, professora de Língua Portuguesa, foi chamada para uma reunião presencial de planejamento. “Aproveitaram para fazer um chá de fraldas e ficou aquela situação. Se não fosse, ficava ruim.”

Na reunião, diz Wesmair, havia alguém que não sabia que estava contaminado. Dias depois, Camilla apresentou sintomas: dor no peito, febre. No hospital, o quadro piorou, o parto foi antecipado e Camilla, entubada. “Meu mundo despencou. Meu coração foi rasgado e ouvir que iam sedar e entubar a Camilla foi complicadíssimo.”

Helena nasceu bem. Wesmair lembra de ver a bebê deixando o bloco cirúrgico, linda, chorando forte. Camilla reagiu nos primeiros dias de entubação, mas, na manhã de 22 de agosto, um sábado, não resistiu. “Foi muito agressiva a forma como tudo aconteceu.”

Wesmair e Helena, recém-nascida, se mudaram para a casa dos sogros. No mês passado, a sogra – mãe de Camilla e quem ajudava a cuidar de Helena – morreu de câncer.

A sequência de dores, “até os ossos”, só ganha alívio com o sorriso da filha. Há dias em que ele sente que parece que a menina se mexe de propósito no berço para forçá-lo a se levantar da cama. Com apoio de terapia, quer transformar a história da mulher em um livro para Helena e reunir poesias e crônicas que Camilla escrevia em uma antologia.

Das notícias da covid-19, prefere se afastar para não atualizar o luto. Pastor evangélico, diz que vive um dia de cada vez e acredita no reencontro com a mulher, em algum momento. “Espero conversar com ela e poder falar: ‘Você deixou uma menina incrível lá. E eu cuidei com muito carinho. Ela se transformou em uma moça de bem e linda. Mais linda até do que você’.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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