Ibovespa reflete cautela e cai 0,33%, aos 124,7 mil pontos

24/abr 17:54
Por Luís Eduardo Leal / Estadão

O Ibovespa seguiu em baixa, sem conseguir acompanhar a virada pontual dos índices de ações em Nova York ao positivo no meio da tarde desta quarta-feira, em dia de retomada da pressão sobre os rendimentos dos Treasuries após nova leitura, acima do esperado, sobre dados americanos, desta vez referentes a encomendas de bens duráveis. Assim, o índice da B3 caiu 0,33%, aos 124.740,69 pontos, com giro a R$ 20,1 bilhões. Na semana, o Ibovespa recua 0,31% e, no mês, cede 2,63% – no ano, perde 7,04%.

Em leve baixa pelo segundo dia, o índice oscilou de 124.555,92 (-0,47%) a 125.472,55, saindo de abertura a 125.149,18 na sessão. O dia foi moderadamente negativo para as ações de maior peso no Ibovespa, à exceção de Vale (ON +1,24%), que divulgará o balanço do primeiro trimestre após o fechamento da B3, nesta noite. As ações de grandes bancos mostraram sinal misto no encerramento, entre -0,44% (Itaú PN) e +0,11% (Santander Unit). O dia foi levemente negativo para Petrobras (ON -0,44%, PN -0,46%), com o petróleo ainda se ajustando à relativa distensão geopolítica no Oriente Médio.

Na ponta ganhadora, destaque para PetroReconcavo (+4,74%), Iguatemi (+2,10%) e Pão de Açúcar (+1,81%). No lado oposto, Petz (-9,51%), Casas Bahia (-4,86%) e Vamos (-4,11%). No fechamento, os índices de Nova York não conseguiram manter o fôlego de recuperação: Dow Jones -0,11%, S&P 500 +0,02% e Nasdaq +0,10%.

A sessão foi marcada por retomada na trajetória de alta dos rendimentos dos Treasuries e, por consequência, na curva de juros no Brasil, com os investidores à espera, ainda nesta semana, de novos dados de peso sobre a economia americana, como a leitura preliminar sobre o PIB do primeiro trimestre e o PCE, métrica de inflação ao consumidor acompanhada de perto pelo Federal Reserve, o BC americano. Na agenda desta quarta-feira, as encomendas de bens duráveis nos Estados Unidos mostraram alta de 2,6% em março, na margem, acima da expectativa de consenso, que indicava avanço de 2% no mês.

“O dia foi de ganho global para o dólar, o que favoreceu nova correção, leve, para o Ibovespa, com os bancos, em parte da sessão, alinhando-se entre as maiores quedas considerando as ações de maior liquidez após as falas do diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo”, diz Alex Carvalho, analista da CM Capital.

Na avaliação da Fitch Ratings, os bancos brasileiros enfrentarão contínuos ventos contrários nas receitas devido a novos cortes nas taxas de juros em 2024, reporta a jornalista Marcia Furlan, do Broadcast. O ritmo e a magnitude desses cortes ainda são incertos, mas o aumento das margens líquidas no curto prazo será equilibrado com empréstimos de menor rendimento e crescimento modesto do crédito real, acrescenta a agência de classificação de risco de crédito.

Para Carvalho, da CM Capital, os comentários de Galípolo, nesta quarta-feira, contribuíram para reforçar dúvidas sobre os juros, no sentido de que, ante as incertezas globais e domésticas, o Copom pode optar por ritmo menor, em ciclo possivelmente mais curto, de ajuste na Selic até o fim do ano – especialmente se forem consideradas as mais recentes falas do presidente do BC, Roberto Campos Neto, lidas como ‘hawkish’, duras, pelo mercado.

Em evento em São Paulo nesta manhã, Galípolo defendeu que o BC mantenha “parcimônia e serenidade” e evite reagir muito rapidamente a variações nos preços dos ativos, ainda que atrase um pouco a sua “função de reação”. “Acho importante a gente ter calma, entender como isso vai se desenrolar o processo de reprecificação de ativos, tendo em vista os juros nos EUA, ainda que o risco que você esteja correndo seja o de estar um pouco mais atrasado nesse processo de função de reação”, apontou Galípolo, em comentários considerados suaves, ‘dovish’.

“A gente não tem meta de diferencial de juros e não tem meta de taxa de câmbio, a gente tem meta de inflação, que vem se comportando bem”, observou o diretor do BC, citando a surpresa positiva no IPCA de março. Mesmo com juro alto e atividade resiliente, há um processo de desinflação global ainda em curso, acrescentou.

“A probabilidade de manutenção dos juros nos Estados Unidos nos patamares atuais por mais tempo e a tendência de alta do índice DXY que contrapõe o dólar a referências como euro, iene e libra tornam o cenário mais desafiador”, diz Inácio Alves, analista da Melver, destacando também fala de Mario Felisberto, executivo-chefe de investimentos (CIO) da Santander Asset, de que possível postergação dos cortes de juros pelo Federal Reserve deixa o mercado mais cauteloso, à espera de “redução das incertezas para tomar decisões com menos riscos”.

“Os investidores têm demonstrado cautela a partir da alta na expectativa de inflação no Brasil para 2025 e para o PIB em 2024 no Boletim Focus desta semana, de olho agora no IPCA-15 e no PCE de março nos EUA, a serem divulgados na sexta-feira”, diz Jaqueline Kist, sócia da Matriz Capital.

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