Influenciados pelos pais, garotos torcem por Manchester City e Chelsea na final

29/05/2021 08:00
Por João Prata / Estadão

Quis o destino que o filho do bombeiro militar Leandro Guedes nascesse em 24 de abril de 2012. A esposa estava para dar a luz no hospital e o pai com um olho no parto e outro na TV da sala de espera. Chelsea e Barcelona jogavam pela semifinal da Liga dos Campeões. Num dos jogos mais emocionantes de sua história, o time inglês buscou o empate por 2 a 2 nos acréscimos e garantiu vaga na final – na decisão, venceriam o Bayern de Munique, nos pênaltis, e garantiriam a taça inédita. A criança foi registrada Leandro Lampard, em homenagem ao camisa 8 dos Blues.

O acaso também fez com que uns anos antes, em 2009, o engenheiro Guilherme Rodrigues se casasse com a irmã do fundador da torcida do Manchester City no Brasil. Ele começou a dar uma força para o cunhado e quando foi ver, em 2015, seu filho estava entrando em campo no Etihad Stadium, de mãos dadas com o então capitão do time Yaya Touré.

Leandro e Guilherme neste sábado estão em lados opostos na decisão da Liga dos Campeões. Em comum, são cariocas, ainda vivem no Rio de Janeiro, e conseguiram transmitir essa paixão pelos times ingleses aos filhos. Apesar da distância, ambos são sócios-torcedores das respectivas equipes e já tiveram a oportunidade de torcer para o time estrangeiro de coração in loco. Ambos são vascaínos, sem muito ânimo. Os times que realmente mobilizam a família para torcer e acompanhar o dia a dia são os ingleses. Com a família uniformizada, farão das suas casas arquibancadas neste sábado na expectativa de gritar ‘é campeão’.

A paixão de Leandro pelo Chelsea começou há mais de 20 anos. O videogame foi o pontapé inicial. Do mundo virtual, passou a acompanhar o clube. Chamou a atenção a organização da equipe e como crescia de produção ano a ano. Também ajudou quando em 2001 a diretoria optou pela contratação do meia Lampard. “Acompanho desde que ele veio do West Ham. Vi a trajetória toda, acompanhei a carreira bem de perto, desde quando entrava nos jogos até se tornar titular absoluto. Para mim é um dos maiores jogadores. Por tudo: caráter, por ser profissional, nunca vi nenhum jogador assim.”

O carinho pelo jogador foi passado para o filho na certidão de nascimento. “Queria eternizar o Chelsea na minha vida. Não era planejamento da minha esposa. Mas depois daquela vitória histórica em cima do Barcelona, ela aceitou o Lampard desde que colocasse Leandro antes”, disse ao Estadão.

Esse acontecimento, de certa maneira, transformou sua vida. Quando a seleção da Inglaterra veio ao Brasil para a reinauguração do Maracanã, Leandro contou com o apoio de jornalistas para tentar armar um encontro dele com o ídolo maior. Leandro foi ao estádio, mas não conseguiu chegar até o xará de seu filho.

Ele visitou também Londres, foi ver jogos do Chelsea, mas nada. Veio então a Copa do Mundo no Brasil e mais uma oportunidade. “Mas o padrão Fifa é terrível, né? Impossível chegar perto dos jogadores”, reclamou. Leandro conseguiu com uma repórter inglesa o contato do assessor de imprensa da Inglaterra. O time de Lampard iria jogar em São Paulo contra o Uruguai. O torcedor fanático foi à capital paulista.

“Ele me recebeu no hotel, na concentração. Teve carinho enorme com minha família, meu filho. Me deu a camisa que jogou contra a Costa Rica, autografada”, lembrou. E não foi a única. Leandro ganhou outras duas camisas do Chelsea. Todas estão emolduradas na sala, a área vip do clube inglês em sua casa.

A laje no andar de cima é a arquibancada, repleta de lembranças por todos os lados. As paredes são apinhadas de imagens de jogadores, flâmulas, bandeiras, camisas e réplicas de troféus. O local foi batizado pelos torcedores brasileiros de Terraço Stamford Bridge, em referência ao nome do estádio inglês. É lá que ele vai assistir a decisão.

O TORCEDOR DO CITY – Guilherme, o filho Gabriel, hoje com 14 anos, a filha Celina, 4 anos e a esposa Cíntia também vão estar uniformizados para ver a final. Só que a camisa autografada pelos jogadores do Manchester City que o filho Gabriel ganhou em 2015 ficou curta. Na época, eles já eram sócios do clube inglês. E o City promoveu um concurso para crianças que moravam fora da Europa. O vencedor ganharia passagem com acompanhante, conheceria toda estrutura do clube e entraria em campo de mãos dadas com o capitão da equipe.

“Foi demais. Depois disso o fanatismo cresceu. Participamos da torcida brasileira e todo ano ajudamos na renovação da carteirinha do grupo inteiro”, conta Guilherme.

Ao lado do cunhado, Guilherme ajuda na administração da torcida oficial pelo City. Eles possuem CNPJ, pagam taxas para o clube e possuem carteirinha que dá desconto na loja do clube e preferência na compra por ingresso. Hoje são 37 sócios-torcedores brasileiros do City. “Chegou a ter mais de 50. Nossa meta é bater 100 e se tornar o maior grupo de fora do Reino Unido.”

PALPITES – Guilherme vê o City como favorito ao título. Ele espera que seu ídolo De Bruyne faça mais uma grande apresentação e garanta uma vitória tranquila. “Vai ser 2 a 0 sem sofrimento. O City cresceu muito ao longo da temporada e chega agora em alta. É diferente dos outros anos quando caiu de produção na reta final.”

Leandro aposta em uma vitória apertada do Chelsea. “2 a 1. Se for sem sofrimento não é Chelsea”, profetizou. “Tem uma frase que eu tenho e já ficou conhecida até entre os jogadores. Soube que chegou lá pelo Willian (ex-jogador da equipe). A frase diz: Chelsea, sempre um prazer!”

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