Insegurança: agricultores temem trabalho na baixada após bala perdida que matou feirante

28/01/2018 08:00

Insegurança, medo, decepção e insatisfação. Esses são apenas alguns dos sentimentos que fazem parte da rotina dos produtores rurais de Petrópolis, que trabalham no Rio de Janeiro, com destaque para a Baixada Fluminense. No último dia 16 o feirante Augusto Medeiros de Souza, de 39 anos, morreu depois de ser atingido por um tiro no peito enquanto trabalhava no interior de um sacolão volante na Avenida Brasil, na Capital. Ele foi vítima de uma bala perdida depois que um policial, que estava de folga, reagiu a um arrastão dentro de um ônibus que passava pelo local. 

O produtor deixou um filho de dez anos e uma família numerosa de agricultores, além de triste, ainda mais insegura com relação ao futuro da profissão. Há anos dezenas de produtores do Caxambu e de outras localidades de Petrópolis participam de várias feiras livres na Baixada Fluminense, e atendem diversos bairros através dos sacolões volantes. Mas muitos já estudam formas de não atender mais essas regiões, ou simplesmente fazer com que os filhos sigam profissões que não têm relação com agricultura, um dos pilares da economia petropolitana. 

Maria Isabel de Fátima Pereira é prima do agricultor morto e faz parte do percentual de profissionais do ramo que só não parou de trabalhar no Rio de Janeiro por necessidade, e que incentivou as duas filhas a trilharem caminhos longe da agricultura. “Além de ser um trabalho árduo se tornou extremamente perigoso para pessoas como nós, que trabalham nas feiras no Rio de Janeiro. Desço com meu marido e uma das minhas filhas todos os sábados para fazer feira em Nova Iguaçu, e nos últimos anos precisamos adotar rotas diferentes, caso algum criminoso esteja nos vigiando, e estar sempre atentos tanto durante o percurso de ida e volta, quanto durante todo o trabalho”, contou desanimada. 

Ainda de acordo com a produtora o primo, que acabou morrendo após levar um tiro, não foi o primeiro agricultor do Caxambu baleado no Rio de Janeiro enquanto trabalhava. Além disso, há poucos meses o cunhado, que já foi assaltado quatro vezes, foi rendido por bandidos armados quando retornava de uma feira e ficou sob a mira dos criminosos até ser deixado em uma favela. Na ocasião a caminhonete, produção, dinheiro e outros pertences foram levados pelos suspeitos. Até hoje nada foi recuperado. Já a cunhada foi vítima de arrastão e teve a produção e pertences levados. 

“Minha filha de 23 anos hoje é enfermeira e trabalha em São Paulo. Já a mais nova, de 15 anos, apesar de adorar agricultura decidiu cursar educação física diante do quadro que vivemos hoje. Fico triaste em ver um trabalho que vinha passando de geração em geração morrer dessa forma, mas não quero que elas vivam o medo que vivo com meu marido ao sair de casa para trabalhar honestamente e passar o dia sem saber se chega em casa com vida”, disse entristecida. Maria Isabel acredita ainda que diante dessa situação o número de produtores rurais de Petrópolis, dentro de cerca de dez anos, será reduzido pela metade.

“É uma profissão que se ninguém fizer nada enquanto há tempo fatalmente morrerá. O filho do meu primo de apenas 10 anos estava passando as férias com o pai, e vivia para cima e para baixo aqui no Caxambu com ele se divertindo, falando para todos que essas estavam sendo as melhores férias dele. E de um dia para o outro perdeu o pai dessa maneira absurda. Um homem trabalhador que estava lutando pelo sustento da família, assim como nós”, contou. 

Em nota a polícia militar informou que o Batalhão de Policiamento em Vias Expressas e os batalhões que margeiam as vias realizam patrulhamento com viaturas e motos para coibir ações criminosas. Além disso o Comando Conjunto das Operações em Apoio ao Plano Nacional de Segurança Pública, fase Rio de Janeiro, estabelece postos de bloqueio, controle e fiscalização nos acessos às rodovias federais que cortam o Estado, incluindo trechos da Avenida Brasil e o Arco Metropolitano. O objetivo é contribuir para o combate ao contrabando de armas e drogas e, principalmente, para a diminuição dos índices de roubos de cargas. A operação vem sendo realizada desde a madrugada do dia 25 de janeiro, quinta-feira, com ações pontuais, inopinadas e de curta duração.

Integram a operação militares das Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica) e agentes da Polícia Rodoviária Federal e Força Nacional de Segurança Pública. As ações desencadeadas são coordenadas com a Secretaria de Estado de Segurança do Rio de Janeiro (SESEG).

Últimas