Ibovespa renova piso do ano pela 10ª vez, ao cair 0,31%, aos 119,5 mil pontos

13/jun 17:52
Por Luís Eduardo Leal / Estadão

Vindo de perda de 1,40% na quarta-feira, quando em Nova York tanto o S&P 500 como o Nasdaq já voltavam a renovar máximas históricas de fechamento, o Ibovespa se manteve na defensiva nesta quinta-feira, 13, mesmo com a relativa descompressão observada no câmbio e na curva de juros doméstica. O índice da B3 permaneceu agarrado à linha d’água em boa parte da sessão, e encerrou abaixo dela, em retração de 0,31%, aos 119.567,53 pontos. Estendeu, assim, a série negativa que o coloca agora na décima renovação de mínima de encerramento no ano desde 28 de maio, em intervalo de 12 sessões – no qual subiu em apenas duas.

Após o reforço de giro na quarta com o vencimento de opções sobre o Ibovespa, o volume financeiro desta quinta-feira caiu para R$ 18,4 bilhões. Na semana, o índice da B3 recua 0,99%, colocando as perdas do mês a 2,07% e as do ano a 10,89%. Nesta quinta-feira, oscilou entre mínima de 119.170,66 e máxima de 120.222,24, saindo de abertura aos 119.936,02 pontos. Em Nova York, o quadro é distinto, com o S&P 500 em alta de 2,96% e o Nasdaq, de 5,57%, nesta primeira metade de junho.

No começo da tarde, os ativos domésticos voltaram a esboçar volatilidade durante nova fala do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre controle de gastos, mas desta vez os comentários resultaram em mínimas da sessão para os juros futuros e o dólar frente ao real. Em entrevista ao lado da ministra do Planejamento, Simone Tebet, Haddad disse estar em curso uma intensificação dos trabalhos na agenda de revisão de gastos, para que se apresente orçamento para 2025 estruturalmente “bem montado” – e que assegure “tranquilidade” no endereçamento das questões fiscais.

Ele disse também esperar que até o final de junho haja “clareza” no que diz respeito às despesas, na peça orçamentária do próximo ano, reportam de Brasília as jornalistas Amanda Pupo e Giordanna Neves, do Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

“Ainda falta ver o que virá de fato do lado do governo no sentido de responsabilidade fiscal e controle de gastos, mas a fala de Haddad deu uma ajuda hoje, especialmente no câmbio e na curva de juros, depois do estresse, ontem, a partir das palavras do presidente Lula sobre ‘arrumar a casa’ e ‘colocar as contas em ordem'”, que não convenceram muito, observa Gustavo Harada, chefe da mesa de renda variável da Blackbird Investimentos, acrescentando que, abaixo do suporte de 119,3 mil pontos, o Ibovespa pode vir a buscar os 115,6 mil pontos, na ausência de catalisadores que se contraponham à correção em curso.

Harada considera que o câmbio deve permanecer na faixa de R$ 5,35 a R$ 5,37 por algum tempo, refletindo não apenas a incerteza fiscal doméstica como também a chance de que o Federal Reserve promova apenas um corte de juros este ano – e possivelmente apenas na última reunião de 2024, em dezembro. “Há um contexto, interno e externo, que tem favorecido a retirada de recursos estrangeiros da Bolsa brasileira ao longo do ano. Os múltiplos das empresas – que, em geral, apresentaram bons resultados no primeiro trimestre – permanecem muito baixos, mas ainda assim não há atração de investimento de fora para essas ações”, acrescenta.

“Hoje foi mais um dia em que o Ibovespa teve muita dificuldade de emular, minimamente, o que tem acontecido nos Estados Unidos nos índices de Nova York, em renovação de máximas históricas no Nasdaq e no S&P 500, ontem como hoje também”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, mencionando dados de inflação recente mais baixos nos Estados Unidos, com o tom ainda hawkish (duro) do Federal Reserve, na quarta, tendo ficado dentro do que o mercado esperava.

Na B3, as ações cíclicas, mais sensíveis aos custos de crédito, continuam a sofrer mesmo com a curva de juros doméstica tendo devolvido, nesta quinta, parte dos excessos do dia anterior, observa Spiess. “O Brasil está às voltas com os próprios demônios, os seus próprios problemas, e dessa forma não consegue replicar o que se deu em novembro ou dezembro do ano passado”, diz o analista. No fim de 2023, o mercado local acompanhou o entusiasmo externo em torno da expectativa, então, de cortes acentuados de juros do Federal Reserve para 2024 – o que não veio a se confirmar, mas colocou o Ibovespa em máximas históricas.

Nesta quinta, a ação de maior peso no Ibovespa, Vale ON, que ainda acumula perda de 3,75% no mês e de 17,67% no ano – em decorrência, em especial, da perspectiva para a demanda chinesa, que afeta diretamente o preço do minério de ferro -, conseguiu subir 1,15%, ainda negativa para Petrobras ON (-1,31%) e PN (-1,01%). Mesmo com o minério em alta de 0,93% em Dalian (China), o fechamento foi negativo para outros nomes do setor metálico, como CSN (ON -0,08%) e Gerdau (PN -0,23%).

Entre os grandes bancos, a sessão foi mista, entre perda de 1,05% (Itaú PN, na mínima do dia no encerramento, a R$ 31,17) e ganho de 0,68% (BB ON). Na ponta do Ibovespa, destaque para Raízen (+4,87%), Pão de Açúcar (+3,45%) e CSN Mineração (+3,31%). No lado oposto, MRV (-4,48%), Vamos (-4,43%) e Petz (-3,43%).

“A dúvida do mercado gira em torno da capacidade do governo de entregar as metas determinadas pelo arcabouço fiscal, que vem perdendo credibilidade com as alterações do último mês, e também com a dificuldade de aprovação, no Congresso, das medidas de aumento de arrecadação”, diz Jaqueline Kist, sócia da Matriz Capital. “Enquanto Haddad anuncia hoje revisão ‘ampla, geral e irrestrita’ nas despesas, alinhando-se às cobranças do mercado por contenção de gastos, o Senado também divulga a preparação de novo projeto para compensar a desoneração da folha pelo lado da arrecadação”, acrescenta.

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