Holofotes sem combustível

27/03/2018 12:00

Sem procurar, encontrei uma curta reportagem de 1.8.14, sobre Adriana Calcanhotto e seu “debate com Charles Peixoto, na FLIP daquele ano, sobre a “expansão da forma poética”. Mesmo dizendo não ter grande conhecimento do assunto, como seu oponente, declarou que o “haicai” seria “uma centenária forma poética japonesa, mas praticamente um produto brasileiro” e acrescentou “ser a forma fixa de poesia mais praticada hoje no Brasil, mais usada que o soneto do século 19”. – Cruzes! O que será que ela conhecia do assunto? 

É enveredar por seara alheia a procura de brilho sem levar purpurina. Somente quem verseja e viceja no meio poético – não na mídia perniciosa – para generalizar, deve saber que a poesia metrificada mais em evidência em todo o país é a trova, seguida do soneto, sendo o haicai um apêndice por demais complexo, deturpado pela “eterna criatividade” tupiniquim. Raras são as pessoas que alcançam o sentido subjetivo do haicai original, que é composto de 5-7-5 sílabas métricas, já que na língua japonesa não existem sílabas gramaticais e o poema é composto de uma imagem fotográfica, alusiva sempre a uma das quatro estações do ano. Sair de suas regras originais é agredir a cultura milenar japonesa e, se querem modificá-lo, mudem o nome mas não agridam o estilo tradicional, como não podem os ditos “intelectuais” modernistas fugir das regras pré-estabelecidas do soneto como pretendeu o poeta Augusto Frederico Schmidt em seu livro “Sonetos” e que, como afirmou Vasco de Castro Lima, uma das maiores autoridades no assunto – “pode ter 14 versos e ser um belo poema, mas nunca um soneto clássico”. 

Calcanhotto não deve conhecer nada de métrica como a maioria dos poetas atuais, detalhe que no meu tempo aprendia-se no ginásio. Não conheço os trabalhos dos poetas citados mas não creio que espelhem o verdadeiro estilo, por serem modernistas, uma vez que o único que li de Drumond tinha 5-14-5 sílabas; de Leminski são muito criativos mas sem métrica e sílabas exigidas, portanto, simples poemetos. Já, Millôr, com sua verve afiada e jocosa, levava tudo na galhofa, não é referência, como quando escreveu o poema – “Lá vem a lua nascendo / redonda como um tamanco / quem foi que disse, morena / que caranguejo não tem pescoço.”

Conforme Frederico Trotta: ”Em todos os tempos foi a publicidade que fixou renomes. Na literatura coube aos críticos forçar a entrada na fama de muitos valores secundários e ignorar talentos de real grandeza” – o que se encaixa na cantora, inclusive, que pretendia gravar um CD de Lupicínio Rodrigues com um toque de “rock e funk” o que seria um perfeito latrocínio musical – “roubar a beleza das melodias e assassinar o enlevo das letras”.

jrobertogullino@gmail.com



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