(I)Mobilidade urbana: falta de investimentos atrasa viagens e prejudica usuários do transporte público

25/06/2019 09:10

A falta de planejamento em mobilidade urbana torna o trânsito na cidade cada dia mais caótico. Com uma frota de quase 174 mil carros, o transporte individual virou prioridade enquanto o coletivo recebe pouco ou quase nada de investimentos. Para o usuário do transporte público, as horas perdidas dentro dos ônibus no trajeto entre a casa e o trabalho é quase um calvário. Segundo dados do Sindicato das Empresas de Transportes Público de Petrópolis (Setranspetro), nos últimos 10 anos a velocidade média dos coletivos caiu por conta dos congestionamentos, passando dos 19 km/h para 12 km/h.

“Se eu não perdesse tanto tempo dentro do ônibus daria para fazer tanta coisa quando chegasse em casa. Seria um adianto na minha vida”, lamentou a assistente de Recursos Humanos Ângela Garcia, de 45 anos. Ela mora no distrito de Pedro do Rio e percorre todos os dias os cerca de 28 quilômetros entre a sua casa o seu trabalho, na Rua 16 de Março, no Centro. Ângela conta que a viagem dura quase três horas. Por dia, são cerca de seis horas dentro do coletivo. 

“É muito tempo perdido. Saio do meu trabalho às 18h e chego em casa por volta das 21h. Procuro pegar sempre o ônibus executivo, que vai mais rápido, mas mesmo assim são horas presa em engarrafamentos. Chego em casa e só tenho tempo de ensinar a lição para o meu sobrinho dormir. É muito cansativo”, contou. Para ela, é preciso investir na malha viária, melhorando as condições das ruas e aumentando os horários dos ônibus. “O executivo sai a cada 40 minutos. Deveria ter mais oferta. É muito tempo sem transporte”, disse.

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Para o diretor da empresa Cidade das Hortênsias, Carlos Salvini, é preciso priorizar o transporte coletivo e desenvolver projetos e intervenções que vão dar mais agilidade. “Corredores exclusivos de ônibus são fundamentais. Os coletivos ficam horas parados em congestionamentos disputando lugar com carros, motos, caminhões. Se existissem, em alguns pontos da cidade, faixas exclusivas para os ônibus teríamos muitos agilidade para atender aos usuários”, comentou.

O diretor cita pontos críticos como as ruas Montecaseros, Quissamã, Barão do Rio Branco, 13 de Maio, Bonsucesso, Retiro e Carangola, que deveriam receber atenção especial do poder público. “É preciso um trabalho sério, acompanhado por técnicos, para resolver esses pontos de retenção. Dá para melhorar bastante com intervenções sérias e pensando no transporte público. Um ônibus transporta em torno de 50 pessoas, enquanto um carro leva no máximo quatro. Às vezes transporta apenas uma pessoa. A prioridade tem que ser outra”, ressaltou.

De acordo com Gilmar de Oliveira, Doutor em Engenharia de Transportes, atualmente os veículos nas principais regiões do país estão circulando a 13 Km/h, quando a velocidade ideal seria de 20 a 25 km/h. Ele também acredita que a solução é priorizar o transporte coletivo. “Isso resulta em uma série de prejuízos, que vão desde a colocação de mais linhas para evitar que os passageiros fiquem esperando por tempo indeterminado em uma fila, até a procura por um serviço alternativo, resultando em menor quantidade de passageiros pagantes, aumento da tarifa e prejuízo exacerbado para o setor – problemas esses que poderiam ser facilmente resolvidos com políticas voltadas ao transporte coletivo em detrimento do individual, como, por exemplo, a implantação de corredores exclusivos para ônibus”, pontuou.

Trajeto entre o Terminal de Itaipava a Rua Paulo Barbosa é feito em quase duas horas

De acordo com dados do Sindicato das Empresas de Transportes Público de Petrópolis (Setranspetro), levantados por meio do sistema de monitoramento por GPS, o trajeto entre o Terminal de Itaipava até a Rua Paulo Barbosa, no Centro, em horário de pico, é feito em quase duas horas. Por conta dos congestionamentos, a empresa Turb Petrópolis (responsável pela linha) que realiza 2.197 viagens diariamente, perdeu, entre janeiro e maio, 2.166 viagens. 

No trecho entre o Bingen e a Mosela, a situação também é crítica: o trajeto é percorrido em 40 minutos (ou até mais de uma hora) em horários considerados críticos pela empresa Cidade Real (responsável pelas linhas que atendem a região) – 7h às 9h; 12h às 13h; e 17h às 19h.

Segundo a empresa Cidade das Hortênsias, durante os congestionamentos, o trecho da Avenida Ipiranga é percorrido em 21 minutos. Em horários normais, o ônibus faz o trajeto em sete minutos. A empresa aponta o estacionamento irregular, caminhões que realizam entregas fora de seu horário convencional e obras como alguns dos principais problemas no trânsito. 

O Setranspetro informou que a empresa Cidade das Hortênsias realiza 1.533 viagens em dias úteis, 1.377 aos sábados e 850 aos feriados. De acordo com levantamento realizado no período de 1º a 20 de maio, foram perdidas 227 viagens por conta do trânsito no Quissamã. No mesmo período do ano passado, foram perdidas 36.

“Para o Setranspetro, hoje é essencial o fortalecimento da fiscalização do órgão público gestor – a CPTrans. É preciso que tenha controle mais rigoroso e disciplinador dos estacionamentos irregulares, imprudências no trânsito e rigidez às práticas voltadas ao transporte clandestino. Também precisamos com urgência de melhorias nas condições de infraestrutura e qualidade viária de diversas regiões, principalmente nos bairros. Para que o sistema seja eficiente, é imprescindível que todos pensem na questão da Mobilidade Urbana, como foi pensado para o planejamento da Bauernfest deste ano, quando o trânsito não sofreu grandes impactos”, pontuou Carla Rivetti, gerente do Setranspetro.

Plano de Mobilidade Urbana conta com mais de 180 projetos e ações para melhorar o trânsito

Com mais de 180 projetos para os cinco distritos do município, o Plano de Mobilidade Urbana, estabelecido por decreto municipal, prevê 25 obras de infraestrutura viária; sete ações voltadas à segurança viária; 12 relacionadas à fiscalização; 33 ao sistema de transporte público de passageiros; 10 ao transporte de cargas; oito adequações e/implementação de legislações, entre outras propostas. Entre os projetos de curto prazo, o chamado ‘Zona 30’ é um dos previstos para ser efetivado nos próximos meses. Ele consiste na mudança da velocidade no Centro Histórico para 30 Km/h, contemplando toda a área tombada, as escolas, clínicas médicas e, claro, o número de pedestres que utilizam o centro – considerando que 192.013 pessoas, ou 62,8% da população vive nesta área. Para a Prefeitura, a redução da velocidade média dá à população mais segurança.

“O Setranspetro está muito otimista e confiante no diálogo que está sendo estabelecido entre a CPTrans, Prefeitura e empresas de transporte, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento do Plano de Mobilidade do Município, com projetos de otimização e troncalização de alguns bairros e regiões. Isso vai tornar as viagens mais regulares e rápidas para os passageiros do transporte”, disse Carla Rivetti, gerente do Setranspetro. 

O Plano de Mobilidade Urbana está disponível no site da Companhia Petropolitana de Trânsito, no link: www.petropolis.rj.gov.br/CPTrans.

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